Sua vida foi um sacrifício constante pelo bem do Brasil
Hoje, passados quase 130 anos do estabelecimento autoritário — e, portanto, ilegítimo — da República no Brasil, e mais uma complexa série de mudanças de mentalidade, de comportamento e de compreensão das coisas, os brasileiros aceitaram um estereótipo da Monarquia muito distante da realidade. É evidente que, sob o nosso antigo regime, a realidade simbólica da instituição detinha uma importância fundamental. Era necessário sintetizar simbolicamente o significado do poder, daí a pompa e circunstância características da Monarquia. A coroa de brilhantes, o cetro encimado pela serpe dos Bragança, o manto ornamentado com estrelas douradas, a Missa do Espírito Santo, os ritos de abertura e fechamento das câmaras, as falas do trono, a Monarquia brasileira sintetizava uma simbologia facilmente compreensível para o cidadão comum.
O brasileiro contemporâneo, depois de tanto Paulo Freire na veia, não detém mais a capacidade do entendimento imediato dos ritos da Monarquia. Continuidade, lei, ordem, tradição, e, sobretudo, sacrifício, eram as máximas do antigo regime brasileiro. Afirmar que o monarca nascia para reinar implicava dizer que os bebês de sangue azul nasciam não para outro propósito senão o sacrifício. Sim, porque eles ofereciam a totalidade de suas vidas, de suas existências à causa da nação. Foram dois os monarcas que, nascidos em solo brasileiro, foram preparados desde tenra idade para conduzir o Brasil à prosperidade e ao desenvolvimento (marcas indeléveis do Segundo Reinado): D. Pedro II e sua filha, a Princesa Isabel. Ambos nasceram no Palácio de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista. Naquele longínquo 29 de julho de 1846, a Imperatriz Tereza Christina dava à luz a Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bourbon-Duas Sicílias e Bragança. A Princesa, herdeira da coroa, receberia uma educação austera, mas variada, abrangente, sólida, que lhe proporcionaria o domínio das habilidades necessárias para o cumprimento da sua missão.
Na história recente do país, a figura de Dilma Rousseff, cognominada “A Mulher-Sapiens“, ganhou notoriedade. Mas não porque no exercício de suas funções de Presidente (ou PresidANTA, como Sua Excelência fazia questão de ser chamada) Dilma tenha se mostrado excepcionalmente inteligente. Não. É precisamente o contrário: trata-se de um título irônico. O “Sapiens” do seu batismo nobiliárquico traz uma acepção contrária à original: Dilma é tola, fraca dos neurônios, incapaz de manter um raciocínio coerente e tampouco um discurso inteligível. A sapiência da Mulher-Sapiens é a mesma da de uma porta. Era frequente vê-la na mídia a dizer orgulhosamente: “Eu sou a primeira mulher a governar o Brasil!”; e ela dizia isto com a mesma certeza com que o seu padrinho de nove dedos repetia, melancolicamente, “nunca na história desse país…”. Tudo farsa! Dilma não foi a primeira fêmea homo-sapiens a ser responsável pela administração do Brasil. A primeira mulher Chefe de Estado na nossa história foi a D. Maria I, Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, Estado que existiu de 1815 a 1822. D. Maria foi bisavó da Princesa Isabel.
É necessário compreender que o monarca constitucional, contrariando a propaganda revolucionária, não era um “tirano hostil” ou um político corrupto — figura, aliás, permanentemente associada ao político republicano durante todo o transcurso do regime. A Princesa Isabel, assim como o seu pai, o Imperador D. Pedro II, foi, sem exageros, um dos raros exemplos da encarnação do senso de sacrifício na vida pública brasileira. Seu casamento com o Conde d’Eu, o nascimento dos seus filhos, sua dedicação incansável pela causa abolicionista e sua religiosidade devota são imagens da Redentora que a associam justamente à servidão, ao serviço permanente, mas ingrato à causa da coisa pública. O Brasil de hoje não faz jus à “glória no passado” entoada no hino nacional.
Com informações do portal History UOL e do livro Carvalho, de José Murilo, Perfis Brasileiros, D. Pedro II, Cia das Letras Editora, 1ª Edição São Paulo, 2007.
“Se mil tronos eu tivesse, mil tronos eu perderia para pôr fim à escravidão”.
Princesa Isabel, em 1888.
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