MURALHA DE LIVROS | Um antídoto contra o analfabetismo funcional

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Um antídoto contra o analfabetismo funcional marca os destaques desta Muralha, acompanhado de uma leitura literária densa e envolvente como dose de reforço para essa doença que assola o Brasil.

Ainda, três preciosos manuais: um sobre a qualidade do sono; um sobre honra e respeito; e um sobre como combater o wokismo. E mais: um clássico do Ultrarromantismo brasileiro e um novo volume das aventuras de um cachorrinho muito bagunceiro e querido.

Acompanhe os lançamentos a seguir, e um excelente final de semana!

Destaques

O grande destaque da semana, e um dos mais importantes deste ano, é um lançamento da Kírion: Contra o antiensino de língua portuguesa, de Kátia Simone Benedetti.

O conteúdo do livro já começa a se explicar por seu subtítulo: “a ciência neurocognitiva como antídoto para a falácia socioconstrutivista e seu efeito, o analfabetismo funcional”. De fato, todas as avaliações oficiais (IDEB, ANA, INAF e, sobretudo, PISA) atestam a incapacidade do ensino brasileiro de garantir os níveis de proficiência em leitura e escrita esperados para cada faixa etária. Ano após ano, os estudantes progridem na escolarização sem saber ler e escrever de modo eficaz, pois o ensino tornou-se incapaz de promover tais habilidades. Como a educação brasileira se tornou um antiensino e formadora de analfabetos funcionais? É o resultado de como os alunos são alfabetizados e da abordagem usada no ensino da língua portuguesa, que deixam de ensinar explicitamente as relações entre fala e escrita. Ao combater a apresentação estruturada do sistema de escrita, subentendendo que cada aluno era capaz por si só de construir o seu conhecimento, o movimento construtivista comprometeu o percurso de qualificação do ensino, em geral, e de alfabetização, em particular.

Diante dos péssimos resultados e da organização altamente contraprodutiva dos currículos e materiais didáticos, a autora de A falácia socioconstrutivista busca renovar a discussão sobre linguagem e cognição com as recentes descobertas das ciências cognitivas. Contra o antiensino da língua portuguesa não é um livro de polêmica ou um manual de gramática, mas busca apresentar um horizonte teórico-científico como fundamento para uma nova concepção de ensino da língua, abordagem esta baseada no pressuposto de que a forma é tão importante quanto os sentidos veiculados pela linguagem.

O outro destaque é um lançamento da Sétimo Selo: Os violentos o arrebatam, de Flannery O’Connor.

Obra-prima da literatura norte-americana, este romance nos transporta para a profunda e tensa relação entre fé e razão, explorando temas como destino, violência e a natureza da graça divina. Através da história de Francis Marion Tarwater, um jovem em busca de seu próprio caminho, somos confrontados com a força avassaladora da fé e com as consequências de tentar escapar do destino que nos é traçado.

Considerado a síntese da obra de O’Connor, Os violentos o arrebatam é uma leitura essencial para aqueles que apreciam uma narrativa rica em simbolismos, com personagens complexos e uma prosa visceral.

Outros lançamentos

Pela PHVox, O que é a cultura woke e como combatê-la, de Wellignton Sarti Jr. e Ubirajara Patrocínio.

Mais um livro que bate forte no wokismo – e eles nunca são demais –, esta obra tem como foco nosso presente, em que o valor de definições se perdeu, com a criação de um sem-número de “puxadinhos” dentro de definições tradicionais. Um exemplo bastante comum – é a ideia de “discurso de ódio”. Discurso de ódio passou a ser uma definição em si, extirpada da ideia de liberdade de expressão. Ou seja, você tem o direito de dizer o que quiser “desde que…”. Pronto. O caminho para o cerceamento da liberdade de expressão está aberto. Basta que alguém, qualquer um, passe a definir o que é e o que não é discurso de ódio.

O que os autores abordam em sua obra, portanto, é uma série de assuntos percebidos de maneira muito “grave” para algumas pessoas, mas que não são assim tão simples de se compreender e enfrentar. O livro é um verdadeiro manual que ensina como nos proteger e a nossos entes queridos dos efeitos altamente danosos que a cultura woke proporciona para a queles que são eventualmente cooptados por ela.

Pela Auster, A arte de obter respeito, de Arthur Schopenhauer.

A obra é um breve tratado sobre um sentimento bem conhecido (e desejado) por todos: a honra. Fundamental em todos os tempos e sociedades, a honra ou respeitabilidade é a opinião que os outros têm de nós — ou melhor dizendo, a opinião geral daqueles que nos conhecem. A arte de obter respeito ensina a proteger e a manter a honra e a reputação ao máximo, apesar das adversidades da vida.

Schopenhauer divide a honra em diferentes tipos (cívica, oficial, sexual e cavalheiresca) e a distingue do status e da fama. Seja para obter ou para manter uma boa reputação, este livro é um instrumento de sabedoria prática a respeito da honra que, nas palavras do autor, não pode ser perdida — caso contrário, não será restaurada.

Pela O Mínimo, O mínimo sobre dormir bem, do Dr. Eduardo Peccin.

O livro é uma verdadeira cartilha sobre a importância de um sono saudável, abordando como a busca constante por sucesso tem nos levado a negligenciar essa necessidade vital.

Dr. Peccin oferece estratégias acessíveis para restaurar o sono de qualidade, destacando práticas recomendadas para uma rotina equilibrada e dicas para evitar hábitos que sabotam nosso descanso.

Ao contrário de soluções temporárias, como o uso de medicamentos, este Mínimo vai direto à raiz do problema, propondo mudanças que realmente transformam a sua vida. Este livro é mais do que um simples manual sobre como dormir melhor — é um convite para uma vida mais equilibrada e saudável.

Pela UBIQ!, um clássico do Romantismo brasileiro, Noite na taverna, de Álvares de Azevedo, edição que ainda é acompanhada por uma seleção dos ditos “poemas malditos” do autor.

Morte, desilusões, revoltas, satanismo, angústia, pessimismo, sofrimento amoroso — estes são alguns dos temas que permeiam a poesia e a prosa do mestre da escrita ultrarromântica, e que fazem de Azevedo o mais maldito entre os poetas brasileiros.

Publicada postumamente, Noite na Taverna é a obra do romantismo brasileiro que mais se aproxima dos preceitos byronianos, num diálogo entre erotismo e morte. Numa narrativa que se aproxima do teatro, cinco amigos reunidos numa taverna narram desventuras macabras e revelações fantásticas de sua juventude num ambiente onírico e boêmio.

Os “Poemas Malditos” representam a segunda fase do autor; mais mórbidos, sarcásticos, e pessimistas: “duas almas que moram nas cavernas de um cérebro pouco mais ou menos de poeta escreveram este livro, verdadeira medalha de duas faces”. 

Para os pequenos, mais um volume do adorável Cachorro Caramelo, desta vez numa aventura das Arábias: Aladim e a Lâmpada Mágica, de Ulisses Trevisan, com ilustrações do artista Grillo.

Agora, no coração das Arábias, o nosso herói de quatro patas que já esteve na Grécia Antiga e acompanhou o descobrimento do Brasil se vê diante de uma grande e caramelhosa aventura: com Aladim ao seu lado, ele enfrentará perigos e desenterrará segredos, tudo para derrotar um feiticeiro com um plano maligno. Agora, Caramelo precisará recuperar uma lâmpada mágica para salvar o dia e provar, mais uma vez, que ninguém pode com os vira-latas!


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