SANQUIXOTENE DE LA PANÇA | Multidão na Paulista – Agora, ¿e daí?

Paulo Sanchotene
Paulo Sanchotene
Paulo Roberto Tellechea Sanchotene é mestre em Direito pela UFRGS e possui um M.A. em Política pela Catholic University of America. Escreveu e apresentou trabalhos no Brasil e no exterior, sobre os pensamentos de Eric Voegelin, Russell Kirk, e Platão, sobre a história política americana, e sobre direito internacional. É casado e pai de dois filhos. Atualmente, mora no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira entre a civilização e a Argentina, onde administra a estância da família (Santo Antônio da Askatasuna).

Muito bem, mas ¿para que serviu?

(Imagem: Metrópoles)


¿De que vale a manifestação na Paulista? Um amigo me fez essa pergunta. Não soube responder. Respondo-a agora. Já adianto: tentei falar positivamente, mas não consegui. Até foi uma boa notícia, frise-se. Só não foi boa o suficiente – e ainda realçou problemas que precisamos resolver.


Terça-feira, 14 de Quaresma de 524

Nesse domingo, A Direita mobilizou-se uma multidão verde-e-amarela na avenida Paulista. Diante da notícia, amigo meu me perguntou: “‘Tá. ¿E aí?

Gostei da questão. É bastante pertinente. É preciso mesmo respondê-la.

Há certos fatos a se considerar – no mínimo, dois.

Primeiro, foi um ato concentrado em São Paulo; não havendo manifestações relevantes noutros centros. Segundo, há eleições em outubro; porém, são restritas aos municípios.

Faço tais considerações porque têm relação. Seria preferível haver diversas manifestações simultâneas, porém a única eleição de peso nacional neste ano é a de São Paulo. [Quiçá, também a do Rio, mas seria só.] Outrossim, haveria o risco de diluir o evento e, ao invés de se demonstrar força, ocorresse o oposto.

Contudo, a ausência de pessoas nas ruas noutras cidades tem seu preço. A Direita mostrou ainda ter capacidade de mobilização [a boa notícia de domingo, pois era uma dúvida], mas essa já não seria tão forte quanto era há poucos anos [a má notícia].

Para causar impactos diretos e imediatos na política nacional, o evento de domingo é insuficiente. No curto prazo, a manifestação representa o começo da campanha da Direita para a importante disputa pela prefeitura de São Paulo.

Nesse sentido, o ato pode realmente ter sido um sucesso.

Imagino o meu amigo a retrucar: “¿Mas isso não é pouco?

É pouco, obviamente. Ainda que não se possa se subestimar a prefeitura paulistana, a Direita mostrou ter apenas uma bala na agulha em 2024.

Isso é fruto da desorganização e falta de estrutura política que assolam a Direita há tempos – algo ainda sem solução no horizonte.

No fundo, é o mesmo problema apontado por aqueles que questionam o tão falado “Congresso mais conservador que o Brasil já elegeu”. A frase até pode ser verdadeira, ainda que isso não traga efeitos práticos. Só que muitos acreditaram nos histéricos pró-regime.

Desorganização e falta de estrutura favorecem personificação. Tivemos “meia dúzia” de deputados bem votados, mas esses puxaram colegas de partido que pertencem ao Centrão. Enquanto isso, diversos nomes bons ficaram de fora [inclusive alguns que buscavam reeleição].   

Ainda assim, esses centronistas foram eleitos com votos da Direita. É possível fazê-los andarem na linha, mas isso demanda pressão constante. Eles precisam sentir sempre o peso do eleitorado. Se hoje estão confortáveis “namorando” o governo em troca de benesses, é porque a desorganização e falta de estrutura da Direita permite.

Se ganharmos a prefeitura de São Paulo, ¿como evitar ser uma vitória do Centrão com nossos votos?

Pois essa questão, eu até muito gostaria, mas não sei responder…

5 COMENTÁRIOS

      • A chamada “direita brasileira” não possui unidade nem intelectual, como poderia ter uma política? Ela é desorganizada por natureza. Por baixo deve haver algumas crenças grupais, quase como “sentimentos inconscientes” que façam ela de tempos em tempos se juntar, mas sempre foi e continuará sendo facilmente influenciada por quem detém os meios. Não faz sentido, numa situação dessas, buscar na direita política soluções para a polis.

        • Opa. Excelentes colocações. Muito obrigado.

          Respondo-as por partes.

          A chamada “direita brasileira” não possui unidade nem intelectual, como poderia ter uma política?

          Possui uma unidade, a qual reconheces ao dizer que “deve haver algumas crenças grupais”. A Direita, mal ou bem, é reconhecível.

          Ela é desorganizada por natureza…

          Já foi organizada. É meramente circunstancial. Aconteceu de a Direita ter perdido representação política e, apesar de ter voltado a ter peso eleitoral, isso ainda não foi acompanhado por uma reestruturação político-partidária.

          … sempre foi e continuará sendo facilmente influenciada por quem detém os meios.

          Isso é próprio do jogo político. Sempre haverá lideranças. Agora, como escrevi, a desorganização favorece uma personalização: “É o Fulano ou nada.” Até porque efetivamente é isso mesmo. Precisamos de alguns “fulanos” dispostos a largar as diferenças de lado e organizar a Direita institucionalmente. Hoje, infelizmente, não os temos.

          Não faz sentido, numa situação dessas, buscar na direita política soluções para a polis.

          Evidentemente que não. Para isso, a Direita precisa se encontrar primeiro. O fato de essa ainda não ter se achado é parte do problema da nossa pólis, aliás.

          • Reconheço vários fragmentos, não uma unidade. Claro que deve haver uma unidade que os sustente – ou seja, por baixo -, mas não necessàriamente uma unidade entre eles (é disso que estava falando). Desde o Regime Militar não vejo unidade alguma na direita brasileira; dentro da nova forma democrática de governo (ou pelo menos assim a chamam) a única coisa que a direita conseguiu lograr foi uma vitória eleitoral, e a muito custo. Tendo em vista, pois, essa forma que ela tomou nesse novo regime, parece-me “desorganizada por natureza”. Claro que ela pode mudar a sua finalidade ao preterir o êxito eleitoral ao intelectual, e acho que deve fazê-lo, mas, como dizem, querer não é poder.

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