DOSE DE FÉ丨A coragem de se viver e morrer pelo Rei

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Aprendemos a bem viver por nosso Rei para que estejamos prontos para morrer por ele se necessário

A opção fundamental de se viver por Nosso Senhor Jesus Cristo é simples, mas não é fácil. É necessário que haja coragem, e muita, para ser fiel neste mundo cada vez mais anticristão. Uma coragem que, se necessário, fortaleça-nos para morrer por Ele. Assim foi com um sem-número de mártires desde os tempos dos Apóstolos. Assim foi com São José Luís Sánchez del Río (1913 – 1928), mártir cristero celebrado na próxima sexta-feira, dia 10.

A Cristiada

O martírio do menino José deu-se durante a Cristiada, ou Guerra Cristera, contrarrevolução católica que aconteceu entre 1926 e 1929 no México. O país já vinha enfrentando uma onda anticatólica desde o século XIX, quando os ideais liberais maçônicos tomaram conta da classe política local. A perseguição se intensificou a partir de 1917, quando foi aprovada uma Constituição que cerceava severamente a liberdade e os direitos da Igreja e dos católicos mexicanos, com a obrigatoriedade da educação laica em todas as escolas do país, a proibição das Ordens monásticas, proibição de cultos públicos fora das igrejas, restrição dos direitos de propriedade das organizações religiosas e supressão de todos os direitos civis aos membros do clero.

 Com a ascensão de Plutarco Elias Calles à Presidência em 1924, a situação agravou-se ainda mais. Calles transformou a perseguição anticatólica em um terror revolucionário cruento, com o fechamento e expropriação dos templos e seminários (que viravam presídios ou estábulos, com animais defecando sobre a Santa Cruz ou sobre o Santíssimo nos altares), prisão em massa de leigos e religiosos, execuções públicas com requintes de crueldade, como coroinhas (crianças) que eram enforcados e deixados expostos em postes para aterrorizar a população.

Após um período de resistência pacífica, as perseguições de Calles geraram uma reação armada por parte dos fiéis mexicanos, que durou de 1926 a 1929, quando um acordo de paz[1] encerrou os conflitos. Entre os fiéis mortos em combate ou por meio das perseguições, estimam-se mais de 30 mil pessoas.  

José Luís, exemplar súdito de Cristo Rei

Canonizado como mártir em 16 de outubro de 2016 pelo Papa Francisco, José Luís Sánchez del Río era um garoto muito devoto, membro da Associação Católica da Juventude de Guadalajara. Quando as perseguições anticatólicas de Calles começaram, ele tinha apenas 13 anos e já havia testemunhado diversas atrocidades cometidas contra os fiéis por parte do governo. Foi quando ele se alistou no Exército Cristero, servindo como auxiliar do General Prudêncio Mendoza, chefe maior das tropas.

Em 6 de fevereiro de 1928, quando José Luís estava com 14 anos, foi preso pelas tropas federais e submetido a terríveis torturas. No local onde ficou detido, uma igreja ocupada pelo governo e transformada em estábulo, o Santíssimo, exposto, encontrava-se todo sujo de fezes de galinhas deixadas ali propositalmente.  Seus algozes tentaram de várias maneiras persuadi-lo a abjurar da fé para salvar sua vida. O garoto, fiel ao verdadeiro Soberano, permaneceu irredutível. Nem mesmo as torturas mais cruéis, como arrancarem a pele das solas de seus pés e o obrigarem a, naquelas condições, andar sobre brasas, fizeram com que ele esmorecesse – antes, fortaleciam ainda mais sua profissão de fé. Finalmente, no dia 10, o pequeno herói foi fuzilado. Aos companheiros que morreram com ele, disse antes de morrer: “Nos vemos no Céu! Viva Cristo Rei! Viva Sua Mãe, a Virgem de Guadalupe!”

“Viva Cristo Rei” era a sentença, o lema que unia os Cristeros, que reconheciam em Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, o verdadeiro Soberano, que precede todos os príncipes deste mundo. E como Calles, sendo um destes príncipes, não se submeteu à Ele, e resolveu perseguir Seu rebanho e Sua Igreja, os fiéis mexicanos enfrentaram o tirano sob os estandartes do Salvador, com tal grito de guerra em suas bocas e, sobretudo, em seus corações, até a hora da morte, como fez o jovem José Luís.

E nós? Somos súditos fiéis?

Como afirmei na introdução desta Dose, é preciso coragem para se viver pelo Rei dos Reis neste mundo onde Ele e Seus súditos são tão perseguidos. Em diferentes graus (dependendo da parte do mundo onde vivemos), o espírito da cristofobia se alastra e promove uma caça implacável contra nós em toda parte: nas legislações anticristãs, na mídia, nas escolas, em nosso ambiente de trabalho, entre nossos amigos e conhecidos, em nossa própria família, e, mais grave, entre os próprios membros da Igreja, tanto leigos como religiosos.

E como tem sido nossa resposta neste contexto? Encolhemo-nos e nos acovardamos diante dos avanços anticristãos, das piadas e zombarias contra Jesus, a Igreja e os fiéis, do desprezo contra nossa fé? Acomodamo-nos em uma bolha e nos conformamos com uma fé privada e discreta em nome do respeito humano? Ou, além de nos empenharmos em nossa via espiritual, também tornamos pública e viva nossa fé, sem medo de represálias, e fazemos da vida cristã um apostolado também, até nas “menores” coisas – como não ter vergonha de carregar os símbolos cristãos (escapulários, crucifixos, medalhas etc.) conosco, fazer o Sinal da Cruz sempre que passamos em frente a uma igreja, rezar na rua, orar em ação de graças antes de comer, estejamos onde estivermos, por exemplo?

Se não estivermos preparados para bem viver por nosso Rei, como esperamos ser capazes de morrer por Ele quando as perseguições piorarem? Quando, por exemplo, elas atingirem o mesmo patamar de terror do que já houve no México, na França revolucionária, na Roma anticristã? E acredite, a situação vai se agravar, e muito.

Sejamos, pois, bons súditos. Apeguemo-nos à oração, à penitência, à caridade, à modéstia, à intimidade com Deus e ao verdadeiro amor a Ele e ao próximo. E nunca, nunca nos envergonhemos de nossa fé, jamais nos encolhamos diante das investidas do mundo. Vivamos e, se necessário, morramos por Nosso Divino Monarca. Tenhamos coragem, e levemos sempre em nossos corações o lema do gigante São José Luís Sánchez del Río e seus companheiros mártires Cristeros: Viva Cristo Rei!


[1] Como é comum aos acordos com revolucionários, o tratado de paz, que havia sido mediado pelo próprio Sumo Pontífice Pio XI, foi desrespeitado pouco tempo depois, após os Cristeros ingenuamente terem entregue suas armas. Muitos dos antigos Cristeros, então, passaram a ser implacavelmente perseguidos e mortos em tocaias pelas forças anticatólicas de Calles, que continuou agindo contra a Igreja mesmo após deixar a Presidência no final de 1928.

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