DOSE DE FÉ丨Venerável Margarida Occhiena

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Primeira e mais importante colaboradora da obra de Dom Bosco, Mamãe Margarida, co-fundadora dos Salesianos, revela a importância dos pais no direcionamento dos filhos à santidade

Na edição anterior deste revista, o colega Roberto Lacerda nos presenteou com uma bela Dose de Fé sobre São João Bosco, um dos santos mais populares da Igreja, em seu texto “Quando o bem atrai os ódios”. Em sua matéria, Roberto faz uma referência especial à mãe de Dom Bosco, Margarida Occhiena, a Mamãe Margarida, que foi elevada a Venerável por sua incansável dedicação às crianças atendidas pela obra de seu filho. Inspirado pela matéria do colega, e principalmente em uma palestra de duas mães de minha cidade sobre A Venerável Margarida Occhiena, nesta edição dedicada à família é sobre ela que resolvi escrever.

Nascida em 1º de abril de 1788, em Capriglio, província de Asti, na Itália, Margarida era a sexta de dez filhos dos piedosos camponeses Melquior Marcos Occhiena e Domingas Bossone. Como era comum às crianças camponesas de então, não frequentou a escola, e trabalhou no campo, junto com a família, até se casar com Francisco Bosco em 1812.

Francisco era um camponês viúvo de 27 anos cuja esposa e filha caçula haviam morrido durante o parto. Margaria, então com 24 anos, assumiu seu filho Antônio como seu, e também teve com o marido dois filhos: José e João (o futuro Dom Bosco). Além disso, também assumiu os cuidados com a mãe de Francisco, sua sogra, que vivia muito adoentada.

Em 1817, Francisco morreu vitimado por uma pneumonia e Margarida se viu sozinha com a casa, a lida no campo, a criação dos três meninos e a sogra entrevada. Mulher de grande fé, ela abraçou sua Cruz diária e conseguiu lidar com todos esses desafios com espírito de fortaleza, caridade e confiança em Deus.

Quando o caçula João, aos 9 anos, tem o famoso sonho em que sua vocação é revelada, e conta à sua mãe sobre o desejo de tornar-se religioso, Margarida passa a padecer em casa com a revolta de Antônio, que não aceitava que o irmão mais novo deixasse de trabalhar no campo para prosseguir os estudos. Mulher de sabedoria infusa, apesar de analfabeta, Margarida acreditou no sonho do filho, e, seguindo sua intuição inspirada pelo Espirito Santo, após anos de conflitos familiares, liberou João para os estudos visando a carreira eclesiástica. Nesse processo, enfrentou também a dor da separação do caçula, quando ele saiu de casa aos 12 anos devido ao clima insustentável com o irmão mais velho.

Em 1846, quando Dom Bosco, que já exercia seu santo apostolado em Turim, ficou doente e Margarida foi dar-lhe assistência, ficou impressionada com a obra do filho junto aos meninos abandonados. Um colega de João, Padre Cinzano, sugeriu a ele que convidasse sua mãe para ajudá-lo em seu apostolado, pois teria “um Anjo ao seu lado”. Assim, aos 58 anos de idade, Margarida Occhiena voltou a unir-se ao seu amado caçula.

Por dez anos Mamãe Margarida, como ficou carinhosamente conhecida entre os meninos atendidos por Dom Bosco, tornou-se a primeira e mais importante colaboradora na missão do filho. No Oratório São Francisco de Sales, que ele fundara em 1844 para atender os meninos abandonados de Turim, ela tornou-se a mãe de muitas gerações, sacrificando a si própria para o alívio dos sofrimentos daqueles garotos e a salvação de suas almas. Mamãe Margarida lavava, limpava, costurava, cozinhava, fazia reparos, desdobrava-se em muitas para resolver as tantas demandas que a missão exigia. Nada guardava para si, e tudo o que ganhava empenhava para atender as necessidades dos alunos do Oratório.

Mas não era apenas em questões práticas que Mamãe Margarida atuava. Dotada de diversas virtudes, sobretudo a da Caridade, ela era também um esteio emocional e sobretudo espiritual aos meninos do Oratório, além de ter constituído para eles, junto de Dom Bosco, seu principal modelo moral a ser imitado. Foi uma educadora nata.

Em 25 de novembro de 1856 houve festa entre os Anjos, pois Margarida Occhiena juntava-se às hostes celestes. Vitimou-a uma pneumonia. Entre os meninos do Oratório e todos que conheciam a Mamãe Margarida, em Turim, houve imenso pesar. Aquelas pessoas, inclusive, aclamaram-na como santa logo após sua morte. Formalmente, a causa para sua beatificação, movida pela Congregação Salesiana (que carinhosamente a tem por “co-fundadora”), começou em 7 de março de 1995, quando São João Paulo II declarou-a Serva de Deus. Em 23 de outubro de 2006, Bento XVI proclamou-a Venerável por sua vida de heroica virtude.

Olhando para a biografia da Venerável Margarida Occhiena, podemos notar como é importante o papel da família, e sobretudo dos pais no encaminhamento dos filhos à santidade. De fato, orientar os filhos na direção dos caminhos que levam ao Céu constitui a primeira e mais importante tarefa da família junto às crianças. É fato que Dom Bosco, já desde muito pequeno, era um querido de Deus, e foi por Seus Anjos chamado à sua missão, mas o modelo humano em quem o pequeno João se inspirou estava ali em casa, na figura de sua piedosa e incansável mãe. Isso se verifica, aliás, nas biografias de muitos santos, como Santa Teresinha do Menino Jesus (filha dos Santos Luís e Zélia Martin), São Gregório Magno (criado pelas tias Santa Tarsila e Santa Emiliana), os irmãos São Vilibaldo, São Vinebaldo e Santa Valburga (filhos de São Ricardo), Santo Agostinho (convertido pelo exemplo e as incessantes orações de sua mãe, Santa Mônica), São Luís IX (filho de Santa Branca de Castela), entre outros. Isso sem considerar as incontáveis crianças e adolescentes que voluntariamente acompanharam seus pais em martírios diversos, sobretudo durante as perseguições anticristãs do Império Romano.

Para a santificação de nossas crianças e de nossos jovens, e para a nossa própria, por consequência, sigamos o exemplo desses santos homens e mulheres de Deus, e em especial nesta edição, peçamos:

Venerável Margarida Occhiena, rogai por nós!

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