SANTO CONTO | Pão, pão, pão

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Baseado em um milagre de Santa Clara de Assis

Menina, não reclame! Se temos apenas pão, isso já é uma grande dádiva de Nosso Senhor, e devemos dar graças a Ele a todo momento! Agora, se você está procurando algo a mais, que vá procurar lá fora, no mundo. Aqui, a gente confia na Providência e agradece! Você é bem jovem e não passou pelo que eu e muitas irmãs aqui passamos, nem conheceu a Irmã Clara, mas tudo bem. Senta aí que vou te contar uma história…

Foi no tempo da Irmã Clara. Eu era novinha de tudo, devia ter a sua idade, e já trabalhava aqui na cozinha. A cidade sitiada, cheia de invasores infiéis cercando as estradas, assaltando, matando, um horror! Aí, começou a faltar tudo pra todo mundo, e deixamos de receber as doações que nos mantinham. Fomos cortando daqui, improvisando dali, mas chegou uma hora que as coisas todas acabaram.

Tinha acabado o leite, as cabras, ovos, as galinhas, a horta não estava dando conta, já não tínhamos mais comida, nem como fazer. Era nada de nada, a não ser um pão. Um único pão pra cinquenta irmãs, você imagina o que a gente ia passar.

Naquele dia eu chamei Irmã Clara aqui e expliquei a situação. Estava exasperada, agitada, segurando o choro. Ela só olhou pra mim, olhou pro pão, fez uma oração em silêncio e falou que era para eu cortar em cinquenta pedaços, um pra cada irmã. Obedeci, tentando deixar cada pedacinho mais ou menos igual ao outro. Fui olhando aquela refeição, pensando na fome que a gente ia passar, e comecei a chorar. Irmã Clara me abraçou, disse para eu confiar em Nosso Senhor e me chamou pra rezar na Capela, diante d’Ele.

Mas confesso que não confiei não. Nem rezei. Acha que eu conseguia me concentrar em rezar uma hora daquelas? Nada! Na minha cabeça eu só via o pão, o pão só, dividido naqueles pedacinhos minúsculos. Via a gente passando fome e chorava em silêncio, Irmã Clara com a mão na minha cabeça, me consolando, e rezando sem parar.

Quando ela terminou, me puxou de volta pra cozinha, eu ainda chorava. E quando chegamos, a surpresa: os pedacinhos de pão tinham virado um cesto, enorme, cheio de pães quentinhos como se tivessem acabado de sair do forno! Nem preciso te dizer que aí sim foi que chorei mais ainda, de joelhos, maravilhada e com o coração doído por ter duvidado de Deus.

Deu pra todo mundo comer, e ainda sobrou. E todo dia tinha mais pão esperando, era só chegar aqui, que o cesto estava ali, bem em cima da mesa, cheinho. Era pão que não acabava mais. Até pros pobres nós demos, tanto que tinha! E foi só o que a gente comeu por aqueles tempos, e foi bastante tempo, bastante mesmo.

Aquele pão nos alimentou e nos susteve, menina, e foi com ele que eu aprendi a confiar no Senhor, que é o Pão melhor de todos, o que faz forte a nossa alma. Por isso, eu repito: não reclame mais não. Coma seu pão e reze. Confie n’Ele. Ou vá pro mundo. A escolha é sua. Mas não volte a reclamar que “só tem pão”. Agora, vai cuidar das suas obrigações, que tenho aqui as minhas. Deus te abençoe!


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