Quando o “aluno coitadinho” vira agressor e o professor sai de maca, algo muito errado deixou de ser dito — e enfrentado. Na segunda-feira, 1º de abril — ironicamente o Dia da Mentira — uma professora foi esfaqueada em sala de aula por dois alunos de 14 e 15 anos em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. O ataque foi brutal. A vítima, levada às pressas ao hospital, sobreviveu. Já os agressores, claro, estão “amparados” pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.
O Brasil, como sempre, protege os mais frágeis — desde que estejam armados com uma faca e cobertos pela ideologia do “sistema opressor”. A cena, que se repete com frequência cada vez maior no país, não é um raio em céu azul. É o resultado lógico de décadas de doutrinação pedagógica, desmonte da autoridade e fetichização da juventude infratora. A educação brasileira não ensina, não corrige e — o mais grave — não protege mais nem seus professores.
A escola que desaprendeu a ensinar (e a se defender)
Nas últimas décadas, a pedagogia brasileira abraçou uma espécie de autodestruição institucional. Inspirada em pensadores como Paulo Freire, adotou como mantra a ideia de que o professor deve ser um “mediador”, jamais uma figura de autoridade. Disciplinar virou “oprimir”. Corrigir virou “violência simbólica”. E reprovar? Nem pensar — “traumatiza”. A sala de aula foi transformada em um “ambiente horizontal”, onde tudo é diálogo, escuta, acolhimento — menos ensino. Só esqueceram de avisar os adolescentes de que limites ainda existem. Ou pior: talvez ninguém tenha mesmo a intenção de colocá-los.
O resultado está nos corredores escolares: aumento de violência, professores adoecendo, alunos indisciplinados e famílias omissas. E sempre que uma tragédia como a de Caxias do Sul acontece, a resposta oficial é uma só: “Vamos ampliar o atendimento psicológico.” Como se a faca tivesse sido guiada por traumas — e não por uma cultura de impunidade alimentada dentro e fora da escola.
ECA: Estatuto da Cegueira Adolescente
Os dois adolescentes responsáveis pelo ataque já foram “encaminhados” para medidas socioeducativas. A palavra “encaminhados” é um eufemismo para “logo estarão de volta à escola, como se nada tivesse acontecido”.
O ECA- tornou-se escudo para criminosos mirins. Ele parte do princípio de que todo adolescente é uma vítima do sistema — nunca um agente do próprio ato. Com isso:
- – Crimes brutais cometidos por menores recebem respostas brandas;
- – A sociedade finge surpresa a cada novo ataque;
- – E os profissionais da educação continuam na linha de frente, desarmados e sozinhos.
Quando um professor é esfaqueado por um aluno, o problema não é só a violência. É o sistema inteiro que colapsou — e prefere psicologizar a tragédia a enfrentá-la com a seriedade necessária.
Pais ausentes, telas presentes — e a geração do “ninguém manda em mim”
Enquanto isso, em casa, o cenário não é muito diferente. A autoridade parental também virou alvo. Na era dos tutoriais de “como criar filhos livres de traumas”, dizer “não” virou quase um crime. Corrigir é opressor. Castigar é abuso. E o TikTok assume o papel de educador, com vídeos de 15 segundos ensinando o que nem a escola nem os pais têm coragem de abordar.
A consequência é um jovem que cresce sem medo, sem freio e sem noção de consequência. Ele não respeita pai, não respeita professor, e quando comete um crime, ainda é tratado como vítima. Essa geração não caiu do céu. Foi cultivada com esmero por um sistema que trocou valores por slogans progressistas e autoridade por permissividade. Agora, colhemos os frutos.
Quando ninguém pode mais mandar, a barbárie comanda
A escola perdeu o poder. A família perdeu o pulso. A justiça perdeu o senso de urgência. E os adolescentes perderam o respeito. O caso de Caxias do Sul é apenas mais um capítulo de uma narrativa conhecida: a do colapso institucional embalado por boas intenções e más decisões. A pergunta que não se cala é: quantos professores ainda vão sangrar em nome dessa pedagogia falida?
O progressismo educacional transformou o ensino em laboratório ideológico. Enquanto isso, professores — já mal pagos, desvalorizados e sobrecarregados — agora precisam trabalhar com medo de serem esfaqueados por quem deveriam estar educando.
Hora de abandonar o delírio e encarar a realidade
Se queremos reverter essa espiral de decadência, é preciso ter coragem para ir na raiz do problema. Isso envolve:
- – Revisar urgentemente o ECA, tornando-o compatível com a realidade de hoje;
- – Restaurar a autoridade do professor, inclusive com respaldo legal e institucional;
- – E, acima de tudo, resgatar a responsabilidade dos pais, devolvendo-lhes o papel que o Estado, a mídia e a pedagogia moderna tentaram roubar: o de educadores primários.
Educação sem autoridade é utopia. Justiça sem punição é piada. E escola que não protege seu professor não merece o nome que carrega. Chegou a hora de parar de fingir. Ou enfrentamos os fatos com seriedade — ou nos acostumamos a manchetes com sangue.
P.S.: Sobre a mini-série de televisão ‘Adolescência’, ler a coluna Sanquixotene de la Pança de 08/04: https://revistaesmeril.com.br/sanquixotene-de-la-panca-mini-serie-adolescencia-vale-ser-vista/
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Artigo é essencial: uma obra prima! Bravo!
Artigo excelente e essencial: uma obra prima!
Maravilhoso, Paula!
excelente artigo