Entre os gregos, profanar templos e suas relíquias era crime de lesa-pátria. O general Alcibíades foi retirado de sua campanha militar na Sicília, num momento delicado da Guerra do Peloponeso, para responder, em Atenas, a um processo desse tipo. Entre nós, a profanação da religião e seus templos é uma rotina. O interesse político é a motivação principal e há inclusive sacerdotes que a praticam.
Eu detesto proselitismo. Qualquer um. A busca pelo conhecimento e a conservação do sagrado estão acima dos interesses de tipo econômico e político, na escala de valor de tudo de que participa a vida humana, enquanto horizonte, determinação ou técnica. O saber não é técnica, mas consequência da atitude desinteressada. O sagrado, por sua vez, tem relação direta com a verdade, estando em nível superior ao amor pelo conhecimento que a ela conduz.
Penso com meus botões para onde iriam todos os profanadores do sagrado se, de repente, nosso código penal previsse castigos a esse seu crime. Mas essa é uma pergunta impossível na atualidade, uma vez que o modo moderno de fazer política envolve o recurso à religião, razão pela qual não surpreende que até o ateísmo socialista se converta, ele próprio, em religião civil. O ciclo moderno arroga à política a dimensão da finalidade, furtando ao sagrado um aspecto que lhe é próprio.
Voltando aos homens e aos templos, confesso que odeio proselitismo, e fico extremamente feliz ao perceber o quão insignificante ele surge diante da verdade absoluta do sagrado.
Não conhecia o santuário de Aparecida do Norte, tampouco a majestosa basílica ali presente. Estive por lá ontem, com direito a participação numa das missas celebradas ao longo do dia para os milhares de romeiros que ali estiveram. E assombrou-me o poder do sagrado que de modo especial protege o sítio da basílica, sobressalente a qualquer demonstração menor, isto é, àquelas que dizem respeito aos homens e seus interesses.
A devoção popular manifesta no santuário se conecta com tudo o que a basílica representa, sem prejuízo de eventuais frases feitas, sem lá muito sentido religioso, que uma homilia mal inspirada ou outra tragam à missa. É impossível não ajoelhar à presença de Nossa Senhora; e à cruz dependurada e interposta sobre a cruz maior cujo centro é o altar. Este no final das contas, é Cristo e sua pessoa, nenhuma outra coisa. E é esse o sentimento que vemos no olhar de cada fiel postado ao longo dos corredores, cada braço da cruz, à espera da comunhão.
O cristianismo repele, em sua essência, toda espécie de profanação, absorvendo-a na infinita caridade de Deus, sob cuja proteção residem todos os homens, cada único coração fazendo valer o sacrifício em prol da nova aliança. Homem por homem; mulher por mulher; criança por criança fazem de cada templo o que ele é.
Até outro dia, o proselitismo da Teologia da Libertação me parecia um negócio horroroso. Hoje, confesso que me parece mais uma heresia insignificante diante da indestrutibilidade da igreja. Aquilo que é realmente sagrado é impassível de profanação. Danam-se no engano os homens sem, com isso, arrastar ao inferno a cruz.
Bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém.
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Amém. É grandiosa nossa Basílica, como a fé dos brasileiros que cada vez maior há de ser. A arte sacra do exímio Claudio Pastro e do esloveno pe. Marko Ivan Rupnik (as 4 fachadas ganharão seus mosaicos), cuja primeira fachada está pronta, fazem daquela construção austera e hierática um conjunto harmonioso, luminoso e de afetuosa piedade.