BRUNA TORLAY丨Flávio Dino assumirá o STF e os calmantes Tarja Preta estão em falta

Bruna Torlay
Bruna Torlay
Estudiosa de filosofia e escritora, frequenta menos o noticiário que as obras de Platão.

Toda vez que a malaca esquerda política angaria alguma vitória relevante, parte da direita política entra em parafuso, como se o mundo fosse acabar. É como se sofressem de amnésia retroativa, uma vez que faz duas décadas, pelo menos, que tais ocorrências sucedem ao país, e Bolsonaro passou meros 4 anos no poder, enquanto Lula já esteve outros 10 no passado, antes de retornar para o provável derradeiro mandato de sua trajetória política.

Esse fenômeno é prova do efeito ampliado que produz na imaginação das pessoas uma doentia obsessão por notícias e imprensa de opinião. As pessoas passam dias e dias entupindo-se de conjecturas sobre uma ínfima possibilidade de vencer a batalha da vez, vivem intensamente na imaginação o gostinho da vitória num momento de total desvantagem em campo e, atualizada a dura realidade, caem sobre seus leitos implorando por uma cartela de antidepressivos, jurando de pé junto que agora, ah!, agora o Brasil acaba. Enquanto isso, Lewandowski, filho da antiga colega de feira da finada Dona Marisa Letícia, e responsável pelo fatiamento da pena cabível a Dilma Rousseff quando de seu impedimento, é cotado para assumir o Ministério da Justiça.

Honestamente, eu tenho vontade de rir, como vejo graça nas feições emburradas de meu pequeno filho quando ele cisma em tentar uma manobra para a qual ainda não tem tamanho, sem sucesso. Essa é a razão de eu não ter gastado tempo comentando as peripécias possíveis para evitar a entrada de Dino no STF, apesar de julgar absolutamente honesto e necessário que lideranças da oposição empregassem todos os seus recursos em fazê-lo. É tão justo se buscar diminuir a facilidade com que o adversário caminha em direção à vitória, quanto equilibrado compreender que ele vencerá de toda forma, no final das contas. Esse é o espírito que falta à base da direita política, exasperada a cada vez, como se fosse sua última chance de sorver um pouco de oxigênio antes de ter a cabeça soterrada para sempre ao fundo de um tanque de profundidade infinita.

O sentido da vida extrapola de maneira gritante as piores adversidades políticas imagináveis. E já houve coisas mais graves que um quadro atuante da cultura comunista assumir uma cadeira da burocracia institucional socialista brasileira, moldada durante a Era Vargas. Muito mais grave é a quantidade de impostos que pagamos para poder trabalhar e pagar nossas contas, nós que não temos vontade ou possibilidade de correr para a Flórida na primeira oportunidade. A carga tributária nacional é um problema mais sério, considerando seu potencial de ampliação indefinida da pobreza e miséria concretas do brasileiro, que a nomeação de Flávio Dino. Esta, aliás, só é grave na medida em que pode piorar o problema anterior, uma vez que o supremo substitui cada vez mais o parlamento em termos de prática política efetiva.

Mesmo diante desse problema, muito mais grave que a sabatina fracassada da semana passada, há saídas efetivamente dignas para esse tipo de contratempo. Trabalhar menos por ganhos materiais, e mais por amor ao próximo, por exemplo. Pagar menos a César e dar mais a Deus. Por incrível que pareça, nada é mais prejudicial ao socialismo que pessoas concretas praticando a caridade, em vez de indivíduos ambiciosos gerando rendas astronômicas para contemplar seu ideal de sucesso. Mais uma evidência da sabedoria de Olavo de Carvalho, quando estabeleceu a relação necessária, do ponto de vista da ciência política, entre o espírito liberal e a gana comunista. Invariavelmente, quanto mais tributo prestamos ao modo liberal de viver a vida, mais o comunismo ganha sobre nossa dolorida lombar. Quanto mais indiferença cultivamos pela prosperidade indefinida, menos colaboramos contra a vontade com o sucesso do estado socialista.

“Ah, mas que reflexão idiota!” Fato é que, no dia da sabatina, estava comemorando o aniversário de um sobrinho vendo meus filhos brincarem, enquanto escrevia o programa de um curso novo a respeito do saber inesgotável dos antigos. A vitória não necessariamente corresponde à derrota de seu adversário. Às vezes, ela pode significar, simplesmente, a capacidade de amar o que tem valor, mesmo que o derredor se assemelhe ao reduto mais sombrio do último círculo do inferno.

A todos vocês, desejo antecipadamente um feliz natal.

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