MURALHA DE LIVROS | Entre heresias e clássicos

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Destaque para obra de um dos principais dissidentes da Teologia da Libertação 

A Muralha desta semana tem como destaque uma importante obra de um cofundador e um dos mais célebres dissidentes da Teologia da Libertação no Brasil. Além dela, só obras de peso: Gustavo Corção; uma tradução inédita de Viktor Frankl; mais um romance distópico trazido pela Sétimo Selo; uma edição especial do primeiro documento e primeiro clássico produzido sobre o Brasil; clássicos de Hayek, Étienne de la Boétie e Hanry David Thoreau pela Avis Rara;  e a pré-venda de uma excelente tradução de um dos mais célebres poetas da Antiguidade Latina. Entre heresias (refutadas) e clássicos, precisos tijolos.

Destaque

O destaque da semana vai para um importante lançamento da Editora Ecclesiae, A crise da Igreja Católica e a Teologia da Libertação, do Frei Clodóvis Boff. Pioneiro da Teologia da Libertação no Brasil, Frei Clodovis Boff (irmão de Leonardo Boff) acabou se tornando um dos principais dissidentes e opositores daquele movimento. Isso porque ele foi capaz de perceber, desde seus primórdios, o funesto erro de princípio em que tal corrente teológica incorria: colocar os pobres no lugar de Cristo. Esta é a ideia mestra que perpassa todo o debate proposto pela TdL. Para Clodovis, o “pecado original” da TdL permanece graças ao “denso nevoeiro mental” que tem acometido a teologia contemporânea nas últimas décadas.

Que este lançamento possa trazer o necessário esclarecimento acerca da TdL para tantos fiéis cujas consciências acabam por ser, no mínimo, confundidas pelos erros daquele corrente herética.

Confira a seguir um trecho selecionado da obra:

“Há um declínio a olhos vistos da Igreja Católica na Europa, na América Latina e no Caribe, duas regiões em que foi por longo tempo majoritária. Esse declínio afeta também, de modo difuso, toda a Igreja, por obra inclusive da globalização atual. Quando aqui dizemos Igreja sem mais, nos referimos à Igreja Católica, conquanto o que dissermos dela possa valer também para outras igrejas cristãs.
Note-se que o atual declínio da Igreja não é só quantitativo, mas também qualitativo. Pois a Igreja, um pouco como numa empresa, perde fieis sobretudo porque a qualidade de seus serviços deixa a desejar.”

Outros lançamentos

Pela Auster, Em busca de sentido, de Viktor Frankl. Já publicado anteriormente pela editora, esta edição feita especialmente para o público jovem, traz em nova tradução a íntegra do relato biográfico de Viktor Frankl sobre o Holocausto, seguido de um resumo dos principais conceitos da logoterapia, dois discursos inéditos e uma carta do autor, além de um glossário e uma cronologia da vida de Frankl e do Holocausto. Conta ainda com prefácios de Victor Sales Pinheiro e John Boyne e um epílogo de William J. Winslade. Os materiais suplementares dão ainda mais vida à inesquecível e impactante história do autor, tanto em termos de conteúdo quanto de contexto histórico, enriquecendo assim uma obra clássica que nos ensina a viver, nos liberta do derrotismo moral e nos convoca a uma existência mais responsável.

Pela Vide, Patriotismo e nacionalismo, de Gustavo Corção. A obra reúne ensaios do autor sobre o entendimento do patriotismo e do nacionalismo ao longo da História, e como grupos de interesse podem se apropriar desses conceitos (sobretudo do nacionalismo) e utilizá-los com fins políticos, desvirtuando-os em favor de projetos de poder que levam a regimes totalitários, tal como a Alemanha nazista, ou a Rússia e a China comunistas.

E por falar em distopias totalitárias, Moscou 1979, de Christiane e Erik Maria Ritter von Kuehnelt-Leddihn, é o lançamento da semana da Sétimo Selo. A trama se passa em um mundo que, após várias grandes guerras,  encontra-se dividido em dois: o ocidente americano, cristão e tradicionalista; o oriente russo, comunista e ateu. Por grande parte da Europa ter sido dominada pelos comunistas, o centro gravitacional da Cristandade passou de Roma para os países do Pacífico. O Papa vive em São Francisco e a União Soviética está em guerra com seu único inimigo sobrevivente: a Igreja Católica. É neste mundo estranho que Ulyan, após fugir para a Rússia em busca de algo “novo”, descobrirá rapidamente um caminho de proibições muito mais opressivas que as da sua antiga vida ocidental.

Publicado em Londres em 1940, quando Stálin ainda era visto como um libertador por grande parte da elite política ocidental, Moscou 1979 retrata muitas situações, teorias políticas e leis que, outrora consideradas absurdas e utópicas, hoje vemos se materializar diante de nossos olhos dia após dia como “normalidade”. O casal Kuehnelt-Leddihn mostra como a nossa vida comum, o nosso mundo, às vezes aparece como uma distopia — e o mais horrendo é quando essa distopia é quase indiscernível dos noticiários. Contudo, é sobre as ruínas e as dores desse mundo atroz que se levantará, de novo, a sombra da Cruz.

Pela Kírion, Questões de moral e educação, que reúne transcrições de conferências em que o filósofo francês Émile Boutroux (1845 – 1921) analisa as mais importantes ideias morais de nossa civilização: a moral grega ou estética, a moral cristã ou religiosa, e a moral moderna ou científica, e investigou de que maneira elas se complementam ou contrariam. O autor trata, também, de importantes questões práticas da educação, como as motivações para o estudo e a leitura em voz alta, e acaba compondo um livro indispensável para pais e professores, que é, sobretudo para nós brasileiros, surpreendentemente atual.

Pela Avis Rara, mais uma obra de Friedrich A. Hayek, Os equívocos das políticas de justiça social. Segundo volume da obra Direito, Legislação e Liberdade, o livro constitui um estudo em que Hayek analisa com muita originalidade as forças sociais que solapam o liberalismo e, ao procurar criticar o conceito de justiça social, ele se dá conta de que esta é uma expressão inteiramente vazia e desprovida de significado, chegando à conclusão de que ter que argumentar contra uma superstição que se transformou quase numa nova religião é uma tarefa complexa e alvo de inúmeras polêmicas.

Também pela Avis Rara, dois livros em um: Tratado da desobediência civil, de Henry David Thoreau, e O discurso da servidão voluntária, de Étienne de La Boétie, ambos clássicos do pensamento libertário.

Tanto La Boétie quanto Thoreau partem da premissa básica de que o Estado só possui poder por consequência do consentimento, tácito ou explícito, daqueles sobre os quais o exerce. Assim, para acabar como seu poder, basta retirar-lhe esse consentimento.

Se La Boétie fornece a fórmula conceitual para a desobediência civil, Thoreau, que foi preso por recusar-se a pagar impostos, fornece o exemplo concreto. Segundo ele, “sob um governo que prende qualquer homem injustamente, o verdadeiro lugar para um homem justo é também a prisão”. Eis a fórmula da desobediência civil: negar-se a reconhecer o governo tirano e arcar heroicamente com as consequências. Por esse meio, a “minoria indefesa” se torna “irresistível quando intervém com todo o seu peso”.

Esses dois ensaios são, portanto, complemento natural um do outro e leitura obrigatória para quem quer que lute pelas liberdades individuais em um mundo no qual a tirania do Estado avança a passos cada vez mais largos.

Pelo IBESEC, um lançamento importante esta semana: uma edição especial da Carta a El-Rey Dom Manuel Sobre o Achamento da Terra de Santa Cruz, de Pero Vaz de Caminha, primeiro documento produzido sobre o Brasil. A publicação deste clássico acontece por ocasião do recente 22 de Abril, data de “aniversário” do Descobrimento do Brasil.

Pré-venda

Uma importante pré-venda desta semana é da Editora Mnēma: Tristezas, de Ovídio. A obra enquadra-se nos trabalhos que Ovídio produziu noexílio, e expressa as saudades que o célebre poeta romano sentia do lar.O autor dialoga à distância com as pessoas caras a ele e que ficaram em Roma, incluindo sua esposa, Fábia, e o imperador, Augusto, ao qual o poeta apela inúmeras vezes ao longo da obra, louvando-o em muitos momentos e censurando-o por ter sido mal interpretado por ele. A tradução deste poema ao português, adicionada de muitas notas explicativas (desde fatos históricos até recursos poéticos e retóricos) é um grande avanço para os estudos ovidianos no nosso país, assim como uma oportunidade para o leitor brasileiro se aproximar da obra de um dos principais poetas romanos. Durante o período de pré-venda, até 16/05, o livro pode ser adquirido no site a editora com 40% de desconto.


 

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