Uma homenagem à mais popular bebida do Brasil
Esta edição da Muralha traz uma justa homenagem a uma das bebidas mais populares do mundo, e certamente a mais popular do Brasil, pelas mãos de um exímio barista e analista político.
A edição também está parruda de clássicos literários, com quatro obras de peso. Ainda: um importante manual de debate; uma obra essencial sobre a história da educação no Brasil no século XX; e um crucial alerta contra os perigos de uma filosofia maligna que vem conquistando os conservadores desavisados do Ocidente.
Acompanhe os lançamentos a seguir, e um excelente final de semana!
Destaques
O grande destaque da semana é O mínimo sobre café, de Brás Oscar.
Neste novo volume da Mínimo, Brás revela que não se destaca apenas como excelente analista político, mas também como exímio barista e grande conhecedor de uma das bebidas mais populares do mundo.
Confira a seguir algumas palavras do próprio autor sobre o livro:
“O café não é só uma bebida ou uma das principais commodities da bolsa. O café é como a música, a literatura e outros caprichos humanos, que não fazemos porque precisamos, mas simplesmente porque podemos, e que ilustram a vontade do espírito humano de submeter a natureza aos seus desejos.
Nestas poucas páginas, contarei a lendária história do café, desde a Etiópia e as Arábias até as Minas Gerais e as fronteiras do Brasil; ensinarei a você o mínimo sobre o seu processo de feitura, desde a planta até a xícara; e enfim darei dicas valiosas para quem deseje fazer, hoje mesmo, o melhor café possível em casa.”
Destaque também para um lançamento da Sétimo Selo: Território Humano, de José Geraldo Vieira.
Aclamado por escritores e críticos como Jorge Amado, Érico Veríssimo, Manuel Bandeira e Sérgio Millet, e apontado pelo filósofo Olavo de Carvalho como o mais importante escritor brasileiro do século XX, José Geraldo Vieira apresenta nesta obra seu mais autobiográfico romance, em que – como é comum em sua obra – mapeia a psique humana como poucos escritores perseguiram.
Ao longo da narrativa, acompanhamos José Germano em sua jornada desde a orfandade e a infância acolhida pelos tios maternos no Rio de Janeiro até a maturidade, marcada pela formação em medicina, o aprimoramento profissional na Europa, o retorno ao Brasil, a construção de uma carreira médica, o casamento com a prima Norma, o reencontro com amigos como Cássio Murtinho e, acima de tudo, o marcante encontro com Maria Adriana.
Território Humano se aprofunda em reflexões sobre temas como a memória, consciência e a busca pelo significado da vida. José Germano se vê diante de dilemas existenciais, questionando suas escolhas e buscando entender seu papel no mundo.
Confira a seguir um trecho da narrativa:
“José despertou de vez com os jorros frios do chuveiro e com as esfregadelas da toalha felpuda em que a mãe o enrolou depois para levá-lo até a vidraça da sala a fim de mostrar-lhe o céu azul, as fachadas batidas de sol do Almirantado e do Desinfetório, o vaivém de fregueses nos portões de ferro do Mercado. Mas só ficou lúcido quando na beira da cama de deixava vestir, pondo-se logo de alcateia como nestes últimos dias desde que notara estigmas no ar.
A voz materna, tão espontânea e comunicativa enquanto enaltecia aqueles aspectos da Rua Clapp, agora se ia tornando lenta, como que embargada por pensamentos aflitivos, sem coragem para esclarecer o motivo. Por isso ele tratou de precaver-se para o instante do “túnel”. (Era assim desde menorzinho, que denominava o momento em que a camisola ou a blusa à marinheira, aos escorregar-lhe pela cabeça abaixo, os eclipsava a ambos, dando breve ocasião para declararem depressa um desejo, os fazerem um pedido, enfim resumirem qualquer confissão difícil de ser manifestada rosto a rosto.”
Outros lançamentos
Pela Auster, Como identificar e vencer um idiota num debate, deCristián Rodrigo Iturralde e Padre Rodrigo Miranda.
O livro é interessante um manual de formação para os inconformados com a cultura woke e um verdadeiro arsenal contra o idiota, o principal difusor progressista. Primeiro, os autores abordam sua história e suas características; depois listam os atributos a serem adquiridos, ou fortalecidos, a fim de combatê-lo; e por fim aprofundam os conhecimentos técnicos necessários para vencer um debate, servindo-se da retórica, dialética, argumentação e outras estratégias de exposição oral. O que este livro pretende é forjar, incentivar e promover verdadeiros guerreiros culturais, a fim de que tenhamos uma sociedade cada vez menos fragilizada e idiota.
Pela Benedictus, Caminhos da educação brasileira: entre Anísio Teixeira e Paulo Freire, de Rafael Valladão Rocha.
Neste livro, o autor realizou tarefa de valor invulgar: uma análise original a respeito das contribuições de nossos dois mais cultuados pensadores educacionais (Anísio Teixeira e Paulo Freire). Com este exercício persuasivo, nos dá esperança e alento de que é possível superarmos a um só tempo duas crises, a educacional (expressa nos indicadores terríveis da educação brasileira, a despeito do uso e abuso de slogans como “inclusão”) e a intelectual (expressa na falta de compromisso com os predicados da prática científica, vulgarmente substituídos pelo julgamento moral do militantismo que invadiu a universidade).
Pela Estudos Nacionais, O sol negro da Rússia: as raízes ocultistas o eurasianismo, de Cristian Derosa.
O autor aborda, neste livro, as utopias e ideias espiritualistas da modernidade, que produziram os maiores genocídios do século passado, e que sobrevivem na nova aposta russa pelo tradicionalismo, visto como resistência ao globalismo ocidental e que se oculta sob uma forma de conservadorismo. Sob a aparência de defesa das tradições espirituais, a nova síntese russa se inscreve na mesma tradição espiritualista que legou à humanidade fenômenos destruidores como os regimes totalitários e o esvaziamento espiritual promovido pelo movimento New Age.
Esta obra é, antes de tudo, um alerta a cristãos deslumbrados com as soluções políticas vindas sob o alegado combate ao materialismo ocidental, mas que representam, no fundo, o falso profetismo expresso no conjunto de crenças anticristãs que atravessaram a história sob a forma de heresias e, na modernidade, as novas escatologias políticas do gnosticismo.
Pela BEC Editora, A Senhora Marie Grubbe: interiores do século XVII, de Jens Peter Jacobsen.
Romance mais lido da literatura dinamarquesa, e traduzido do original por Leonardo Pinto Silva, o livro é inspirado na vida, nas aventuras e na decadência vertiginosa da protagonista Marie Grubbe, personagem real da aristocracia dinamarquesa do século XVII que inspirou óperas, peças de teatro, minisséries de TV e filmes.
Confira a apreciação do livro feita por Otto Maria Carpeaux, grande entusiasta da obra de Jacobsen:
“Senhora Marie Grubbe – Interiores do século XVII é um romance histórico, escrito, com artifício habilíssimo, na língua e no estilo da época. Isto tem significado. Jacobsen começara com os versos românticos das Canções de Gurre, que Arnold Schoenberg pôs em música moderníssima. Passou ao verso livre dos Arabescos, versos livres que são uma nuança entre a poesia e a prosa. Disciplinou a sua língua intencionalmente, pelo artifício arcaizante de Senhora Marie Grubbe, e tornou-se o maior artista da prosa das línguas escandinavas. É um colorista, isto é, um pintor sem duras cores locais, um pintor de nuances. O olho agudo do botânico e a sensibilidade fabulosa do doente veem coisas que ninguém viu antes. Descreve o brilho dos archotes de pez sobre o ouro e prata das joias, sobre o aço das armaduras, sobre seda e veludo, um jogo de vermelho, amarelo, azul, preto e lilás; descreve mil nuances do modesto sol de setembro no quarto. Vê tudo. Mas vê somente quadros.”
Pela Livros Vivos, Cinquenta histórias famosas recontadas, de James Baldwin.
Publicado pela primeira vez em 1896, este é um livro atemporal que transporta os leitores para um mundo de heróis e homens famosos, oferecendo uma visão introdutória e abrangente da história e da cultura. Desde as aventuras dos gregos e romanos até as histórias inspiradoras de figuras históricas como George Washington e Napoleão, cada narrativa é habilmente recontada para atrair tanto as crianças quanto os adultos. Com sua prosa acessível, Cinquenta histórias famosas recontadas continua a encantar e educar leitores ao redor do mundo, celebrando a riqueza das tradições literárias e a universalidade dos temas humanos ao longo dos séculos.
Pela Mnema, mais um volume das Tragédias Completas de Sófocles: Édipo em Colono, que remonta à disputa pelo poder em Tebas, quando Etéocles e Polinices, filhos de Édipo, expulsam da cidade o pai sob a alegação de que por seus antigos crimes de parricídio e incesto o velho rei, já deposto há muito tempo, poderia ser causa de contaminação e desgraça para o país. Cego, o ancião banido perambula sob os cuidados de sua filha Antígona, até chegar a um local próximo de Atenas, onde o errante andarilho, ao saber que se trata de um bosque dedicado às terríveis deusas Erínies, identifica-o como o lugar em que, de acordo com antigo oráculo, encontraria finalmente paz e repouso, sob a proteção do monarca Teseu. No entanto, uma nova revelação oracular aos poderosos de Tebas faz com que eles, instigados por ambições mesquinhas, procurem o ancião.
Sob a perspectiva e no contexto da democracia ateniense do século V a.C., este drama – em edição bilíngue com tradução de Jaa Torrano – expõe e documenta tanto os antigos valores ainda atuantes da aristocracia tradicional quanto as misteriosas crenças religiosas do próprio autor Sófocles.