MURALHA DE LIVROS | Última de Outubro

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Um romance sobre uma conspiração para eliminar o último obstáculo à implementação de um governo totalitário global; um livro que evidencia a minoria – propositalmente? – mais ignorada do mundo; história de horror do maior escritor das letras brasileiras; uma bem fundamentada análise sobre os malefícios da mentalidade coletivista; uma coletânea de artigos de um dos maiores pensadores do século XX; a reunião dos documentos Magisteriais de cinco Pontífices dos séculos XIX e XX sobre o matrimônio e a família; e a biografia e introdução aos estudos de um de um dos maiores filósofos e teólogos de todos os tempos. Assim está composta esta última Muralha de outubro.

Acompanha os lançamentos abaixo, e um ótimo final de semana!

Destaques

O grande destaque da semana é um lançamento da Sétimo Selo, O último Papa: um conspiração diabólica para destruir o Vaticano, de Malachi Martin.

Na trama, terminada a Guerra Fria, eclesiásticos, políticos e empresários se unem em um complô maçônico na tentativa de implantar um novo governo global, no qual a Igreja Católica se tornaria um mero e complacente servidor da Nova Ordem Mundial, aderindo a um catolicismo sem mais nenhum vínculo com a Tradição. Para tanto, os integrantes dessa conspiração precisam derrotar seu obstáculo final: o último Papa, um notável jogador geopolítico e profundamente fiel à doutrina e à moral católica. Cercado dentro do Vaticano e pressionado a abdicar por seus inimigos, o “Papa eslavo” terá de confiar em um jovem sacerdote para enfrentar a batalha decisiva na guerra contra o Mal.

Neste romance publicado originalmente em 1996 com o título Windswept House, Malachi Martin consegue capturar, do começo ao fim, o leitor com seu estilo envolvente numa narrativa que, embora ficcional, está “85% baseada em fatos reais”, como afirmou o próprio autor.

Confira abaixo um trecho do prólogo:

“Os diplomatas, forçados por tempos difíceis e pelas mais duras trilhas das finanças, do comércio e das rivalidades internacionais, não são muito dados a presságios. Ainda assim, suas perspectivas eram tão promissoras que seis ministros das relações exteriores, reunidos em Roma, em 25 de março de 1957, sentiam que tudo ao seu redor – a sólida centralidade da principal cidade da Europa, os ventos purificadores, o céu aberto, o clima do dia em seu sorriso benigno – era o próprio manto da bênção da Fortuna que os cobria enquanto lançavam a pedra fundamental de um novo arranjo para as nações.

Como sócios na criação de uma nova Europa, que varreria o violento nacionalismo que por tantas vezes havia dividido este antigo delta, esses seis homens e seus governos comungavam na fé de que seus países estavam prestes a se abrir para um mais amplo horizonte econômico e um céu político mais elevado do que jamais havia sido contemplado. Eles estavam prestes a assinar os tratados de Roma. Estavam prestes a criar a Comunidade Econômica Europeia.

Até onde chegava a memória recente, nada além de morte e destruição havia prosperado em suas capitais. Passara apenas um ano desse que os soviéticos haviam afirmado sua determinação expansionista com o sangue derramado na tentativa de levante na Hungria, e o exército soviético poderia invadir a Europa a qualquer momento. Ninguém esperava que os EUA e seu Plano Marshall carregassem para sempre o fardo da construção da nova Europa. Nenhum governo europeu queria ver-se atrelado à rivalidade entre os EUA e a URSS, que, nas próximas décadas, só poderia crescer.

Como já estivessem acostumados a agir dentro dessa realidade, todos os seus ministros assinaram como fundadores da CEE: os três representantes das nações do Benelux, porque Bélgica, Holanda e Luxemburgo tinham sido o próprio cadinho em que fora tentada a ideia de uma nova Europa e se havia comprovado que era certa, ou ao menos bastante certa; o ministro que representava a França, porque o seu país seria o coração pulsante da nova Europa, como sempre fora da velha Europa; o da Itália, porque seu país era a alma viva do continente; e o da Alemanha Ocidental, porque o mundo nunca mais deixaria o seu país de lado.”

O segundo destaque da semana é da Avis Rara, Judeus não contam, de David Baddiel, um livro adequado para este momento da história. Pessoas que lutam pelo bem combatem a homofobia, a deficiência, a transfobia e, principalmente, o racismo. A afirmação do comediante e escritor David Baddiel, porém, deixa claro que um tipo de racismo foi excluído dessa luta. Em sua combinação única de raciocínio, polêmica, experiência pessoal e humor, ele demonstra que aqueles que se consideram do lado certo da história muitas vezes ignoram a história do antissemitismo. Baddiel descreve por que e como, em uma época de intensa consciência das minorias, os judeus não contam como uma minoria real.

Nas palavras da jornalista Caitlin Moran:

“Em palavras rápidas, espirituosas e ocasionalmente furiosas, David Baddiel colocou em foco um dos pontos cegos mais controversos atualmente e expôs uma verdade indiscutível e vergonhosa: para muitos progressistas, de outra forma vociferantes em seu antirracismo, os judeus não contam. Está tudo exposto aqui em uma publicação genuinamente importante de trabalho sociopolítico que deveria vir com um aviso, como uma ordem sussurrada em tom de ameaça, dizendo ‘Você tem que ler isso. Realmente muda tudo’, como a maravilhosa e preocupante bomba da verdade que representa.”

Outros lançamentos

Pela Edições Livre, Assombrações do Cosme Velho, de Machado de Assis.

O maior nome da literatura brasileira tinha também certo apreço pelo fantástico e pelo macabro. Se a alcunha de “Bruxo do Cosme Velho” se deve a alguma razão sinistra, jamais saberemos; os encantos de Machado de Assis, porém, permanecem vivos até hoje por meio de suas obras. Para dar a conhecer esse lado do grande escritor, reúnem-se aqui alguns de seus contos sobrenaturais e de horror psicológico. A edição conta ainda, no início, com o texto “O brasileiro Machado de Assis”, de Lúcia Miguel Pereira — biógrafa do autor —, publicado em 1947 no Correio da Manhã; e, no apêndice, com a tradução feita por Machado do célebre poema “The Raven”, de Edgar Allan Poe.

Pela LVM, O essencial sobre o coletivismo, de Dennys Garcia Xavier e Priscila Cysneiros.

A coletividade, o agir não para si, mas para o grupo ao qual pertence, a priorização da sociedade em vez do indivíduo, soa bem e reverbera como atitudes altruístas e virtuosas. Quem pode se impor diante de ações tão nobres que se colocam em prol de uma “causa maior” ou “pelo bem de todos”? Nesse cenário, ser individualista vai na contramão, demonstra egoísmo, logo, é uma aparente ameaça ao bem comum.

O Essencial sobre o Coletivismo revela como a coerção dessa mentalidade agride, como chibatadas, a liberdade, ludibriando o indivíduo a pensar com a emoção no lugar da razão. Escrito com linguagem acessível, mas com cuidado técnico conceitual, os autores vão direto ao ponto e discutem os perigos que se camuflam no coletivismo, trazem à tona a importância do individualismo e discorrem sobre os males que o pensamento coletivo pode acarretar.

Pela Vide, A intimidade espiritual,de Louis Lavelle.

Os textos que compõem este volume são artigos escritos por Lavelle para revistas de filosofia e conferências proferidas na França e no exterior. Cada um deles apresenta concisamente um dos temas essenciais de sua doutrina: o espírito, o tempo, o eu, a relação entre espírito e mundo, entre a essência e a existência, e a participação.

Eles foram produzidos entre 1936 e 1951, período em que ele escrevia sua grande obra A dialética do eterno presente, que seria coroada por uma parte final sobre a sabedoria, mas para concluir a qual não lhe foi concedido tempo suficiente.
Ele a preparava em suas últimas meditações, quando foi convidado, em 1950, para participar dos trabalhos da Sociedade de Filosofia de Bordeaux, escolhendo o tema “A sabedoria como ciência da vida espiritual”.

Pela Ecclesiae, A santidade da família, volume que reúne encíclicas, exortações apostólicas, e orientações magisteriais sobre a matrimônio e o lar cristão, escritos pelos Papas Leão XIII, Pio XI, Pio XII, Paulo VI e São João Paulo II.

Consciente de que dúvidas ou erros no campo matrimonial ou familiar implicam um grave obscurecimento da verdade integral sobre o homem, a Igreja tem o vivo e profundo desejo de acompanhar a família cristã, revelando-lhe sua verdadeira identidade segundo o desígnio divino: íntima comunidade de vida e de amor, que, como toda realidade criada e redimida, encontrará sua plenitude no reino de Deus. Por isto, é-lhe confiada a missão de guardar, revelar e comunicar o amor, qual reflexo vivo e participação real no amor de Deus pela humanidade e no amor de Cristo pela Igreja.

O Magistério, único guia autêntico do povo de Deus, roga às famílias que cresçam na fé e santifiquem seu dia-a-dia de Igreja doméstica. Para isso, os documentos dos Pontífices e das Sagradas Congregações Vaticanas desde o final do século XIX reunidos neste volume são um valioso subsídio, tanto àqueles que se preparam para o Matrimônio quanto aos que, tendo já formado seus lares, desejam aprofundar-se na vocação a que foram chamados e, por meio dela, entregar-se a Deus com ardor cada vez maior.

Pelo Centro Dom Bosco, Santo Tomás de Aquino: iniciação ao estudo da sua figura e da sua obra, de João Ameal.

Poucos intelectuais católicos estudaram a fundo, com a honestidade, afinco e o cuidado que isso exige, a vida e a vastíssima obra de Santo Tomás: João Ameal foi um deles. Este lançamento é, sem dúvida, um seguro e proveitoso início para os estudos daqueles que desejam conhecer mais profundamente a vida do Doutor Angélico e as grandes linhas do pensamento tomista.

Editado em capa dura e acabamento especial, é um exemplar digno do Aquinate, apresentando de maneira clara e de fácil linguagem, um ensaio histórico-biográfico sobre as glórias de sua vida e as principais correntes e conceitos de sua magnífica obra como “ potência e ato”, “essência e existência”, “vontade e inteligência” e muito mais.


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