BRUNA TORLAY丨O humor salvará o Brasil

Bruna Torlay
Bruna Torlay
Estudiosa de filosofia e escritora, frequenta menos o noticiário que as obras de Platão.

Em 2011, Gregory Wolfe, a fim de recuperar o humano em uma era ideológica, resolveu embarcar numa ampla, profunda e linda fundamentação do juízo segundo o qual a beleza salvará o mundo. A frase é de Dostoievski, e ele estava coberto de razão. Mas não vejo nos brasileiros um apurado senso do belo em sua plenitude. Vejo mais uma inclinação predominante a um aspecto especial da beleza. O humor. Significa dizer que, se a beleza salvará o mundo, o humor salvará o Brasil.

Recorde você, a depender de sua idade, os tipos humanos elaborados por Chico Anysio ou as esquetes impagáveis, mesclando registro do burlesco a linguajar adolescente, do mais recente Hermes & Renato. A base do riso é o consenso prévio com relação ao assunto evocado. Onde há riso, reside algum aspecto do consenso. Significa dizer que, quando falta humor, sobra divisionismo. Mais dividida a sociedade, menos propensa a unificar-se num instante diante do belo – ou do riso, esquecendo as diferenças diante de UM, ao menos UM ponto de consenso.

A beleza salvará o mundo porque está acima de todo olhar que nela se perde; que nela reconhece o eterno que paira, solene, sobre a miséria nossa de cada dia. O humor salvará o Brasil porque funde, num espasmo peculiar de alegria, a compreensão recíproca entre os participantes do discurso em cena.

Os partidos não salvarão o Brasil. Esse político não salvará o Brasil. Aquele prometido não o fará tampouco. Apenas o consenso moral é ele mesmo a semente de uma harmonia social possível. E bem, considerando que nosso problema atual mais esdrúxulo é desejar com toda a alma apedrejar o adversário político da vez, resta ao humor salvar o Brasil; afinal, a única relação saudável entre um povo e seus políticos é aquela atravessada pelo humor.

Sócrates não debochou dos sofistas à toa. Ele tinha um ponto: costurar o laço entre o discurso, a fala — instrumento do acordo — e a verdade. Com vendedores de mentiras no caminho, dificilmente a restauração que ele procurava estabelecer seria viável.

Enquanto tantos de nós cedermos à insanidade de crer cegamente nos vendedores de ilusões que prometem a salvação nas próximas 72 horas, estaremos perdidos. A partir do momento que mudarmos o canal para a sátira feita por humoristas a respeito desses pilantras, acharemos o remédio necessário.

Dostoievski estava certo ao dizer que a beleza salvará o mundo. De minha parte, contudo, insisto que apenas o humor salvará o Brasil.

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