Cada uma das dores de Nossa Senhora é como uma espada afiada que transpassa Seu Imaculado Coração
Hoje é dia de Nossa Senhora das Dores. Nesta data, lembramos as sete dores que Mãe de Deus experimentou em Sua jornada terrestre.
O culto à Mãe Dolorosa, surgiu em 1221, no Mosteiro de Schönau, na Alemanha, e ganhou muita força a partir de 1239, com os membros da Ordem dos Servos de Maria, de Florença, na Itália. Inicialmente, o nome da data era Sete Dores de Maria.
Em 1692, o Papa Inocêncio XIII permitiu a celebração oficial no terceiro domingo de setembro. Em 1714, a celebração foi transferida para a sexta-feira que precedia o Domingo de Ramos. Cem anos depois, em 1814, Pio VII, que estendeu a festa a toda a Igreja, devolveu-a ao terceiro domingo de setembro.
Outros cem anos depois, em 1914, São Pio X determinou que a celebração acontecesse em 15 de setembro, um dia depois da Exaltação da Santa Cruz, com o nome de Nossa Senhora das Dores.
As sete dores de Nossa Senhora são as seguintes:
- A profecia de Simeão sobre Jesus (Lucas, 2, 34-35);
2. A fuga da Sagrada Família para o Egito (Mateus, 2, 13-21);
3. O desaparecimento do Menino Jesus durante três dias (Lucas, 2, 41-51);
4. O encontro de Maria e Jesus a caminho do Calvário (Lucas, 23, 27-31);
5. O sofrimento e morte de Jesus na Cruz (João, 19, 25-27);
6. Maria recebe o corpo do Filho tirado da Cruz (Mateus, 27, 55-61);
7. O sepultamento do corpo do Filho no Santo Sepulcro (Lucas, 23, 55-56).
Em cada um desses episódios, Maria Santíssima experimenta em Seu peito uma dor aguda, terrível, como do golpe de uma espada afiada. Por isso mesmo, algumas das representações de Seu Imaculado Coração apresentam sete espadas a transpassá-lo, uma para cada dor.
Nas belas artes, as dores de Nossa Senhora já renderam inúmeras belas obras, como o Stabat Mater, na música, que entre as versões mais célebres traz as de Vivaldi (1712), Pergolesi (1736), Rossini (1833) e Frisina (2000), ou as Pietás de Michelangelo, e uma infinidade de telas pintadas ao longo dos séculos.
Nossa Senhora, com Suas dores, faz-se nossa Corredentora, pois de forma especialíssima Ela participou do Mistério da Redenção. Ela, em um sacrifício de fé e confiança em Deus, entregou Seu Filho e sofreu com Ele em Sua Paixão. Maria Dolorosa faz-se o modelo perfeito de configuração com Cristo, que nos alivia de nossos sofrimentos, assumindo-os para Si. Que Seu exemplo de caridade, compaixão e sacrifício seja seguido por nós.
Nossa Senhora das Dores, rogai por nós!
As Sete Dores de Nossa Senhora
I
Quando o Menino ao Templo Ela levou
para fazer Sua purificação,
abençoou-Os o velho Simeão,
que em seguida também profetizou:
“Há de ser mote de contradição
Este que o Pai do Céu nos enviou”,
e à Virgem Santa assim vaticinou:
“…e uma espada há de entrar-lhe ao coração.”
Tristeza Ela sentiu naquela vez
tal qual jamais provado em vida havia.
No entanto, logo após, já se refez,
pois confiante ao Pai se submetia,
e piedosa escrava do Senhor,
guardou consigo esta primeira dor.
II
Quando José, em plena madrugada,
com o Menino ao colo, a despertou
e os planos de viagem lhe contou,
em seu peito, sentiu nova estocada.
Enquanto ia-se à fuga azafamada,
o Pequenino junto a si estreitou,
nervosamente ao Pai Eterno orou
e com José partiu desalentada.
Seguindo pelas vias arenosas,
pensando em todos que pra trás deixava,
lembrou das inocentes numerosas
crianças que um tirano assassinava.
Rezou por suas almas ao Senhor,
e consigo guardou mais uma dor.
III
Nova espada Seu coração varou
quando em meio a uma viagem o Menino
sumiu, e sem saber o Seu destino,
por três dias, às cegas, O buscou.
Pela primeira vez era apartada
do Filho, e aquela dor a consumia,
e em meio a intensa e vívida agonia,
procurava-O, perdida e atarantada.
Quando enfim encontrou-O vivo e são,
por um bom tempo a dor ainda pulsou
em Seu atribulado Coração.
De fato, aquela dor nunca a deixou,
pois era de outras dores a promessa,
e como cicatriz, ficou impressa.
IV
Outra espada varou Seu Coração,
quando sofreu Maria a triste sorte
de ver Seu Filho a caminhar pra morte.
Chorou, desfeita em mágoa e em e aflição,
mesmo sabendo que era aquele o fado,
o já previsto fúnebre destino
de Seu Bendito Fruto, Seu Menino,
exausto ali, a sangrar desfigurado.
E quando Seus olhares se cruzaram,
ficou Seu pranto ainda mais copioso,
e enquanto isso, outras mães a auxiliaram
a segui-Lo em Seu curso doloroso,
e no caminho ao Gólgota ficaram
as marcas de Seu trilho lacrimoso.
V
Aos pés da Cruz Ela assistiu aos poucos
o Filho, arfando, quase já sem ar,
num derradeiro lance, a suspirar
os versos de uma prece, curtos, roucos.
Viu que Ele enfim morreu, e muito mais
chorou, e a cada lágrima sentia
a dor aguda que em Seu peito ardia,
estocadas de lâminas brutais.
Fitava agora o Filho, inerte, morto,
Aquele a quem na vida mais amava,
e naquele momento não restava
a tão duro pesar qualquer conforto,
pois em meio a tão funda e atroz tristeza,
a dor era Sua única certeza.
VI
Ainda Ela chorava aos pés da Cruz,
quando silenciosos O tiraram
do Madeiro, e em Seus braços O entregaram.
“Meu Filho tão amado, Meu Jesus!”,
foi tudo que exclamou, antes que mais
doídas lágrimas vertesse ainda.
Era uma dor que Ela sentia infinda,
que parecia não morrer jamais.
Ficou ali olhando-O, e com Seu pranto
lavava o sangue de Seu Corpo Santo,
e a cada lágrima que Ela vertia,
chorava junto d’Ela todo o Céu,
que ali também provava com Maria
tão violento e doloroso fel.
VII
Ao se ver obrigada a finalmente
fechá-Lo em Seu Sepulcro, Ela chorou
ainda destroçada, e ali ficou
com a imagem do Filho em Sua mente.
Cada lembrança a golpeava, afiada
qual lâmina a varar Seu Coração;
a memória fazia-se Paixão,
e a cada pensamento, nova espada.
A olhar a pedra a derradeira vez,
ainda sem poder acreditar,
em novo e longo pranto se desfez,
e entre soluços começou a orar,
porém, só conseguiu dizer “Senhor…”,
e enlutada, fechou-se em Sua dor.