MURALHA DE LIVROS | Especial Editora Danúbio

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Retrospectiva da Editora Danúbio em 2022

A penúltima Muralha de 2022 faz uma homenagem à Editora Danúbio, que nasceu em 2013, como uma livraria que se tornou ponto de encontro de olavetes no Centro de Curitiba. Hoje, prestes a completar 10 anos, o selo criado por. Diogo Fontana já conta com 45 títulos publicados nas mais diversas áreas, com um diferencial na descoberta de autores da chamada Nova Literatura Brasileira.

Hoje, trazemos uma retrospectiva das obras lançadas pela Danúbio em 2022.

As publicações começaram com O Tigre de Mrs. Packletide e outros contos, coletânea de narrativas humorísticas do célebre autor britânico Saki (Hector Hugh Munro), criador do tolo e atrapalhado Reginald.  

O segundo título da editora foi À Beira do Danúbio, de Vitor Vicente. Especialista em literatura de viagens, Vicente, nessa obra, leva o leitor a conhecer os bares e os habitantes multinacionais de Budapeste, capital da Hungria, onde, como português expatriado, ele vive uma série de relacionamentos voláteis com parceiras que conhece em aplicativos sexuais. Ao longo da história, o autor vai apresentando, em ordem alfabética, uma a uma, as suas dezenas de amantes, que são das mais variadas pátrias, idades, feições e filosofias. O pano de fundo é uma Europa hipnotizada em tagarelices revolucionárias que redundaram na pandemia de uma certa doença do espírito que se traduz na grava falta de sentido na vida que é a grande crise do nosso tempo.

O terceiro título da Danúbio foi O riso é um triunfo do cérebro, obra-prime de Wilson Filho Ribeiro de Almeida, que inclusive foi entrevistado para a edição de abril de nossa revista mensal.  Inicialmente uma tese de doutorado defendida pela Universidade Federal de Uberlândia em 2020, esta obra-prima de Wilson Filho revela-se um trabalho admirável, em que o pesquisador de fato consegue se aprofundar em nuances filosóficas e estéticas do trabalho de Roberto Gomes Bolaños, criador dos programas Chaves e Chapolim, que revelam o quanto as produções do comediante mexicano podem ser encaradas para muito além do mero entretenimento infanto-juvenil.

A quarta grande obra da editora curitibana foi o segundo romance de seu editor, Diogo Fontana, Se houvesse um homem justo na cidade?, cuja trama gira em torno das memórias e reflexões de um ex-professor universitário venezuelano exilado no Brasil, registradas em fragmentos de seu caderno. A narrativa reconstrói todo o processo de destruição de seu país natal com a revolução chavista que lá se operou, e, ao que parece, tende a se repetir, por ora, em toda a América Latina.

O primeiro semestre da Danúbio terminou com A arte de traduzir de latim para português, de Frei José da Encarnação Guedes, e organizado por Francisco Araújo da Costa e Veríssimo Anagnostopoulos. O livro foi o primeiro manual de tradução em língua portuguesa, originalmente em Lisboa, na Impressão Régia, no ano de 1818, e reimpresso ao menos uma vez, em Bombaim, em 1838. A obra se baseia em L’Art de traduire le latin en français, réduit en principes, à l’usage des jeunes gens qui étudient cette langue, par un ancien professeur d’éloquence, de 1762, do francês Louis Philipon de La Madelaine (1734-1818).

O segundo semestre da editora começou literalmente surreal, com o quarto romance de Alexandre Soares Silva, Totolino, narrativa em que o autor nos apresenta um serial killer italiano que mata as suas vítimas enquanto canta as mais famosas peças operísticas. A sua sequência de crimes acaba o tornando mundialmente popular e todo um movimento político e cultural se desenvolve em torno dos seus atos. Quando o assassino resolve vir ao Brasil, em busca de mais uma vítima, a sua presença se torna motivo de controvérsia nacional. Mais que uma sátira, Totolino é uma impressionante alegoria dos tempos loucos em que vivemos.

Em seguida veio Noemas de filosofia portuguesa, obra em que Miguel Bruno Duarte aponta e descreve a ideologia dominante no establishment universitário em Portugal. Pensador verdadeiramente independente, o autor denuncia, de fato, as repercussões dessa ideologia na cultura inculta das fundações, institutos e demais poderes institucionalizados. Concebida em duas partes – Queda Vertical e Esperança – a obra apresenta um fulminante diagnóstico que vai direto aos problemas, obstáculos e contradições do Portugal de hoje.

A todo pique, a Danúbio publicou Ensaio sobre a música universal, do maestro Dante Mantovani. O livro reúne uma série de ensaios com a proposta de ampliar a compreensão multidimensional e interdisciplinar da música universal, assim denominado o repertório que transcende fronteiras culturais e sobrevive ao tempo. Trata-se da arte que almeja a beleza e a transcendência, e que dista radicalmente das concepções ideológicas que a reduzem ao fetichismo da técnica ou à mera propaganda política.”

Junto com o livro do Maestro Mantovani foi publicado também Deixa-me enterrar meu pai, romance de estreia de Elizeu Xavier. O enredo envolve o drama de Estevão, um paulistano de meia-idade, programador de software e funcionário público, que vê a sua vida estagnada pela espera do resultado de um processo judicial que vai definir o seu destino: a disputa entre ele e a segunda esposa de seu pai pelos bens deixados como herança. Angustiado pelas incertezas e demoras do sistema judiciário, e ressentido pela conduta do seu pai, o protagonista consome-se de amargura e dor, enquanto aguarda ansiosamente o dinheiro que, ele acredita, irá libertá-lo de suas misérias e limites. O romance de Xavier revela-se um impressionante retrato da vida de classe média na São Paulo contemporânea, uma cidade sem esperanças, brutalizada pela feiura, pela degradação social, pela decadência cultural e pela devastação arquitetônica.

Fechando as publicações do ano, a editora ainda lançou A Guerra na Ucrânia e a Nova Ordem Mundial, livro em que está reproduzido na íntegra um debate ocorrido entre Cristian Derosa e Jonas Fragá Jr. sobre questões fundamentais envolvendo os conflitos na Ucrânia, iniciados em fevereiro deste ano. Longe do rótulo apelativo muitas vezes usado pelos incautos que ignoram o que não entendem, nesse livro não há “teoria da conspiração”. Os debatedores apresentam indícios, fontes, evidências e provas que sustentam os seus pontos de vista. A obra proporciona ao leitor muito do que a grande mídia omite sobre a atual situação mundial.

Entre as novidades da Danúbio para 2023…

Para o ano, foi isto: 10 tijolos de peso para nossas muralhas. Para 2023, os leitores não perdem por esperar: estão previstos clássicos da literatura e da historiografia portuguesas, um novo romance de Diogo Fontana, uma obra mais que especial sobre o legado de Olavo de Carvalho, entre diversas outras novidades. Fiquem atentos a esta coluna, aproveitem nossas promoções de fim de ano, e um feliz Natal a todos!


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