Ronaldo MotaNeste espaço discutiremos diversos temas de filosofia, antropologia e cultura de modo crítico e ácido, sempre fugindo do lugar comum e das explicações simplórias. É uma coluna dedicada a quem tem fome e sede de verdade; a quem não confunde assertividade com soberba; a quem é constantemente fustigado pelo chicote espiritual do amor à Sabedoria, que impele sempre para a origem e para os fundamentos das coisas.
Acha mesmo que ficar usando essas análises vomitadas para chamar eu de burro, isso iria ficar por isso mesmo? Aqui não tem nenhum mlk não, Filodebates é um nome sagrado para mim. Tenha respeito cara. Agora vou te encher de críticas para você aprender a estudar e pesquisar antes de postar essas groselhas filosóficas aí.
Já que gosta de brincar de refutação, vamos, mais uma vez, brincar disso.
Aqui está minha outra crítica. Eu tenho direito de criticar quem eu quiser; sou um estudante de filosofia e não ofendo ninguém. No máximo, respondo à altura com a educação que alguns merecem. Vocês, como colunistas, deveriam saber aceitar isso, ou então não escrevam nada. Se gostou, bem; se não gostou, problema é seu. Aprendam a ser humildes e aceitar as críticas; a idade de criancices mimadas já passou.
Não se esqueça: Filodebates gosta de debates.
Esse seu artigo aí está cheio de uma série de erros (estou sendo gentil com você ainda), distorções e equívocos na interpretação da filosofia de Hegel, Marx e Engels, bem como na relação entre eles.
1. Você caracteriza a dialética hegeliana como “antinatural” e “irracional”, afirmando que ela nega os “primeiros princípios da razão”. Será que sua interpretação não ignora a complexidade e a profundidade do pensamento hegeliano? Longe de negar a razão, Hegel a concebe como um processo dinâmico que se desenvolve através da contradição, culminando em uma síntese que integra os opostos. Isso é óbvio.
Segundo Cirne-Lima,
“dialética é o Jogo de
Opostos, sim, mas sempre de Opostos Contrários, jamais de Opostos Contraditórios”. (2006,
p. 115). A dialética hegeliana não se reduz a uma mera negação da razão ou a um jogo de oposições absolutas. Em vez disso, ela reconhece a contradição como inerente à realidade e como força motriz por trás do movimento e da vida. Essa ideia é corroborada por Sucupira, que afirma: ” “O ser de uma coisa finita é trazer em si o germe de sua
destruição; a hora de seu nascimento é também a hora de sua morte…Tudo caminha para seu fim através do choque de contradições…. A contradição é, pois, para Hegel a fonte de todo o movimento e de toda a vida” (sucupira, Introdução ao pensamento dialético. São Paulo, Alfa-Ômega, 1983, 68).
A dialética, para Hegel, é a própria expressão da razão em sua forma mais completa, capaz de apreender a realidade em sua totalidade e movimento. A relação entre tese, antítese e síntese é central nesse processo, representando o desenvolvimento do pensamento e da realidade através do confronto e da superação de contradições. A razão, nesse contexto, não é negada, mas sim elevada a um novo patamar, capaz de compreender a dinâmica complexa e contraditória da existência.
2. Além disso, o senhor sugere que Marx simplesmente “inverteu” a dialética hegeliana, colocando a matéria no lugar do espírito. Kkkkkkk penso que a relação entre os dois filósofos é mais complexa do que essa simplificação de preguiçosos dessa revista. Marx critica Hegel não apenas por inverter a ordem, mas por sua abordagem idealista, que prioriza as ideias em detrimento das condições materiais. Em “Teses sobre Feuerbach”, Marx afirma que “os filósofos apenas interpretaram o mundo de várias maneiras; o que importa é transformá-lo” (MARX, 2007). Essa frase destaca a ênfase de Marx na práxis, ou seja, na ação transformadora como chave para a compreensão e mudança do mundo. Conseguiu compreender? Olha, não posso ficar perdendo meu tempo e fazendo seu trabalho não ein, pior que todos os artigos seu tem inúmeros equívoco e falácias. Isso é inacreditável, como conseguiu ser colunista disso aí? Relembrando: Filodebates gosta de debates.
Diferentemente de Hegel, Marx afirma que a sociedade civil, entendida como o conjunto de relações econômicas, é que explica o surgimento do Estado, seu caráter, suas leis e assim por diante. O Estado para Marx não é absoluto e nem a base da sociedade. Ele inverte a dialética hegeliana ao afirmar que as condições materiais, e não as ideias, são a base do desenvolvimento histórico. Em sua crítica à “Filosofia do Direito” de Hegel, Marx argumenta que o Estado não é uma entidade absoluta, mas sim uma construção social que emerge das relações de produção. Conforme ele afirma:
“Minha investigação chegou ao resultado de que tanto as relações
jurídicas como as formas de Estado não podem ser compreendidas por
si mesma, nem pela chamada evolução geral do espírito humano, mas
sim assentam, pelo contrário, nas condições materiais de vida cujo
conjunto Hegel resume, seguindo o precedente dos ingleses e
franceses do séc. XVIII, sob o nome de ‘sociedade civil’ e que a anatomia civil deve ser buscada na Economia Política.” (MARX, 2005, p. 16). Deu para perceber que aqui, podemos entender claramente a rejeição de Marx à ideia hegeliana de que o Estado e as relações jurídicas são produtos do “espírito humano” ou de ideias abstratas. Para Marx, essas estruturas são moldadas pelas “condições materiais de vida”, ou seja, pela base econômica da sociedade.
Essa perspectiva materialista da história é fundamental para entender a crítica de Marx ao Estado hegeliano. Para Hegel, o Estado é a encarnação da razão e representa o bem comum, conciliando os interesses contraditórios da sociedade civil. Marx, por sua vez, vê o Estado como um instrumento de dominação da classe burguesa, que perpetua as desigualdades e contradições sociais. Como ele afirma:
O Estado para Marx não representa o bem coletivo e não supera as contradições e os interesses universais.
Veja que a Marx não apenas inverte a dialética hegeliana, mas também a ressignifica, colocando a materialidade e a práxis no centro da análise social e política. Essa mudança de perspectiva tem implicações significativas para a compreensão do Estado, que deixa de ser visto como uma entidade absoluta e racional para se tornar um instrumento de dominação de classe.
3. Agora o mais grotesco, isso vocês adoram fazer, que é distorcer as ideias originais desses filósofos. Você utilizou de forma distorcida citações de Marx e Engels que, em alguns casos, carecem de maior contextualização dentro de suas obras originais e podem levar a interpretações equivocadas por parte desses que não estudam. A citação de Engels sobre a contradição na vida, por exemplo, é apresentada de forma que pode ser mal interpretada como uma aceitação da concepção hegeliana de contradição ontológica. Engels explicou assim a universalidade da contradição:
‘Se a simples mudança mecânica de lugar contém já em si mesma uma contradição, com maior razão ainda hão-de contê-la as formas superiores de movimento da matéria e, muito particularmente, a vida orgânica e o seu desenvolvimento. … a vida, antes de mais, consiste justamente no facto de um ser, em cada instante, ser o mesmo e, não obstante, um outro também. Assim, a vida é igualmente uma contradição que, existindo nas próprias coisas e processos, surge e resolve-se constantemente. E desde que a contradição cessa a vida cessa, a morte intervém. Do mesmo modo, nós vimos que no domínio do pensamento não podemos igualmente escapar às contradições e que, por exemplo, a contradição entre a faculdade humana de conhecer, interiormente infinita, e a sua existência real nos homens, que são todos limitados externamente e no pensamento, resolve-se na série de gerações humanas — série que, para nós, pelo menos praticamente, não tem fim — no movimento do progresso sem fim.’
4. Também vejo que há generalizações apressadas sobre o marxismo e o chamado “marxismo cultural”, atribuindo a eles todo tipo de “desenvolvimentos insanos” na sociedade. Muito problemático isso, pois o marxismo é uma tradição complexa, com diferentes correntes e interpretações. O conceito de “marxismo cultural”, por exemplo, é frequentemente mal interpretado e utilizado de forma pejorativa para deslegitimar críticas à cultura contemporânea.
A Escola de Frankfurt, frequentemente associada ao “marxismo cultural”, não deve ser reduzida a uma caricatura de uma mera opinião de preguiçosos. Cara como, Herbert Marcuse e Theodor Adorno, buscavam entender as novas formas de dominação e controle na sociedade capitalista, e suas análises são muito mais sutis do que a simples destruição da cultura ocidental.
Vamos recapitular o que fiz neste comentário? Já que você diz que eu não tenho fundamentos…
1. Contestei a caracterização da dialética hegeliana como “antinatural” e “irracional”, explicando sua verdadeira natureza como um processo dinâmico e racional que reconhece a contradição como inerente à realidade.
2. Esclareci que a relação entre Marx e Hegel vai além da simples inversão da dialética, destacando a crítica marxista ao idealismo hegeliano e sua ênfase na práxis e nas condições materiais como base do desenvolvimento histórico.
3. Também apontei o problema do uso de citações fora de contexto, exemplificando com a citação de Engels sobre a contradição na vida, que pode levar a interpretações equivocadas.
4. Critiquei as suas generalizações apressadas sobre o marxismo e o “marxismo cultural”, para que você, pelo menos, tenha uma abordagem mais contextualizada dessas tradições de pensamento e menos de meras opiniões.
Lembre-se: Filodebates gosta de debates.
uma ótima matéria
Ainda bem que tem os comentários pra ler…
Admirável análise sobre o materialismo dialético .