MURALHA DE LIVROS丨Do luto e outros assuntos

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

O luto, lidar com a perda de pessoas caras, é certamente um dos maiores desafios enfrentados pelo frágil espírito humano, e o destaque desta Muralha é justamente uma obra escrita por uma mãe que, direto do trauma de perder um filho, nos ensina a transformar essa dor em amor.

Também é destaque mais um lançamento, especialmente trabalhado para os pequenos, de uma das maiores poetisas da literatura brasileira contemporânea. E, ainda no universo infantil, o segundo volume das obras completas de uma consagrada autora sueca.

Ainda, uma das mais intensas tragédias daquele que é considerado o maior dramaturgo de todos os tempos, e uma importante obra de um dos maiores nome da teologia medieval.

Acompanhe os lançamentos a seguir, e um excelente final de semana!

Destaques

O primeiro destaque da semana é O Mínimo sobre o Luto, de Rebecca Athayde. Doutora em Psicologia Social, a autora passou pelo processo de perda de seu filho Mateus e, a partir de sua experiência pessoal e profissional, ela produziu este livro, em que apresenta dicas essenciais para qualquer um que precisa enfrentar o luto, um dos desafios mais difíceis para as pessoas. Rebecca sinaliza, sobretudo, para o caminho que, no enfrentamento do luto, transforma a dor em amor.

Confira abaixo alguns trechos da obra:

“Matheus chegou em casa quando Lucas tinha três meses. ‘Nós vamos dar conta’, disse meu esposo me abraçando, ao ver meu ar de medo e surpresa. Alguns meses depois, veio a descoberta: ‘Ele tem uma doença grave. Precisa operar o coração estando ainda na barriga ou não irá sobreviver, e depois passará por uma série de cirurgias’. A isso, respondemos: ‘Só nos apontem o caminho, que nós vamos, seja aonde for, buscar o que estiver ao nosso alcance para salvá-lo!’

Trabalhamos muito, viramos noites, nos desafiamos. Todo para conseguir o que fosse necessário para garantir ao nosso filho o direito de lutar. Foi quando chegaram os palpites: ‘Vale pesar riscos e benefícios de levar a gravidez adiante…’, ‘vocês são jovens e poderão ter mais!’, ‘às vezes é melhor que Deus leve logo, porque é um trabalho para a vida toda’.

Desde quando as pessoas se tornaram egoístas a ponto de preferirem que a criança morra a terem trabalho? Em que momento se poupar de sofrer passou a valer mais que se doar por amor a quem se ama? Sim, o sofrimento é muito grande e você se vê diante dos seus maiores medos quando recebe um diagnóstico como esse. Às vezes, tinha a sensação de estar como que dentro da cova dos leões, onde tudo que ameaçava meu filho seria como um leão prestas a devorá-lo e a me devorar.”

[…]

“Se eu soubesse antes que viria tanta dor pela frente, que meu coração seria estraçalhado mil vezes, que a incerteza seria como uma faca em minha garganta, ainda assim, mil vezes escolheria meu filho. mil vezes escolheria estar de pé diante do seu leito.”

[…]

“Quando você escolhe o caminho da amargura, o ressentimento pode torná-lo cruel. Você culpa o mundo e a Deus pelas tragédias e pode escolher, ativamente, fazer os outros se sentirem pior também.
Mas, se vê alguém se erguendo em face da catástrofe, da perda, da amargura e do desespero, então terá evidências de que tal reação é possível. Então, abre-se dentro do seu peito uma nova possibilidade: ‘Eu também posso sair disso da melhor forma’”.

O outro destaque desta semana vai para um lançamento da João e Maria, Estações Brasileiras, de Lorena Miranda Cutlak. Com ilustrações de Juliana Morrone, o livro é uma viagem mês a mês pelo Brasil católico, constando de:  os doze meses do ano cantados em versos singelos e musicais; as estações do ano abordadas pela perspectiva da diversidade brasileira; as principais festas do ano litúrgico católico representadas e celebradas.

Trata-se de um livro que ajuda a promover a vivência da fé no dia a dia, convidando as crianças a embarcar em uma viagem pelos doze meses do ano e a observar suas particularidades e datas mais importantes.

Confira a seguir trechos de dois dos poemas que compõem o livro, referentes aos meses de junho e outubro:

Junho 

“Em junho, ardem quentões, tachos, fogueiras

Nas sendas do Brasil, de beira a beira,

Pois luz e viva cor traz São João

Anunciando a Nova a cada irmão.

O povo olha pro céu e, alegre, dança...
Os corações transbordam de Esperança!”
Outubro 

“Outubro, ornado em flores coloridas,

Celebra a Conceição Aparecida,

Aquela que, em seu manto azul-profundo,

Das águas do Brasil legou-se ao mundo.

E, como de doçuras não se cansa,

Quis festejar-se junto com as crianças.”

Outros lançamentos

Também pela João e Maria foi lançado esta semana o segundo box das Obras Completas de Elsa Bescow, contendo três livros: A Casa Velha de Pedro, Pinho conta a história dePedro, que ajuda a todos do vilarejo consertando relógios, fazendo curativos e fabricando barquinhos de brinquedo. Mas ele é pobre demais para reformar sua própria casa. Quem virá ao seu socorro quando ele estiver em apuros? Em Pinho Avelã e Botãozinho, os meninos da família Bolota embarcam em uma aventura ao ser levados pelo vento em uma folha seca. Quando todos estão preocupados com o sumiço dos meninos, sua amiga Avelã parte para encontrá-los. e. Finalmente, em Passeio de esqui de Oliver, o protagonista ganha seu primeiro par de esquis, ele parte em uma aventura gelada em companhia do atarefado João das Neves, da problemática Dona Degelo e do bondoso Rei Inverno.

Pela Edições Livre, Rei Lear, de William Shakespeare, com a tradução de Domingos Ramos.

 Dentre todas as trágicas histórias contadas por Shakespeare, não há nenhuma tão dolorosa e que mais profundamente fira o coração humano do que a do Rei Lear; porque é aqui que ele mostra com a maior profundidade a incrível fraqueza do homem. Para destruir as mais felizes eventualidades, basta o erro dum momento; o nosso pobre coração é tão pouco precavido que um só engano de palavra é suficiente para desenraizar os mais tenazes e mais fortes sentimentos! Um movimento de cólera, um capricho momentâneo, um dito mal explicado, e eis uma ventura destruída… Os nossos corações, as nossas almas são de tal modo cegas que não sabem distinguir os sentimentos verdadeiros, que nos são propícios, dos que nos são adversos. E é assim que tomamos por inimigos os nossos amigos e os instintos aparentemente mais infalíveis são os primeiros a enganar-nos.

Pela Kírion, Meditar e aprender: sobre o modo de aprender e meditar, de Hugo de São Vítor.

Hugo de São Vítor foi certamente um dos homens mais célebres de seu tempo por suas virtudes e por sua ciência, o mais renomado de todos os vitorinos. Nascido na Saxônia em 1096, foi professor e diretor da escola do Mosteiro de São Vítor, além de prior deste mesmo mosteiro e bispo. Baseada na tradição cristã e nas Escrituras, toda a sua pedagogia visava formar os estudantes para alcançarem a contemplação, o último grau da Sabedoria — com a qual “tem-se um antegosto nesta vida do que será a recompensa futura” —, uma formação integral que proporcionasse a união com Deus.

Nos dois escritos aqui reunidos, o pequeno tratado Sobre o modo de aprender e meditar e o Opúsculo áureo sobre a arte de meditar, o mestre de São Vítor tratou propriamente da meditação. Se o princípio do conhecimento reside na leitura, que estimula o pensamento, a sua consumação está na meditação, na atenta e assídua recondução do pensamento com vistas a esclarecer o que é obscuro e penetrar o que está oculto. Hugo explica os diferentes gêneros de meditação e que frutos se podem tirar deles, e expõe, com uma descrição precisa e exemplos muito concretos, como devem operar nossas faculdades e como devemos proceder nesse labor, de tal modo que, “avançando sem desanimar, alcemos, no tempo devido, aquilo que vem depois”.


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