MURALHA DE LIVROS | Ordinários assassinos

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Destaque para lançamentos das editoras Vide, Texugo e Kírion

Como pessoas comuns, daquelas ordinárias, com quem convivemos em nosso dia a dia, podem, com os estímulos certos, tornar-se assassinos cruéis, ou mesmo cúmplices conscientes de um genocídio? Esse fenômeno já aconteceu em nossa história recente, e é sobre ele que trata o principal destaque desta Muralha.

Ainda, três obras essenciais para uma formação saudável de nossas crianças, um conceituado tratado de mariologia, o terceiro volume das obras completas da Vidente de Nossa Senhora das Lágrimas, e o primeiro de um importante tratado de Teologia Dogmática.

Confira as dicas a seguir, e um excelente sábado!

Destaques

O primeiro destaque da semana é um lançamento da Vide Editorial: Homens comuns, de Christopher R. Browning. O livro constitui um relato da história verídica do Batalhão de de Reserva 101 da Polícia da Ordem Alemã, que foi responsável por tiroteios em massa, bem como prisões de judeus para deportação para campos de extermínio nazistas na Polônia em 1942. Browning argumenta que a maioria dos homens da RPB 101 não eram nazistas fanáticos, mas sim homens comuns de meia-idade de classe média que cometeram essas atrocidades por uma mistura de motivos, incluindo a dinâmica de grupo de conformidade, deferência à autoridade, adaptação de papéis e alteração de normas morais para justificar suas ações. Muito rapidamente surgiram três grupos dentro do batalhão: um núcleo de assassinos ávidos, um outro, daqueles que desempenhavam as suas funções sem grande iniciativa, e uma pequena minoria que evitou a participação nos atos de matança, mas sem diminuir em nada a eficiência assassina do batalhão.

Confira a seguir algumas considerações de Jordan Peterson sobre a obra:

“Homens comuns é o melhor livro do seu gênero — talvez mesmo o único. Ele descreve a transformação de um batalhão da polícia alemã, composto por homens da classe média burguesa. Eram, essencialmente, policiais comuns, educados antes da Juventude Hitlerista, e que, portanto, não haviam sido doutrinados quando jovens. Foram enviados à Polônia para ‘estabelecer a paz’ — para arrumar a bagunça depois que os alemães a haviam invadido. Começaram prendendo todos os homens judeus entre 18 e 65 anos, reunindo-os em estádios e depois embarcando-os em trens.

Mas este não foi o fim da história. Eles chegaram a um lugar muito, muito sombrio. Ora, no final do treinamento, esses homens iam mato adentro com mulheres grávidas nuas para dar-lhes um tiro na nuca. O mais horrível neste livro é que o autor detalha as etapas pelas quais isso ocorreu. O comandante da unidade dissera aos homens que eles teriam de fazer coisas terríveis, mas que poderiam voltar para casa se quisessem — portanto este não é um daqueles casos de pessoas apenas seguindo ordens. Há muitas razões para eles não terem ido embora, mas uma delas é que não seria “camarada”, por assim dizer, deixar os colegas fazerem todo o trabalho sujo enquanto eles davam o fora; seria covardia. E assim, as exigências para suas ações horríveis continuavam aumentando. A cada vez que aceitavam a exigência de fazer algo horrível, a probabilidade de aceitarem a próxima exigência aumentava. Um passo de cada vez.

Esses homens estavam sofrendo terrivelmente; estavam fisicamente doentes, vomitando, e se despedaçando psicologicamente — mas não voltaram atrás. A questão é que acaba-se chegando a lugares muito ruins andando um passo de cada vez. Por isso, atenção a cada passo. Se você quer entender como se pode seguir um caminho terrível, é este o livro que você deve ler. São pessoas comuns que participam dessas coisas, e este é um pensamento muito, muito assustador.”

O outro destaque da semana vai para um lançamento da Texugo: Poesias infantis, de Olavo Bilac. Um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e verdadeiro mestre na arte da versificação, Bilac – muitas vezes, hoje, menosprezado e escarnecido por professores de Literatura do ensino médio – compôs os poemas deste livro visando à formação literária dos pequenos leitores. Com versos cheios daquela rara sensibilidade própria do Príncipe dos Poetas, o volume acabou servindo mesmo à formação de diversas gerações da nossa educação primária.

Esta edição da Texugo conta ainda com o diferencial da apresentação da professora Lorena Miranda Cutlak, que em seus cursos para pais e professores usa os poemas infantis de Bilac para instruir sobre como ensinar poesia e gramática às crianças.

Confira abaixo algumas estrofes do poema “A avó”, que abre o livro:

A avó, que tem oitenta anos,
está tão fraca e velhinha!...
Teve tantos desenganos!
Ficou branquinha, branquinha,
com os desgostos humanos.

Hoje, na sua cadeira,

repousa, pálida e fria,
depois de tanta canseira:
e cochila todo o dia,
e cochila a noite inteira.

Às vezes, porém, o bando
dos netos invade a sala ...
Entram rindo e papagueando:
este briga, aquele fala,

aquele dança, pulando ...
A velha acorda sorrindo
e a alegria a transfigura;
seu rosto fica mais lindo,
vendo tanta travessura,
e tanto barulho ouvindo.”

E já que o assunto é infância, também damos destaque nesta semana ao lançamento da Kírion: Em defesa dos garotos: por que fazer cabanas, contar histórias, jogar bola e rezar a Deus pode mudar o mundo, de Anthony Esolen. O autor, que foi um garoto comum dos EUA entre as décadas de 60 e 70, baseia-se em suas próprias vivências para defender o retorno a um tipo infância que, se já não se perdeu totalmente, está em pleno declínio no mundo moderno. Com isso, Esolen prescreve um retorno à sanidade para um mundo insano. 

Confira um pouco da obra por um trecho da apresentação do próprio autor:

Com as crianças, hoje em dia, somos frouxos quando deveríamos ser firmes e rígidos quando deveríamos deixá-los livres. Elas não foram feitas para se desenvolver em tapetinhos de EVA. — muito menos recebendo doses de veneno moral e de ideologia maluca. Nós as protegemos de cair colhendo uma fruta no pé, mas não da pornografia nem da tagarelice das redes antissociais.

Isso fere todas as crianças, mas ainda mais o sexo que é feito para a caça, a trilha, o risco. A repulsa dos garotos por essa não-vida é às vezes tão forte que nós os diagnosticamos com desordens, quando na verdade eles estão em ordem, e são as circunstâncias artificiais a que estão submetidos que estão em desordem.

Ou nós os tornamos homens bons, ou sufocamos seus espíritos até se tornarem maus, frustrados, egoístas. Não é possível transformá-los em meninas; esqueçam. Devemos desejar que os meninos sejam mais masculinos, não menos: que sejam cavalheiros, bravos guerreiros do bem.

Escrevo em defesa dos garotos, que, para serem felizes, têm de ser realmente viris, se engajar, lutar e vencer na batalha fundamental da alma humana.”

Outros lançamentos

Em sintonia com o lançamento da Kirion, O mínimo sobre a educação dos filhos, de Rodrigo Mocellin. 30º volume da coleção O Mínimo, este livro traz dicas práticas de como uma educação sólida em nossa realidade – uma boa educação exige, no mínimo, a presença ativa dos pais, a firmeza em suas ações e a transmissão de valores sólidos, em que se repensem as ideias modernas e equivocadas sobre educação para voltarmos à boa e velha forma de criar os filhos.

Pela Ecclesiae, A Sede de Sabedoria, de Louis Boyer. Neste belo tratado de mariologia, o autor, que foi pastor luterano, examina a missão vital desempenhada por Maria no plano divino com uma abordagem verdadeiramente ecumênica: os dogmas da Igreja sobre Nossa Senhora estão todos intimamente vinculados a cada uma das partes da Revelação. Vê-se, assim, que Maria pertence à própria essência da mensagem cristã, e a exclusão de seu papel esvaziaria essa mensagem de seu significado completo: o cumprimento da promessa de Deus. Sem Maria, muito do que ambos os testamentos revelam se tornaria ininteligível no que diz respeito à feminilidade, à sexualidade, à maternidade, ao matrimônio, à virgindade, à santidade, à união de Deus com a Igreja, ao amor divino e humano, ao sacrifício e à redenção.

Pelo Centro Dom Bosco, Presídio de Amor, da Irmã Amália de Jesus Flagelado. Este é o terceiro da Vidente das Lágrimas, que propagou a devoção a Nossa Senhora as Lágrimas e Jesus Manietado, a partir de seus encontros com Jesus e Maria, no início do século XX na cidade de Campinas.

Pré-venda

Começou nesta semana a pré-venda de um dos mais importantes volumes da Edições Cristo e Livros, o primeiro tomo da obra Teologia Dogmática, de Adolphe Tanquerey.

Estudo profundo dos fundamentos da fé cristã, esta obra, que se fundamenta nos estudos de São Tomás de Aquino, foi por décadas foi responsável pela formação dos maiores teólogos católicos. Neste primeiro livro o autor propõe uma introdução geral à teologia e investiga as raízes da fé cristã, ao mesmo tempo em que refuta os argumentos de ateus, racionalistas e relativistas religiosos acerca da religião.

A pré-venda acontece no site da editora até o final de setembro, e os envios começam já a partir próximo sábado, dia 30.


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