MURALHA DE LIVROS | O Sábado dos 10 Tijolos

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Destaques para homenagem a Olavo de Carvalho, um clássico antifeminista e novo livro de Flávio Gordon

A Grande Muralha de Março cresce em qualidade e quantidade. Nesta semana, não menos que 10 tijolos integram as dicas da semana. Este é O Sábado dos 10 Tijolos. Entre os destaques, uma bela homenagem ao professor Olavo de Carvalho em uma coletânea de artigos de alunos seus portugueses e brasileiros, um clássico antifeminista prefaciado por Ana Campagnolo e mais uma obra da Editora PHVox sobre o pensamento revolucionário, assinada por ninguém menos que Flávio Gordon.

E mais: Alexandre Costa com o mínimo que você precisa saber sobre o globalismo; professor Edmilson Cruz desmentindo os mitos da Leyenda Negra sobre a Igreja Católica; três gigantes da Igreja para você se aprofundar em sua espiritualidade; uma importante obra sobre o papel do leigo rumo à santidade; e, fechando com chave de ouro, uma coletânea de estultices do beberrão Lutero expostas por ele próprio.

Aproveite bem seu sábado, e confira os tesouros da semana!

Destaques

O destaque número um a semana é da Editora Danúbio, que começou seu ano editorial com o pé direito: O magistério de Olavo de Carvalho: para uma Paideia integral. Organizada por Juliana Rodrigues, Mario Chainho e Pedro Vistas, a obra reúne artigos destes e outros alunos de Olavo, portugueses e brasileiros, que se disponibilizaram a escrever sobre pontos específicos do pensamento do grande filósofo. Os artigos escritos pelos autores portugueses podem ter interesse para o leitor brasileiro, pois mostram uma forma de abordagem sobre o trabalho de Olavo a que eles não estão habituados. Como ele mesmo salientava, a compreensão de qualquer coisa resulta do cruzamento do maior número de perspectivas possíveis. Dos escritores brasileiros, o livro apresenta testemunhos em primeira pessoa relatando o impacto nas suas vidas provocado pelo filósofo.

Confira abaixo um trecho do artigo “Aristóteles a e filosofia portuguesa: os contributos de Olavo de Carvalho”, do português Joaquim Domingues:

“Pode-se dizer que o livro Aristóteles em nova perspectiva […] corresponde ao acesso do filósofo ao patamar superior do seu percurso intelectual; pois, ao abordar o tema da palavra, da linguagem ou do discurso verbal, se colocou em face do que essencialmente define e distingue o homem, ser de razão, embora animada, ou seja, encarnada. Aliás, ao abordar a questão no âmbito da filosofia grega e da obra de Aristóteles, deu azo a lembrar que ‘logos’ significa precisamente a palavra e, por extensão, a razão; duas noções intimamente ligadas na cultura helénica, que ao mesmo tempo designava tanto uma como a outra. Ainda que nem sempre o discurso humano seja perfeitamente racional, nem o uso da razão se cinja apenas ao domínio da palavra, na verdade é nesta, no discurso que, antes de mais e acima de tudo, se revela o espírito humano.”

Confira, ainda, um trecho do testemunho de outro grande aluno de Olavo, este brasileiro, Fábio Blanco, sobre a importância do professor em sua vida, no arrigo “O imbecil que me salvou”:

“O que posso dizer é que o fim da leitura daquele livro [O imbecil coletivo] marcou-me para sempre. Em um primeiro momento, ainda não de uma maneira totalmente compreendida. O que sobrou para o dia que já raiava era ainda muito confuso. Na minha cabeça martelava, com a voz de uma consciência desesperada para salvar uma alma prestes a ser abduzida, a ideia de que aquele cara, apesar de bom escritor, deveria ser provavelmente um desvairado e eu, se quisesse preservar minha sanidade, nunca deveria ler qualquer outro trabalho dele. Por outro lado, no meu espírito, algo me dizia que ele estava certo. Seus argumentos eram demasiado cristalinos para serem ignorados. No dia seguinte, então, tomei coragem e resolvi ler o livro todinho de novo. Pronto! O estrago estava feito. As escamas caíram de vez. Nessa segunda leitura lembro-me de que apenas uma frase se repetia dentro de mim: ‘Ele tem razão! Ele tem razão!’ Olavo de Carvalho havia acabado de foder com minha inocência.”

O outro grande destaque desta “Semana da Mulher” é da Vide Editorial, O sexo privilegiado, de Martin Van Creveld. Livro havia já algum tempo esgotado e sumido das prateleiras brasileiras, sobrando alguns raros exemplares a preços exorbitantes em sebos, ele aborda de frente questões levantadas pela militância feminista em relação às mulheres, de que são discriminadas, oprimidas, exploradas e abusadas pelos homens. Uma enxurrada intensa e implacável de acusações que parece não ter fim. Mas as acusações são verdadeiras? As mulheres realmente passam por momentos piores do que os homens? Neste volume, Creveld viaja por toda parte e examina muitos aspectos do problema como ele se apresentou desde a época do antigo Egito até as sociedades ocidentais mais avançadas de hoje. Para quem está acostumado com o tsunami de reivindicações e reclamações feministas, as respostas de O sexo privilegiado serão uma surpresa.

A publicação da Vide ainda conta com o privilégio do prefácio escrito por Ana Campagnollo, deputada, ativista antifeminismo, autora de O mínimo sobre feminismo e Feminismo: perversão e subversão, e organiadora da coletânea de artigos antifeministas Guia de bolso contra as mentiras feministas.

Confira abaixo um trecho da obra:

“Eles seguirão sendo tratados com mais severidade por pai e mãe, na escola e noutras instituições que sirvam para preparar as pessoas para a vida adulta. Também continuarão trabalhando mais, e mais pesado, em comparação com as mulheres, assumindo um conjunto enorme de trabalhos insalubres e perigosos, e sofrendo um número desproporcional de acidentes de trabalho. Os homens seguirão sustentando as mulheres através de todas as formas existentes em determinada época e lugar. Sem o incentivo de recursos públicos, compostos, em sua esmagadora maioria, de contribuições masculinas, a maior parte das organizações feministas iria à falência. Perante o jugo da lei, os homens continuarão sendo tratados com mais severidade do que as mulheres. Diante do terror da guerra, seguirão morrendo para que elas possam viver. Dessas formas, assim como de inúmeras outras, os homens continuarão fazendo o possível para conceder às mulheres vidas mais fáceis, melhores, mais confortáveis e duradouras, em comparação com as que eles próprios desfrutam. E continuarão o tempo todo ouvindo — ou, muitas vezes, tentando não ouvir — as reclamações femininas sobre toda e qualquer coisa, inclusive sobre eles próprios.”

O terceiro destaque da semana é da Editora PHVox, Ideologias de massas e suas metamorfoses: do mal cultural ao mal político, de Flávio Gordon. A publicação segue o programa editorial da PHVox, focado em conteúdos que desnudam as mais variadas facetas da mentalidade e da ação revolucionárias em todos os tempos. A obra de Gordon (autor do prestigiado A corrupção da inteligência: intelectuais e poder no Brasil) direciona-se para a degeneração intelectual que sempre antecede as grandes revoluções da História, sempre em prejuízo de milhões de pessoas, vítimas tanto do pensamento como dos processos revolucionários.

Confira abaixo algumas palavras do próprio autor sobre seu lançamento:

O que pretendo dividir com vocês nestas páginas, entre outras coisas, são algumas das ferramentas cognitivas que, ao longo desses últimos anos dedicados ao tema, fui desenvolvendo para diagnosticar a corrupção intelectual nas suas mais variadas formas, das mais sofisticadas às mais grosseira. Há a todas estas uma característica comum e permanente: o senso de inadequação do intelectual, que se manifesta numa experiência de isolamento, logo convertida em ressentimento e impaciência. Sentindo-se socialmente desvalorizado e impotente em suas elucubrações solitárias, o intelectual anseia por um poder de maior impacto e imediaticidade, passando a ver na militância político-ideológica a possibilidade de uma revanche contra os bodes expiatórios projetados por sua má consciência.

Além de diagnosticar a doença, pretendo também oferecer o remédio. E não há nada melhor para prevenir o espírito contra os germes da corrupção intelectual do que a exposição a bons modelos, ou seja, pensadores que mantiveram sua integridade intelectual a despeito das circunstâncias, persistindo na busca da verdade quando tudo em volta induzia à mentira. Há uma plêiade deles ao longo da história, inclusive no Brasil, e não podemos nos dar ao luxo, neste momento da crise cultural, de negligenciá-los. E assim, convido o leitor a juntar-se ao autor na difícil missão, assumidamente imodesta, e, todavia, urgente, de restauração da inteligência nacional. Aos que toparem o convite, deixo aqui minha gratidão, solidariedade e a promessa de oferecer-lhes sempre o que de melhor pude entregar.”

Outros lançamentos

Mais um volume da editora O Mínimo esta semana, O mínimo sobe globalismo, de Alexandre Costa, que há décadas debruça-se sobe o assunto, suas origens, ramificações, transformações e eventos ligados a esta “teoria da conspiração” mais concretamente comprovada de todos os tempos. Alexandre fornece ao leitor, aqui, um roteiro básico e bastante didático do que é e como funciona o globalismo e suas relações com tópicos como Tecnocracia Feudal, Nova Ordem Mundial, e Novo Normal e Novo Homem, por exemplo.

Pela Plus Edições, Deixe de ser enganado, obra em que professor Edmilson Cruz desfaz os mitos criados há pelos três séculos para envenenar a mente das pessoas contra a Igreja Católica, como a lenda negra da Inquisição e das Cruzadas, a opressão contra as mulheres, o apoio à escravidão, entre outras tantas falácias criadas pelos inimigos da Igreja.

E se falamos da Igreja Católica, a Ecclesiae lançou os Sermões diversos de São Bernardo de Claraval. O volume reúne 53 sermões de um dos maiores teólogos e oradores da história da Igreja, e sem dúvida o maior de seu tempo, a ponto de o século XI ter ficado conhecido como “o século de São Bernardo”. Este grandioso teólogo foi conselheiro de Papas, reis e diversos outros nobres que viajavam longas distâncias para procurar por sua sabedoria. Sob uma miríade de temas — as virtudes e os vícios, os sacramentos, as festas litúrgicas, os dons do Espírito Santo, a oração, a vontade divina, os preceitos morais, os modos de ação da graça divina na alma —, Bernardo divisa as diferentes camadas e nexos de sentido nas passagens bíblicas, enxergando analogias com a vida espiritual e situações em que as criaturas podem se encontrar nesta peregrinação terrena. Ao tecer seus comentários a trechos das Sagradas Escrituras, mesmo os mais insuspeitos, o Doutor Melífluo extrai, como um verdadeiro apicultor de Deus, abundantes doçuras escondidas no mel da Palavra Divina.

E se o assunto são grandes santos, a Calvariae trouxe nesta semana dois lançamentos de peso. O primeiro, Kolbe: herói e mártir no campo de extermínio de Auschwitz, de Sérgio C. Lorit. O autor, que visitou Auchwitz em 1960 com o intuito de conhecer a cela onde o Padre Maximiliano Kolbe, prisioneiro 16670, foi martirizado em 14 de agosto de 1941, lança luz sobre este gigante da Igreja por meio de seus estudos de sua biografia e seu processo de canonização.

O outro lançamento da Calvariae é A filosofia tomista e o agnosticismo contemporâneo, do Monsenhor Pedro Anísio, obra cujo principal foco é despertar o interesse os altos problemas que agitam a mentalidade contemporânea e concorrer, na medida do possível, para o triunfo das verdades eternas ensinadas por Jesus Cristo e defendidas pelo gênio incomparável de Santo Tomás de Aquino. O autor, além de tomar por guia o Doutor Escolástico, também valeu-se de seus grandes comentadores e discípulos que, guardam sua tradição intelectual e levaram diante sua obra.

Pela Edições Cristo Rei, Caminhos laicais da perfeição, do Padre José Maria Iraburu, obra em que o religioso e teólogo espanhol da Diocese de Pamplona mostra o roteiro a ser seguido pelos leigos enquanto membros valiosos do corpo da Igreja, rumo à santidade, a santificação do próximo e, consequentemente, ao Céu.

Para terminar, um importante lançamento da Flos Carmeli, Conversas à mesa, de Martinho Lutero. Lutero foi um “mestre” do insulto contra todos aqueles de quem ele não gostava e estava muito longe de ter uma linguagem elegante. Difícil achar alguém que mais proferiu vitupérios que ele. Entre sua vasta e perniciosa obra está este Conversas à mesa, que reúne uma coleção de pensamentos ditos pelo heresiarca em conversas com seus alunos e colegas. O vituperador discorre sobre sua vida pessoal, teologia, a Escritura, a política etc., de maneira superficial, quase sempre grosseira e, não raro, como um perfeito estulto.  E, ao contrário de diversas edições que retiraram as partes mais inconvenientes, como a inglesa de William Hazlitt, esta da Flos Carmeli traz o texto traduzido na íntegra, para que aqueles que desejem conhecer uma pequena fração dos erros e palermices do essencialmente revolucionário teólogo alemão. Como disse Bernardo Küster recentemente, “Ninguém melhor para expor Lutero que o próprio Lutero”.


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