São Silvestre (sim, o da corrida!) foi o Papa que, sob a intercessão de São Pedro e São Paulo, atuou na conversão de Constantino
Hoje é dia de São Silvestre I, Papa.
Silvestre I (sim, aquele da Corrida de São Silvestre!) foi Papa entre 314 e 355, em uma época importante para a Igreja, que havia saído das catacumbas em 313, após o Édito de Milão.
Contando com o apoio e a amizade do imperador Constantino, que lhe doou o Palácio de Latrão, lá Silvestre I instalou sua cátedra e instituiu a Basílica de Latrão como Catedral de Roma.
Durante seu pontificado, ainda foram construídas, com o apoio de Constantino, as igrejas de São Pedro, no Vaticano; da Santa Cruz, no Palácio Sessoriano; de São Lourenço, fora dos Muros; e de São Martinho (hoje conhecida como Igreja de São Silvestre e São Martinho), perto dos banhos de Diocleciano.
São Silvestre soube aproveitar o momento histórico em favor da expansão da Igreja, e é considerado modelo de Papa. Extremamente humilde, era também bastante habilidoso em lidar com Constantino e seus modos ainda de imperador pagão no que se referia à interferência do Estado nos assuntos da Igreja. Por isso, também, foi muito valiosa sua participação no Concílio de Niceia, em 325.
Uma narrativa que consta na Legenda Aurea, envolvendo a conversão de Constantino com a participação de São Silvestre, é especialmente tocante. Conta-se que, durante a perseguição de Constantino aos cristãos, Silvestre retirou-se da cidade e permaneceu com seus clérigos nas montanhas. Durante esse tempo, o imperador teve seu corpo coberto por lepra. Os sacerdotes pagãos orientaram-no a se banhar no sangue de 3 mil crianças que deveriam ser imoladas aos deuses. Quando saiu para se banhar, Constantino foi interpelado pelas mães das crianças e, tocado por suas súplicas, desistiu do sacrifício e ordenou que as crianças fossem devolvidas às famílias. Naquela noite, foi visitado em sonhos por São Pedro e São Paulo. Os Apóstolos o instruíram a chamar Silvestre a Roma, e o Bispo então lhe mostraria uma piscina onde ele deveria se banhar três vezes, e de onde sairia curado. Depois de contar seu sonho ao Santo Padre, este impôs-lhe oito dias de jejum e exortou-o a abrir as prisões. Assim, quando o imperador entrou nas águas do batistério, um feixe de luz brilhou sobre si, e ele saiu dali curado e garantiu ter visto Nosso Senhor. Naquele dia, começava o Império Romano cristão.
Neste último dia de 2021, peçamos a São Silvestre que continue a interceder junto a Deus pela conversão de um mundo cada vez mais adoentado. Um feliz Ano Novo a todos!
São Silvestre, rogai por nós!
A conversão de Constantino
Quando sofreu severa punição
Constantino, romano imperador
que vinha perseguindo o fiel cristão,
de lepra lhe cobriu Nosso Senhor.
Por ímpios sacerdotes orientado,
dispôs-se a um ato de cruel terror:
em sangue deveria ser banhado,
para isso imolando três mil crianças,
e estaria das pústulas curado.
Sem ver para o seu mal mais esperanças,
um tanto reticente, concordou,
e por todas aquelas vizinhanças
caçar três mil pequenos ordenou,
mas quando já seguia a se lavar
no sangue de inocentes, o cercou
de três mil mães um grupo a lhe clamar
pelas vidas dos pobres pequeninos,
em desespero, aos prantos e a gritar,
no coração do imperador genuínos
inquietantes remorsos despertando,
e desistindo de seus desatinos,
em despertar de um coração mais brando,
Constantino mandou restituir
às mães as crianças, e se retirando,
c’o corpo todo em chagas foi dormir.
Naquela noite, em sonhos, ele viu
São Pedro com São Paulo e a lhe sorrir
e agradecer o gesto nobre e pio.
Ordenaram-lhe os santos que mandasse
buscar Silvestre, o Papa, em seu covil,
e que com ele, então, se retratasse,
que o Santo Padre a cura lhe traria
se ele fizesse tudo o que ordenasse.
Assim, bem cedo, mesmo antes que o dia
nascesse, o Papa foi localizado
lá nas montanhas onde se escondia,
e a Constantino foi encaminhado,
e lá chegando, ouviu a confissão
do imperador contrito e atormentado,
e lhe impôs oito dias de oração
e jejum, e além disso, lhe ordenou
que libertasse todo fiel cristão.
Assim foi feito, e então o batizou
Silvestre, terminada a penitência,
e quando Constantino mergulhou
no batistério, a sua pestilência
erradicada foi como previsto,
e o imperador, em sua consciência
e coração, tomado foi por Cristo.
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