VITOR MARCOLIN | Vista da redação

Vitor Marcolin
Vitor Marcolin
Ganhador do Prêmio de Incentivo à Publicação Literária -- Antologia 200 Anos de Independência (2022). Nesta coluna, caro leitor, você encontrará contos, crônicas, resenhas e ensaios sobre as minhas leituras da vida e de alguns livros. Escrevo sobre literatura, crítica literária, história e filosofia. Decidi, a fim de me diferenciar das outras colunas que pululam pelos rincões da Internet, ser sincero a ponto de escrever com o coração na mão. Acredito que a responsabilidade do Eu Substancial diante de Deus seja o norte do escritor sincero. Fiz desta realidade uma meta de vida. Convido-o a me acompanhar, sigamos juntos.

Nelson Rodrigues contra a conjuntura paulistana

Quando Nelson Rodrigues estava na ativa, nos idos de 1950/60, era comum vê-lo pensativo, com um cigarro entre os dedos, a olhar através da janela. Entre os intervalos dos parágrafos, Nelson levantava-se da cadeira a fim de buscar inspiração na vista da janela que dava para o centro do Rio. Imagino a quantidade e qualidade das crônicas e contos que tomavam forma na mente do “anjo pornográfico” durante aqueles momentos de inspiração.

Minha janela localiza-se no 14º andar de um prédio na Avenida Paulista. E hoje, ao olhar através dela, flagrei-me pensando no mutatis mutandis que me separa do Nelson Rodrigues…

Em São Paulo, é verdade, há mais aviões, há mais helicópteros, há mais carros e motos, mais pessoas que gritam… Aqui não temos o mar para nos acalmar, para abrandar os nossos dias tão atribulados. Mas o paulistano é criativo; e ele não precisa da Baía de Guanabara, do Pão de Açúcar ou do Corcovado para inspirar-lhe a engenhosidade. Não. Aqui ele constrói piscinas no alto dos prédios… Eu vi através da minha janela. 

Mas e o Nelson? Nos tempos do Nelson usava-se máquina de escrever, tinha-se tendinite; nas redações, os colegas sofriam com o calor, porque não havia ar-condicionado. Nos tempos do Nelson a vida era mais dura e mais simples: bastava escrever a carta, botar o selo e despachá-la na agência dos Correios no centro da cidade… A polícia não permitia namorar em praça pública, não. Nos tempos do Nelson os leitores escandalizavam-se ao ler, no jornal do dia, as manchetes sobre a aprovação do divórcio. Hoje… coisa pior.  

***


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3 COMENTÁRIOS

  1. Homens da geração do Nelson Rodrigues suportariam viver nestes tempos de autocensura preventiva? Precisamos deles para saber o que era liberdade de expressão.

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