Aprender Libras é bom, mas não resolve nosso caso…
[Imagem: Léo Viturinno]
Não temos experiência suficiente para que o debate público no Brasil seja de qualidade. Atualmente, não há diálogo; somente “conversas” entre surdos. Ninguém se entende. Só é possível melhorar isso com a prática. Contudo, o Brasil quer tomar o caminho inverso.
O problema do debate público no Brasil é ser uma verdadeira “conversa de surdos”. Eis uns exemplos didáticos meramente ilustrativos:
– A esquerda fala: “Taxem-se os ricos; ajudem-se os pobres.“
– A direita ouve: “Matem-se os ricos; tomem-lhes tudo.“
– A direita fala: “Reduza-se a burocracia; desregulamente-se o mercado.“
– A esquerda ouve: “Matem-se os pobres; volte-se à escravidão.“
– A esquerda fala: “Separe-se estado e igreja.“
– A direita ouve: “Jogue-se os cristãos aos leões.“
– A direita fala: “Proteja-se o casamento e a família.“
– A esquerda ouve: “Apedreje-se os viados.“
– A esquerda fala: “Respeite-se os Direitos Humanos.“
– A direita ouve: “Promova-se o caos e a insegurança.“
– A direita fala: “Respeite-se o direito à auto-defesa.“
– A esquerda ouve: “Meta-se bala nos vagabundos.“
Ora! Fica difícil conversar desse jeito.
Porém, trata-se da única saída. Somente o debate aberto e franco é capaz de reduzir tais mal-entendidos.
E isso não se resume à “Direita e Esquerda”. Este final-de-semana mesmo, no grupo de WhatsApp dos colunistas da Esmeril, nos demos conta que estávamos usando o termo “humanismo” em sentidos diferentes. Não nos entenderíamos nunca!
Mas, de novo, só percebemos a confusão após algumas trocas de idéias que pareciam não nos levar a lugar algum. Até ali, seguíamos numa “conversa de surdos”.
Se já é difícil entre amigos, com quem se tem certa proximidade, imagina no ambiente público. É muito mais difícil e complicado. É normal, pois, isso o que passamos.
Nos falta experiência; e experiência só se adquire na prática. É preciso fazer esforço, e os resultados levam tempo para aparecer.
Contudo, ao invés de se promover a interação entre as pessoas, nós preferimos atacar a “polarização” e limitar os debates. É esse sentimento por trás da vontade de aumentar a regularização sobre as redes sociais.
Isso tende a apenas agravar o problema…
É uma sociedade hiper-secundarizada. As instituições primárias, família e família aumentada, grêmio, bairro, comunidade, paróquia, estão sumamente enfraquecidas frente às esferas secundárias, que são as corporações e os governos. Então se as pessoas forem procurar a mediação das esferas secundárias para regular os conflitos, os conflitos serão sufocados e teremos a paz dos cemitérios. A única saída é colocar todas as fichas nas relações primárias: amigos, amigos de amigos, familiares com quem se possa ter amizade, redes informais de afinidades e interesses. Isso está não é fácil porque a cultura e o vocabulário comum estão em estado precário. A cultura e as relações humanas estão sendo reconstituídas neste momento através da fé e da espiritualidade, não tem outro caminho. O motivo de tantas conversões à fé católica que estamos assistindo é não somente a descoberta de Cristo mas também a pertença à Igreja, Corpo de Cristo, uma igreja que pela renovação ganha novo influxo do Espírito Santo, para também reprimarizar-se e “desengessar”.
Muito boas as colocações. Terei que refletir com calma sobre isso. Acho que pode até virar uma coluna.
Muito obrigado!