HOJE NA HISTÓRIA | A Revolução Constitucionalista sob a perspectiva de uma vovó contadora de histórias

Vitor Marcolin
Vitor Marcolin
Ganhador do Prêmio de Incentivo à Publicação Literária -- Antologia 200 Anos de Independência (2022). Nesta coluna, caro leitor, você encontrará contos, crônicas, resenhas e ensaios sobre as minhas leituras da vida e de alguns livros. Escrevo sobre literatura, crítica literária, história e filosofia. Decidi, a fim de me diferenciar das outras colunas que pululam pelos rincões da Internet, ser sincero a ponto de escrever com o coração na mão. Acredito que a responsabilidade do Eu Substancial diante de Deus seja o norte do escritor sincero. Fiz desta realidade uma meta de vida. Convido-o a me acompanhar, sigamos juntos.

As histórias contadas pelas pessoas simples sobre a História a enriquecem de realidade

Quando criança, poucas coisas me fascinavam tanto quanto as histórias antigas contadas pela minha avó Terezinha. Histórias dos imigrantes, dos caboclos, das viagens de maria-fumaça, histórias da guerra. As narrativas da minha avó, contadas com tamanha simplicidade, não só despertavam a minha imaginação, mas exerciam sobre mim uma espécie de efeito cívico. A velhinha talvez não suspeitasse, talvez não fosse mesmo a sua real intenção, mas as suas histórias fizeram-me pensar, pela primeira vez, no meu próprio país. “Meu pai lutou na Revolução Constitucionalista, meu filho”, disse-me ela certa vez, “ele ficou entrincheirado na Estação da Luz”.

Mais tarde, quando pude ler sobre o que se passou em 1932, nada descobri sobre soldados entrincheirados na Luz. Devo ter corrido os olhos sobre um parágrafo de um artigo qualquer que descrevia a preocupação do Governo Paulista com o Edifício Martinelli — mais por ser um ponto estratégico, em função da sua altura, do que pelo valor histórico da construção, evidentemente. Mas nada encontrei sobre a Estação da Luz. Seja como for, era natural que o Governo, sob os imperativos bélicos do momento, guarnecesse as principais vias férreas, para facilitar o transporte de tropas e equipamentos.

Meu bisavô, que era mineiro, lutara por São Paulo. Minha avó contou-me essa história emocionada. Eu sei que a imagem do seu pai em campo de batalha a tocava mais do que as causas políticas, mais do que as manchetes dos jornais paulistas que, inflamados, criticavam Getúlio Vargas. Ela nunca entendeu claramente os motivos do conflito, não dissera nenhuma palavra sobre a causa da Constituição, sobre a política do café com leite ou sobre a desfaçatez do Presidente que governava com autoritarismo. A singeleza, a despretensão das histórias das gentes simples têm um poder extraordinário: o de fazer os ouvintes, sejam eles netinhos fascinados pelos causos das vovós ou estudiosos da História, expectadores da realidade.

Pôster de incentivo ao alistamento militar. Fonte: domínio público.
Manifestantes pró Constituição na rua XV de Novembro, em São Paulo. Fonte: domínio público.
Paulistas na Praça da Sé. Fonte: domínio público.
Mapa do Estado de São Paulo sinalizando pontos do conflito. Fonte: domínio público.

De São Paulo partiu o brado da Independência; de São Paulo também parte, agora, o brado pela Constituição“.

Manchete d’O Estado de S. Paulo do dia 10 de julho de 1932 sobre a Revolução Constitucionalista que se deflagrara no dia anterior.

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