VITOR MARCOLIN | Seja benévolo, leitor!

Vitor Marcolin
Vitor Marcolin
Ganhador do Prêmio de Incentivo à Publicação Literária -- Antologia 200 Anos de Independência (2022). Nesta coluna, caro leitor, você encontrará contos, crônicas, resenhas e ensaios sobre as minhas leituras da vida e de alguns livros. Escrevo sobre literatura, crítica literária, história e filosofia. Decidi, a fim de me diferenciar das outras colunas que pululam pelos rincões da Internet, ser sincero a ponto de escrever com o coração na mão. Acredito que a responsabilidade do Eu Substancial diante de Deus seja o norte do escritor sincero. Fiz desta realidade uma meta de vida. Convido-o a me acompanhar, sigamos juntos.

E deixe de ser besta!

Alguém disse que escrever é transformar ideias em palavras. Ótima definição! Perceba que o verbo trans-formar quer dizer mudar a forma, a feição, a configuração da coisa. Isso também quer dizer que, quando levado a sério, o ofício da escrita é um trabalho árduo. É uma verdadeira labuta.

Arrastar à força do mundo abstrato as impressões, os conceitos e — por que não? — as opiniões que formulamos sobre a realidade é sempre um desafio tanto hercúleo quanto ingrato. Essa é a verdade. A dificuldade, porém, é dada em primeiro lugar pela própria realidade. Isso porque as palavras são incapazes de comunicar com perfeição aquilo que realmente queremos dizer. Elas são como que paliativos para a nossa condição decadente.

E depois, aquele que lida com as palavras ainda tem de suportar o juízo dos ignorantes. São criaturas que, apressadas em julgar a qualidade do pensamento do escritor, esquecem-se com facilidade das dificuldades inerentes à condição humana. O odioso traz consigo o imperativo de que não deve haver mistérios na vida.

E se não há mistérios, não há beleza, não há poesia, não há religião; o esforço ingrato de tentar dizer, tentar pôr em palavras a experiência, não faz sentido. O odioso deve cuspir com asco ao sentir ligeiramente o sabor da esperança.

A solução para esse tipo de leitor é óbvia: ele tem de deixar de ser besta. As bestas são os animais para os quais o Criador negou a capacidade racional. O leitor tem de pensar, tem de se esforçar, tem de pedir com insistência para que as portas da compreensão lhe sejam abertas.

Mas a experiência do entendimento só vem àqueles que a buscam com sinceridade, o que só pode indicar amor à verdade — porque a sinceridade em si é como que uma forma subjetiva de verdade. Não há outro caminho: ou se ama o próximo, ou tudo, em absoluto, será mentira, falsidade e incompreensão. Escrever não é fácil. Seja benévolo, leitor!

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