RESENHA | A Arte da Guerra

Vitor Marcolin
Vitor Marcolin
Ganhador do Prêmio de Incentivo à Publicação Literária -- Antologia 200 Anos de Independência (2022). Nesta coluna, caro leitor, você encontrará contos, crônicas, resenhas e ensaios sobre as minhas leituras da vida e de alguns livros. Escrevo sobre literatura, crítica literária, história e filosofia. Decidi, a fim de me diferenciar das outras colunas que pululam pelos rincões da Internet, ser sincero a ponto de escrever com o coração na mão. Acredito que a responsabilidade do Eu Substancial diante de Deus seja o norte do escritor sincero. Fiz desta realidade uma meta de vida. Convido-o a me acompanhar, sigamos juntos.

Uma síntese de gênio

A crítica literária é unânime só para um conjunto muito restrito de livros: as obras universais. São escritos que se tornaram perenes, que resistiram ao implacável teste do tempo e firmaram-se como obras fundamentais para o entendimento da natureza humana. Os leitores das obras universais, em qualquer tempo e em qualquer lugar, podem desfrutar de um entendimento relativamente fácil do seu conteúdo, pois os referentes da narrativa são — e sempre serão — evidentes na realidade.

A Arte da Guerra, de Sun Tzu, é um desses livros perenes. Sun foi um militar chinês que viveu no século IV a.C., entre 544 e 496. Os poucos dados biográficos do autor que chegaram até nós fazem menção somente a referências relativamente genéricas acerca da vida e da obra do brilhante militar chinês autor do maior tratado sobre a arte da guerra jamais escrito.

Sun era natural de Ch’i, hoje Shantung, uma província ao Leste da China, banhada pelo Mar Amarelo. Sabe-se que ele serviu na côrte de Hu lu, rei de Wu, um dos antigos reinos feudais chineses. Sun Tzu redigiu o seu famoso livro já no fim da vida, por volta do ano 500 a.C. A obra, um conjunto de 13 capítulos relativamente curtos — próprios do estilo e das circunstâncias da época, já que foram escritos à mão — é uma síntese de gênio.

Sun Tzu extraiu a essência de aproximadamente 800 anos de experiência na prática da guerra no território chinês, sistematizou observações e enunciou as suas lições em sentenças proverbiais. O fato de seu tratado sobre a arte da guerra só ter tomado forma no fim da vida do autor – a despeito dele ter vivido apenas 48 anos – contribuiu para a fama de sabedoria de Sun Tzu.

A Arte da Guerra é, em suma, um compilado de observações da natureza humana sob ameaça — não só ameaça de caráter bélico, claro, mas de toda sorte de intimidação, de desafio proposto pelo inimigo. Daí o caráter fortemente psicológico dos provérbios de Sun Tzu; “psicológico” na acepção de inovador, porque até então ninguém havia meditado com tamanha profundidade nas táticas e nos efeitos emocionais, por assim dizer, da arte da guerra.

“desordem simulada pressupõe perfeita disciplina; medo, coragem; fraqueza, força”.

Sun Tzu

A guerra tem um caráter orgânico que se dá em função da própria natureza humana; portanto, o conhecimento das implicações psicológicas envolvidas no processo belicoso é fundamental para antever o resultado e as consequências da guerra. O general chinês foi o primeiro a observar a realidade da guerra através desta perspectiva – e ele tinha razão.  

Hoje, quando mal começamos a perceber as implicações da guerra híbrida, as máximas de Sun Tzu continuam a reverberar. As novas modalidades de conflito não suprimiram de forma alguma a assertividade da Arte da Guerra escrita no ano 500 a.C., porque, nas palavras do próprio autor:

A suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar”

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