SANTO CONTO | O retrato

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Baseado nos registros de Santo Eusébio de Cesareia 

Estava Jesus entre os Seus, quando chegou um mensageiro que Lhe trazia uma carta:

Abgar, rei, filho de Eucanias, a Jesus, o bom Salvador, que apareceu em Jerusalém, saudação. Ouvi falar de ti e das curas que fazes sem empregar medicamentos ou ervas; fazes os cegos verem, os coxos andarem, os leprosos ficarem puros e os mortos reviverem. Tendo ouvido falar todas essas maravilhas de ti, entendi que és Deus descido do Céu, ou o Filho d’Ele. Por isso escrevo para pedir-te que venhas a Edessa e me cures de uma dor que me atormenta há muito tempo. Sei que há entre os judeus aqueles que te amaldiçoam e querem maltratá-lo. Vem, pois, a minha cidade, que é pequena, mas honesta, e pode bastar a nós dois.

O Rabi leu comovido aquelas breves palavras de fé a amizade vindas do bom rei, que cria n’Ele sem sequer conhecê-Lo. Não tardou a responder-lhe, e o emissário de Abgar voltou a Edessa levando outra carta:

Bem-aventurado és, pois creste sem me ter visto. Está escrito que muitos dos que não me veem acreditarão, e muitos dos que me veem não acreditarão. Quanto a ir ver-te, é preciso que se cumpram todas as coisas para as quais fui enviado, e que em seguida eu seja recebido por Aquele que me enviou. Mas não tenhas medo: após minha Ascensão, enviarei um dos meus discípulos para curar-te e vivificar-te.

O rei ficou frustrado, mas confiou nas palavras do Mestre. Ainda assim, querendo muito vê-Lo de alguma forma, enviou a Ele um novo empregado, um pintor, o melhor artista de Edessa, para fazer Seu retrato. Jesus novamente comoveu-se, pois conhecia o coração de Abgar. No entanto, como Ele mesmo sabia, o retrato não foi possível. Não como se imaginava. O pintor não conseguia captar a imagem de Jesus, pois Sua face e Seus olhos irradiavam um brilho que o maravilhavam e cegavam. Após três tentativas frustradas, o artista prostrou-se de joelhos e pôs-se a chorar, implorando:

– Mestre, se eu não voltar a Edessa com esse retrato, cairei em desgraça perante meu rei!

O bom Pastor, compadecido do homem que tremia diante de Si, tocou-lhe a cabeça e o consolou:

– Nada temas, amigo. Olha para mim agora e conforta teu coração.

O homem olhou para Jesus e desta vez não viu aqueles dois sóis que lhe ofuscavam vista, mas olhos de piedade, de um Pai bom e compassivo. Então, falou:

– Eu creio em ti, Senhor. Nada temo!

Jesus sorriu e pediu ao homem:

– Agora, dá-me um bom pedaço de tua túnica.

 O artista obedeceu, rasgou uma fatia larga de suas vestes e a entregou a Jesus. Então, viu-O cobrir Seu rosto com aquele pedaço de pano, sob o qual viu resplandecer novo fulgor. Quando Jesus calmamente entregou-lhe tecido, ele pôde ver gravada ali com perfeição a face do Rabi: olhos, sobrancelhas, nariz, boca, tudo, em uma imagem que inspirava ternura e confiança. O homem caiu novamente de joelhos, desta vez chorando de alegria e beijando as mãos de Jesus, que o puxou para Si e se despediu dele com um abraço:

– Agora vai e leva o presente a teu rei. Que a paz seja contigo.

E o homem foi, alegre, dando graças aos Céus e bendizendo o nome do Filho de Deus.

 

(Continua em “A cura de Abgar”)


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