Com o subtítulo de “seu espírito, suas condições, seus métodos“, o livro apresenta uma síntese sobre a vida de estudos que muito diverge da ideia atual
Publicado originalmente em 1920, na França, pelo religioso (da Ordem dos Dominicanos) Antonin-Dalmace Sertillanges, A Vida Intelectual é um livro singular sob muitos aspectos. O primeiro deles é a lucidez — na acepção de visão integrada da realidade do tema, do objeto tratado — com que o autor discorre sobre os elementos fundamentais que compõem a vida de estudos; e sobre o propósito do esforço intelectual. O segundo aspecto do texto, que contrapõe a visão atual, constitui-se de uma informação quiçá assombrosa para o leitor moderno: a vida intelectual é para os vocacionados.
O leitor descobrirá (se esta resenha convencê-lo a ler o livro) que o autor, muito longe de fazer jus às possíveis acusações de preconceito, discriminação ou qualquer outra prática destoante descrita superficialmente por termos sinônimos a estes, explica a natureza objetiva da atividade intelectual. Não há preconceitos, há conceitos estabelecidos, completos e embasados na realidade. Sertillanges chama de vocacionado aquele que pretende fazer do trabalho intelectual sua vida. Este é o sujeito que dispõe de tempo integral para os estudos ou, comprometido com atividades profissionais, decide reservar para si, como um feliz complemento e uma recompensa, o profundo desenvolvimento da sua inteligência.
O intelectual não pertence, portanto, a uma classe de pessoas com qualidades — e direitos — especiais. Não. O leitor perceberá na prosa de Sertillanges o cuidado, o verdadeiro afeto com que o autor conduz o leitor à compreensão daquelas condições e métodos. No transcurso de uma leitura atenta a nobreza do objetivo do trabalho de Sertillanges revela-se: o livro é uma fundamental ajuda. Todos dotados de alma racional beneficiar-se-ão dele, porque o autor lança luz — não de forma direta, não se trata de um livro combativo — sobre as dúvidas que aprisionam o homem contemporâneo refém de uma sociedade para a qual a objetividade é um valor retrógrado, medieval, ultrapassado.
O vocacionado, isto é, aquele que fora chamado, precisa entender os princípios que regem a atividade humana voltada para a única coisa necessária. Graças ao esforço de um Padre francês dos anos 1920 (e dos tradutores Lilia Ledon da Silva, da É Realizações Editora; e Roberto Mallet, das Edições Kírion) o leitor brasileiro tem à sua disposição uma obra fundamental para o desenvolvimento objetivo da sua inteligência.
“Quem tropeça sem cair, dá um passo maior”.
A.-D. SERTILLANGES
A.-D. Sertillanges, A vida intelectual — Seu espírito, suas condições, seus métodos. São Paulo: É Realizações, 2010. Tradução de Lilia Ledon da Silva.
Esse conteúdo é exclusivo para assinantes da Revista Esmeril.