RESENHA丨O Antigo Regime e a Revolução

Vitor Marcolin
Vitor Marcolin
Ganhador do Prêmio de Incentivo à Publicação Literária -- Antologia 200 Anos de Independência (2022). Nesta coluna, caro leitor, você encontrará contos, crônicas, resenhas e ensaios sobre as minhas leituras da vida e de alguns livros. Escrevo sobre literatura, crítica literária, história e filosofia. Decidi, a fim de me diferenciar das outras colunas que pululam pelos rincões da Internet, ser sincero a ponto de escrever com o coração na mão. Acredito que a responsabilidade do Eu Substancial diante de Deus seja o norte do escritor sincero. Fiz desta realidade uma meta de vida. Convido-o a me acompanhar, sigamos juntos.

Nesta coletânea de ensaios, Alexis de Tocqueville debruça-se sobre as causas da Revolução Francesa

Os ensaios publicados por Alexis de Tocqueville sob o título de O Antigo Regime e a Revolução (L’Ancien Régime et la Révolution) são presença obrigatória na lista bibliográfica do status questionis sobre o tema. Para qualquer indivíduo minimamente interessado em estudar a gênese do Estado Moderno, estes ensaios, publicados em 1856, enriquecem a perspectiva dos acontecimentos com reflexões lúcidas, embasadas em pesquisas em fontes primárias.

O leitor descobrirá que, muito antes do estabelecimento definitivo (e desastroso) do Estado Moderno, o Antigo Regime já capengava. A principal característica do trabalho investigativo de Tocqueville é a honestidade intelectual, a preocupação em acessar, por meio de um esforço sincero, a verdade dos fatos. O autor demonstra que, muito antes do autoritarismo assassino da Revolução (poucas décadas antes de 1789), a monarquia francesa já colhia os frutos da centralização excessiva do poder.

Tocqueville teve acesso aos registros paroquiais (equivalentes aos registros municipais) das diversas regiões da França durante o Antigo Regime. Desde a primeira metade do século XVIII, pelo menos, os franceses já sentiam os efeitos da diminuição da autonomia das suas comunidades, das associações livres, das corporações de ofícios, das guildas, da vida comum nas vilas mais distantes. Durante o transcurso daquele século a coroa esforçou-se para tomar e manter o poder de decidir tudo.

O leitor perceberá que o autor concentra-se também nas relações sociais: a plebe, o clero e a nobreza. Tocqueville demonstra como a centralização excessiva do poder sob a coroa implicou na substituição das antigas (e altamente saudáveis) relações medievais entre o senhor e o servo por um corpo grotesco de relações artificias entre o povo e a burguesia. Esta, como demonstra o autor, tomou o lugar da aristocracia, da nobreza que mantinha com o povo laços perpétuos de fidelidade e de proteção.

É verdade que, sob o Antigo Regime, o homem comum tinha menos direitos na letra da lei; no entanto, este mesmo homem desfrutava de um nível objetivo de liberdade inimaginável para o citoyen do Estado Moderno. Toqueville demonstra que a Revolução oficializou o rompimento definitivo das relações naturais entre o governo e os governados que já se manifestara décadas antes do fatídico 1789. O Estado Moderno, essa hipocrisia institucionalizada, cresce na exata proporção dos “direitos” que ele jura defender. O autor de L’Ancien Régime et la Révolution soube capturar esta realidade.

Edição da Martins Fontes Editora. Fonte: Divulgação

Com informações de Tocqueville, Alexis, O Antigo Regime e a Revolução, Martins Fontes Editora, tradução de Rosemary Costhek Abílio, 1ª edição São Paulo 2009.


“O maior cuidado de um Governo deveria ser o de habituar, pouco a pouco, os povos a dele não precisar”.

Alexis de Tocqueville

Esse conteúdo é exclusivo para assinantes da Revista Esmeril.

Esmeril Editora e Cultura. Todos os direitos reservados. 2023

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Abertos

Últimos do Autor

CONTO丨Agenda

VITOR MARCOLIN | Quaresma