DOSE DE FÉ | São Nicolau

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Conheça a história do bispo que operava milagres, esbofeteava hereges e deu origem ao mito do Papai Noel

Hoje é dia de São Nicolau, bispo.

Nascido em Patras, região da Grécia Oriental, era filho de ricos cristãos fervorosos, e desde criança mostrava inclinação à vida religiosa, preferindo o estudo da Sagrada Escritura e atividades da igreja a brincadeiras e distrações. 

Morando com a família em Mira, desenvolveu o costume de fazer doações anônimas em dinheiro, roupas e alimentos para viúvas, pobres e necessitados. Certa vez, seu vizinho, um nobre falido e pai de três filhas, decidiu enviá-las a um prostíbulo por não ter como pagar seus dotes para o casamento. Escandalizado, Nicolau, às escondidas e de madrugada, deixou em sua casa três sacos de moedas de ouro, com o valor para os três dotes, livrando as jovens da prostituição. Esse fato ajudou a construir a lenda do Papai Noel e inspirou um dos poemas de hoje.

Sagrado bispo em Mira ainda muito jovem, devido a sua sabedoria e sua caridade, trabalhou incansavelmente em seu apostolado, que se estendeu ao Egito e à Palestina. Durante as perseguições de Diocleciano, foi preso e assim permaneceu por duas décadas, jamais esmorecendo na fé e animando os outros prisioneiros cristãos a não esmorecerem e permanecerem fiéis a Jesus. Com o Edito de Constantino, em 321, foi libertado.

Em 325, participou do Concílio de Niceia, atuando decisivamente contra a heresia ariana. Chegou a esbofetear o heresiarca bispo Ario em uma discussão (mote do outro poema de hoje). Conta-se que na abertura do Concílio, Constantino ajoelhou-se diante de Nicolau e lhe beijou as cicatrizes em sinal de veneração.

Imagem que reproduz São Nicolau esbofeteando o herege Ario no Concílio de Niceia

A santidade de Nicolau era reconhecida ainda em vida também por diversos milagres que operou. Certa vez, por exemplo, uma grande fome assolava Mira, e o bispo interpelou os navios de trigo que haviam chegado ao porto e pediu aos capitães uma parte do trigo de cada barco. O trigo vinha de Alexandra, onde havia sido pesado, e destinava-se aos celeiros do imperador. Ainda assim, como Nicolau insistisse e lhes garantisse que nada de mau lhes aconteceria, o trigo foi-lhe entregue. Ao chegarem a seu destino, quando se pesou o trigo, constatou-se o mesmo peso que havia saído de Alexandria.

São Nicolau faleceu em 343 e foi enterrado em Mira. Seu túmulo tornou-se local de grande peregrinação. Posteriormente, seus ossos foram transferidos para a cidade de Bari, na Itália. Lá, até hoje suas relíquias são motivo de gran­de veneração. 

São Nicolau, rogai por nós!

 

Os três saco de ouro

 

Planejava um falido e fraco nobre

suas filhas ao prostíbulo enviar,

por não lhes ter um dote que pagar

pro casamento em ouro ou prata ou cobre.

 

O padre Nicolau, quando descobre

a ofensa atroz, cogita esbofetear

o cidadão, no entanto, em seu lugar,

resolve-se a prestar ajuda ao pobre:

 

na calada da noite, às escondidas,

de caridade o coração em brasa,

apiedado das moças desvalidas,

 

três sacos de ouro deixa em sua casa,

salvando-as de um destino mais cruel,

e aí gerando o mito do Noel.  

 

O tapa

 

Ativo no Concílio de Niceia,

fiel e fervoroso missionário,

o Bispo Nicolau ao Bispo Ario

refuta cada vírgula ou ideia

 

de herética doutrina, e ainda assim,

o heresiarca, indócil oponente,

na má doutrina presa em sua mente

insiste e teima e segue até o fim.

 

Cansado já de tanta teimosia,

lhe esbofeteia a cara Nicolau,

e em afetada e cínica ironia,

 

lhe oferece a outra face o bispo mau,

ao que o bom bispo, em frente mesmo ao Papa,

veloz lhe acerta outro certeiro tapa.


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