SANQUIXOTENE DE LA PANÇA | Polarização, Surdez, e Censura

Paulo Sanchotene
Paulo Sanchotene
Paulo Roberto Tellechea Sanchotene é mestre em Direito pela UFRGS e possui um M.A. em Política pela Catholic University of America. Escreveu e apresentou trabalhos no Brasil e no exterior, sobre os pensamentos de Eric Voegelin, Russell Kirk, e Platão, sobre a história política americana, e sobre direito internacional. É casado e pai de dois filhos. Atualmente, mora no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira entre a civilização e a Argentina, onde administra a estância da família (Santo Antônio da Askatasuna).

Aprender Libras é bom, mas não resolve nosso caso…

[Imagem: Léo Viturinno]


Não temos experiência suficiente para que o debate público no Brasil seja de qualidade. Atualmente, não há diálogo; somente “conversas” entre surdos. Ninguém se entende. Só é possível melhorar isso com a prática. Contudo, o Brasil quer tomar o caminho inverso.


O problema do debate público no Brasil é ser uma verdadeira “conversa de surdos”. Eis uns exemplos didáticos meramente ilustrativos:


– A esquerda fala: “Taxem-se os ricos; ajudem-se os pobres.
– A direita ouve: “Matem-se os ricos; tomem-lhes tudo.

– A direita fala: “Reduza-se a burocracia; desregulamente-se o mercado.
– A esquerda ouve: “Matem-se os pobres; volte-se à escravidão.

– A esquerda fala: “Separe-se estado e igreja.
– A direita ouve: “Jogue-se os cristãos aos leões.

– A direita fala: “Proteja-se o casamento e a família.
– A esquerda ouve: “Apedreje-se os viados.

– A esquerda fala: “Respeite-se os Direitos Humanos.
– A direita ouve: “Promova-se o caos e a insegurança.

– A direita fala: “Respeite-se o direito à auto-defesa.
– A esquerda ouve: “Meta-se bala nos vagabundos.

Ora! Fica difícil conversar desse jeito.

Porém, trata-se da única saída. Somente o debate aberto e franco é capaz de reduzir tais mal-entendidos.

E isso não se resume à “Direita e Esquerda”. Este final-de-semana mesmo, no grupo de WhatsApp dos colunistas da Esmeril, nos demos conta que estávamos usando o termo “humanismo” em sentidos diferentes. Não nos entenderíamos nunca!

Mas, de novo, só percebemos a confusão após algumas trocas de idéias que pareciam não nos levar a lugar algum. Até ali, seguíamos numa “conversa de surdos”.

Se já é difícil entre amigos, com quem se tem certa proximidade, imagina no ambiente público. É muito mais difícil e complicado. É normal, pois, isso o que passamos.

Nos falta experiência; e experiência só se adquire na prática. É preciso fazer esforço, e os resultados levam tempo para aparecer.

Contudo, ao invés de se promover a interação entre as pessoas, nós preferimos atacar a “polarização” e limitar os debates. É esse sentimento por trás da vontade de aumentar a regularização sobre as redes sociais.

Isso tende a apenas agravar o problema…

2 COMENTÁRIOS

  1. É uma sociedade hiper-secundarizada. As instituições primárias, família e família aumentada, grêmio, bairro, comunidade, paróquia, estão sumamente enfraquecidas frente às esferas secundárias, que são as corporações e os governos. Então se as pessoas forem procurar a mediação das esferas secundárias para regular os conflitos, os conflitos serão sufocados e teremos a paz dos cemitérios. A única saída é colocar todas as fichas nas relações primárias: amigos, amigos de amigos, familiares com quem se possa ter amizade, redes informais de afinidades e interesses. Isso está não é fácil porque a cultura e o vocabulário comum estão em estado precário. A cultura e as relações humanas estão sendo reconstituídas neste momento através da fé e da espiritualidade, não tem outro caminho. O motivo de tantas conversões à fé católica que estamos assistindo é não somente a descoberta de Cristo mas também a pertença à Igreja, Corpo de Cristo, uma igreja que pela renovação ganha novo influxo do Espírito Santo, para também reprimarizar-se e “desengessar”.

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