“É o melhor romance brasileiro que li nos últimos anos” — Olavo de Carvalho
Antonio Fernando Borges é um daqueles escritores que valem por uma escola. Explico-me: escrever é dar uma forma verbal bem-acabada às suas experiências com a realidade. A realidade à qual o adjetivo destacado se refere é a perfeita união entre a forma e o conteúdo. O escritor-escola não é aquele que simplesmente tem algo a dizer, senão que o faz com exemplar domínio do idioma. Pudera, o autor é professor de Arte da Escrita; daí que lê-lo vale por uma escola.
É evidente que o ápice da consolidação do estilo só é alcançado depois de anos de labuta, de esforço concentrado, da lide com o idioma. O autor de Braz, Quincas & Cia (Cia das Letras, 2002) tem precisamente essa característica: escreve com beleza e sabedoria; aprendeu, depois de décadas, a dar uma forma graciosa não às ideias originais, mas às ideias verdadeiras. E não é assim que se deve escrever?
Apesar da evidente influência do bruxo do Cosme Velho — que, como o leitor descobrirá, não se limita somente ao título –, o romance de Antonio Borges é a história da nossa época. Para além de Machado de Assis, a presença de Jorge Luis Borges e Ortega y Gasset também podem ser sentidas (ou pressentidas) neste romance que tem gosto de ensaio. A narrativa, embora fictícia, é um estudo de psicologia das massas.
Um autor defunto vê-se num quarto de hotel barato às voltas com as suas “memórias póstumas” quando, subitamente, é tomado de assalto por um mistério. Por vias estranhas, um estranhíssimo livro cai-lhe nas mãos. Seu autor, que atende pelo nome de J. Deus & Silva, estabelece os princípios de uma doutrina maligna: o fim completo do indivíduo; a redenção pelo anonimato; a rima fácil felicidade/igualdade. No centro da teia do enredo, retorcendo-se como que isca de aranha, está o livro do Deus & Silva.
O imprescindível na grande Literatura é a invocação (ou denúncia) do status quo cultural, social, religioso, psicológico, moral, filosófico e (por que não?) político do momento. A grande Literatura também dá forma ao mal que assola a condição humana. E há mal maior do que o fato de seguirmos, a galope largo, para a mais completa destruição do indivíduo? É evidente: trata-se de uma utopia; tão crível quanto a dinâmica da economia socialista. No entanto, como dizem ensaístas e romancistas, quem toma o poder trata logo de levar adiante os seus projetos utópicos — sem dar a mínima àqueles que morrem pelo caminho.
Braz, Quincas & Cia é, na forma, um tributo ao nosso maior escritor: Machado de Assis. No conteúdo é a construção, pela via das digressões, da ironia e do diálogo com o leitor, de uma grande denúncia: o coletivismo é uma ilusão. Sob uma trama fascinante, o autor delineia uma realidade na qual fragmentos da sua própria memória, impressões de experiências passadas e reflexões sobre a vida concatenam-se para dizer ao leitor o que há de errado com o mundo. À sua maneira, o autor escreve com a pena da galhofa mergulhada na tinta da melancolia.
O saudoso professor Olavo de Carvalho, que era amigo pessoal do autor, escreveu no jornal O Globo, de 8 de fevereiro de 2003, as seguintes palavras sobre o livro: “(…) E o melhor romance brasileiro que li nos últimos anos é Braz, Quincas & Cia., de Antonio Fernando Borges”. A leitura vale a pena porque este é um daqueles livros cujo tema é o universal, cuja moldura abarca a totalidade das percepções.
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