DOSE DE FÉ | São João Maria Vianney

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Padroeiro doa Párocos e Padres, São João Maria Vianney foi o maior confessor da história da Igreja, tinha os dons da profecia e da cura, e, por suas resiliência e fortaleza, venceu de cansaço o demônio

Hoje é dia de São João Maria Vianney, ou São Cura d’Ars, sacerdote.

Nascido no vilarejo de Dardilly, ao norte de Lyon, na França, em 8 de maio de 1786, João Maria Batista Vianney era o quarto de sete irmãos. Desde criança nutria um espírito piedoso, gostava de orar e ir à Missa, e afirmava que queria ser padre.

Foi alfabetizado apenas na adolescência, aos 17 anos, quando foi aberta uma escola em seu vilarejo, e pôde aprender o francês culto, pois até então falava apenas um dialeto local. Ainda assim, estudou somente dois anos, pois precisava trabalhar no campo para ajudar a família.

O jovem João Maria enfrentou inúmeras dificuldades para realizar seu sonho de ser sacerdote. Primeiro, com a resistência por parte de seu pai. Além disso, ele vivia em uma França devassada pela Revolução, onde os religiosos eram cruelmente perseguidos pelos jacobinos. Ainda, foi convocado para servir ao exército de Napoleão, mas desertou.

No entanto, com a ajuda do pároco local, conseguiu realizar seu desejo e entrou no Seminário de Écully aos 20 anos. Devido à sua formação precária, João enfrentou muitas dificuldades no Seminário. Não conseguia acompanhar as matérias, sobretudo filosofia e teologia, das quais acabou sendo dispensado. Devido à sua imensa piedade, encontrou padres que o ajudaram de todas as maneiras que puderam em seus estudos. Um deles era Abbé Balley, que lhe dava aulas particulares.

João foi ordenado sacerdote em 13 de agosto de 1815, mas com reservas: ele não tinha permissão para atuar como confessor, pois não era considerado capaz de orientar consciências. Permaneceu ainda três anos no Seminário, como assistente do Padre Balley, e enfim recebeu autorização para ministrar o Sacramento da Confissão.

Em 1818, Padre João Maria foi designado para ser o Vigário (ou Cura; por isso, ele também é conhecido como São Cura d’Ars) de um vilarejo de 40 casas e 230 habitantes, chamado Ars. Conta a tradição que, viajando de carroça, já chegando a Ars, mas perdido em meio à neblina, ele pediu orientação a um pastorinho, Antônio Givre, e então falou-lhe: “Tu me mostraste o caminho de Ars. Eu te mostrarei o caminho do Céu.”

Monumento na entrada da cidade de Ars reproduz a cena de São João Maria Vianney com o pequeno Antônio Givre

Em Ars, novas dificuldades: a aldeia era um pequeno retrato da França pós-revolucionária, terrivelmente dessacralizada. A população local era composta por pessoas com espíritos embrutecidos e impenitentes, que tratavam seu Vigário com desprezo, escárnio e até violência. A igreja, sempre vazia. Deus ali estava esquecido.

O Cura d’Ars, no entanto, não desanimou. Com imensa dificuldade, foi conseguindo tocar o coração daquelas pessoas. Para isso, além de sua amorosa persistência, também passou a oferecer-se em sacrifício amoroso pela conversão daquelas almas, com rigorosos jejuns e penitências, e a Providência o escutou. Aos poucos, um a um, ele converteu todos em Ars.

Treze anos após a chegada do Padre João, Ars era outra. Povo devoto, assíduo à Missa e, principalmente, ao confessionário. Ironia divina, São João Batista Vianney tornou-se o maior confessor da história da Igreja. A essa altura, ela já era Pároco, e sua fama de santidade havia corrido França e Europa afora. Tanto que a pequena Ars tornou-se um ponto de peregrinação muito concorrido. As pessoas chegavam a aguardar por dias para poderem se confessar com o famoso Cura d’Ars, e até mesmo as autoridades políticas francesas, maçônicas e anticristãs, foram obrigadas a construir uma estrada de ferro ligando Lyon e o tão afamado vilarejo.

Dons extraordinários

Além de seu extraordinário ministério, o Santo Pároco de Ars também foi dotado de inúmeros dons, entre eles o da cura (especialmente de crianças) e da profecia. Conta-se que, quando chegou a Ars, olhou para o vilarejo e proferiu as seguintes palavras: “A paróquia não será capaz de conter as multidões que virão aqui”.

Outro dom extraordinário que o Cura d’Ars recebeu foi o poder de expulsar demônios. Ele vivia em constante e paciente luta contra o demônio, que não o deixava dormir para que ficasse esgotado e não pudesse exercer seu ofício. Diante da resiliência e da fortaleza do padre, certa noite o demônio literalmente incendiou seu colchão. A única resposta do padre foi: “Esse vilão do demônio, não podendo pegar o pássaro, queima a sua gaiola”. Foi depois deste episódio que ele foi dotado do poder do exorcismo.

Corpo incorrupto de São João Maria Vianney, exposto no Santuário de Ars

Vai-se o Cura d’Ars

Esgotado pelos anos de incessante trabalho, mas feliz, São João Maria Vianney morreu em 4 de agosto de 1859, aos 73 anos. Passou a ser venerado como santo logo após sua morte, e foi canonizado em 1925, pelo Papa Pio XI, que em 1929 também o declarou Padroeiro dos Párocos e dos Sacerdotes – por isso, também, no dia 4 de agosto, comemora-se o Dia do Padre. Seu corpo permanece incorrupto no Santuário de Ars, até hoje um ponto de peregrinação muito concorrido.

São João Maria Vianney, rogai por nós!

 

A primeira profecia do Cura d’Ars

Chegando em Ars, em meio a um nevoeiro,
Padre João Maria a um Pastorinho
pergunta onde é a vila, e o menininho
aponta-lhe o trajeto bem certeiro.

Agradece-lhe o Cura e, prazenteiro,
aponta o dedo para o pequeninho
e diz: “De Ars tu me mostras o caminho,
e eu do Céu vou te expor todo o roteiro”,

e enquanto o meninote o olha espantado,
desfaz-se o nevoeiro, e se ilumina
a vereda que segue sossegado,

a contemplar o gado na campina,
o piedoso Padre João Maria,
após sua primeira profecia.

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