SANQUIXOTENE DE LA PANÇA | Aprendendo com os Filhos

Paulo Sanchotene
Paulo Sanchotene
Paulo Roberto Tellechea Sanchotene é mestre em Direito pela UFRGS e possui um M.A. em Política pela Catholic University of America. Escreveu e apresentou trabalhos no Brasil e no exterior, sobre os pensamentos de Eric Voegelin, Russell Kirk, e Platão, sobre a história política americana, e sobre direito internacional. É casado e pai de dois filhos. Atualmente, mora no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira entre a civilização e a Argentina, onde administra a estância da família (Santo Antônio da Askatasuna).

Sai igual porque também fez o pai


Briguei com meu filho. Acabou servindo como aprendizado; e mais para mim do que para ele.


Ao mesmo tempo em que ensinamos nossos filhos a serem filhos, eles nos ensinam a sermos pais. É impressionante.

Briguei com filho meu ontem durante o jantar. Não que inexistisse motivo, mas era besta. Minha reação foi exagerada. Por incrível que pareça, ele não se importou. Ele tem um coração gigantesco. Me perdoou na hora.

Quem se importou foi o outro. Para ele, estragou a refeição. Começou a lacrimejar e teve que sair da mesa. “Tu tens que resolver isso”, ouvi da mãe. Nem preciso descrever o olhar que acompanhou tais palavras.

Me levantei e fui à sala de estar. Não fazia idéia do que dizer. Respirei fundo e optei pela sinceridade.

No princípio, ele não queria me ouvir. Mesmo assim, lhe pedi desculpas e o agradeci. Apresentei meu ponto-de-vista. Antes de eu fazer o que fiz, me parecera ser o correto. Só percebi a bobagem depois, com a reação dele. Reafirmei ele estar certo.

Ainda bravo comigo, ele quis sair da sala. Eu não o deixei. E foi então que aconteceu o que eu realmente quero registrar aqui.

Falei para ele: “Um dia, tu vais poder olhar para a minha cara e dizer que não precisas aturar meus erros e sair. Hoje, não. Esse dia, quando chegar, vai ser agridoce para mim. Vai ser doce, porque tu terás virado um homem, senhor de si, independente. Vai ser amargo, porque eu estarei errado e, principalmente, porque tu não serás mais o meu guri.

Ele parou. Não disse nada. Então, veio até mim e me deu um abraço. Só então falou: “Não quero deixar de ser o teu guri.

Choramos juntos. Aí, disse a ele:

Tu nunca deixarás de ser para mim. Mas tu vais crescer e ter a tua vida. Essas conversas são importantes para isso. Obrigado por me fazer e me deixar conversar contigo. A gente só aprende a conversar conversando. Sem conversa agora, depois vai ficando mais difícil. Não quero ser um pai que não sabe conversar com os filhos.

Realmente, não quero ser um pai que não sabe conversar com os filhos. Ontem, errei. Mas eles me mostraram o erro e me permitiram corrigir. Para isso, é preciso conversar.

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