SANQUIXOTENE DE LA PANÇA | Família é tudo igual

Paulo Sanchotene
Paulo Sanchotene
Paulo Roberto Tellechea Sanchotene é mestre em Direito pela UFRGS e possui um M.A. em Política pela Catholic University of America. Escreveu e apresentou trabalhos no Brasil e no exterior, sobre os pensamentos de Eric Voegelin, Russell Kirk, e Platão, sobre a história política americana, e sobre direito internacional. É casado e pai de dois filhos. Atualmente, mora no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira entre a civilização e a Argentina, onde administra a estância da família (Santo Antônio da Askatasuna).

Nas férias também se aprende coisas relevantes.


Meu trabalho permite que eu “alongue” as férias. Apesar de já estar com saudade de casa, quando voltar, terei saudades da família – afinal, esposa e filhos continuarão em viagem. [Não digo que continuarão de férias, pois para a mãe as férias terão acabado. Ela se cansa menos em casa!] É uma troca de saudades. Então, espicho ficar junto à família até onde dá.

Eu não gosto de praia, mas sou voto vencido em casa. Então, fomos passar este final-de-semana na casa do meu irmão. Ele trabalha feito um condenado. Em compensação, mora com vista para o mar.

Minha cunhada está grávida. É o primeiro filho do casal. O nome da criança não será MacLeod – mas deveria. Um highlander! Imortal, esse já é gremista desde o ventre…

A esposa do meu irmão só descobriu que estava grávida depois de ter uma infecção grave, que necessitou de uma intervenção de urgência. Ela não morreu por questões de horas, e porque o cirurgião fez um baita trabalho. A infecção essa foi decorrente de um rasgo no intestino, que fora causado por uma cirurgia no colo do útero. Essa cirurgia fora feita para ajudar a engravidar.

Só que ela já estava grávida. O médico poderia ter abortado o meu sobrinho, e ninguém teria ficado nem sabendo!

Nossa mãe também estava lá na casa. A mãe tem passado este verão no litoral. Ela está no terceiro tratamento para câncer, que teima em voltar. A oncologia avançou bastante, mas o princípio do combate à doença segue igual: envenena-se o paciente e torce-se para que o câncer morra primeiro.

A mãe venceu todas e está ganhando mais esta. Porém, é uma luta dura. Ela não gosta de ficar parada. Ela quer fazer as coisas, mas não aguenta. Ontem, mal conseguiu sair da praia. Ainda bem que havia gente prestativa que prontamente se ofereceu a ajudá-la. [O brasileiro é caridoso. Os exemplos estão aí para quem presta atenção.]

Desta vez, só faltou a nossa irmã. [Nossos pais são divorciados. Vi o pai no fim-de-semana anterior.] Ela mora em São Paulo, é casada, e me deu uma sobrinha linda. Quando ela foi visitar nosso irmão, quem faltara fui eu. Não conseguimos nos encontrar. Acontece.

Na volta, pegamos uma chuvarada na estrada. Passamos por quatro acidentes. Chegamos sãos e salvos a Porto Alegre, mas não a tempo de eu levar as crianças ao jogo do Grêmio contra o São José no Passo d’Areia. Assistimos pela tevê. Ganhamos: 1-0.

Pensei nesta coluna, mas só consegui escrevê-la na segunda-feira pela manhã; depois de checar como andam as coisas na estância. Lá fora, a estiagem segue. Quando chove, é muito pouco. O gado, porém, tem suportado a seca. Poderia estar bem pior.

Não vos contei tudo, evidentemente. Isto é um artigo; não, uma canção sertaneja.

Ainda assim, olhando bem, não tenho o que reclamar. Só posso agradecer.

8 COMENTÁRIOS

  1. Caro Sr. De La Pança (Paulo Sanchotene) concordo quando dizes que família é tudo igual, umas mais outras nem tanto. As agruras pelas quais passamos são pertinentes à nossa condição humana e assim a vida passa diante dos nossos olhos.
    Obrigado meu caro, as coisas mais simples, mais comezinhas são as que nos farão falta mais adiante.
    Agora, que você deu um migué ao escrever a coluna hoje, isso deu!
    Forte abraço.

    • Hahaha! Não dei “migué”. A coluna desta semana une as duas anteriores.

      O texto mostra um exemplo de “seguir com a vida”, ao mesmo tempo que convida o leitor a compartir de experiência alheia; isto é, a transcender-se.

      Nada é por acaso.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Abertos

Últimos do Autor