Destaque para autor estreante da Editora Danúbio
Um estreante da Nova Literatura Brasileira encabeça os destaques desta Muralha, entre os quais está o gigante Olavo de Carvalho, além de João Ribeiro.
Ainda, um clássico da literatura italiana, um lançamento de um importante filósofo português contemporâneo e um manuscrito anônimo sobre uma das mais discutidas verdades da Doutrina Católica.
Acompanhe os lançamentos a seguir, e um excelente final de semana!
Destaques
O grande destaque da semana é um lançamento da Danúbio: O jumento e o carcará, livro de estreia do pernambucano Samuel Freitas.
Nos dez contos que compõem o volume, o leitor irá se surpreender com a criatividade e a inteligência do autor, que, embora estreante, já apresenta ao público brasileiro uma voz inconfundível.
As narrativas de O Jumento e o Carcará são sempre permeadas de digressões perspicazes ou irônicas e farão o leitor culto ora refletir profundamente, ora comover-se, ora cair numa gargalhada repentina.
Ao longo dos contos, Samuel Freitas demonstra versatilidade e transita com segurança por diversos gêneros, a fábula, o conto filosófico, o conto religioso, a alegoria, a literatura fantástica, o realismo.
Tudo isso é feito num saboroso cenário nordestino temperado com um humor de acento britânico muitas vezes inusitado e desconcertante. O resultado é uma das mais interessantes estreias literárias dos últimos anos no Brasil. Vale a pena conferir!
Leia abaixo um trecho do conto que dá título ao livro:
“— Eita, que hoje tá quente, né? – Um carcará que pousara num cotoco de cerca se dirigiu ao jumento.
— Ah!, então era o senhor. Não dava pra avistar daqui, lá longe sobrevoando. Temi que fosse um urubu a me agourar. Apesar de que dá no mesmo. Veio brechar de perto uma possibilidade de almoço grátis, companheiro?
— Vixe, mas é desconfiado. Num malde não, que só vim dá um “oi” mesmo.
— Se me permite corrigi-lo: na verdade, não deu “oi” algum, você me fez uma pergunta e, ainda por cima, categórica.
— Diabéisso? Eu mesmo num fiz isso aí não!
— Sim, você fez.
— E que diacho de pergunta foi essa?
— Hoje tá quente, né?
— Num me fale não, compadre. Tô aqui apuço, quentura da gota, né? E repare que…
— Não, criatura de Deus. Foi essa a pergunta que você me fez: “Hoje tá quente, né?”
— Ah, compadre! É que o compadre deixa o cabra perdido com esse leriado todo. Fale que nem gente, compadre, deixe de resenha.”
Outro destaque de peso é Camarada Enrolevich, de Olavo de Carvalho.
Sétimo volume da série O que restou do Imbecil, o livro reúne todos os artigos que Olavo publicou em jornais e revistas no ano de 2004. Neles, o filósofo discute a natureza suprapolítica do comunismo e seu poder de regeneração, ou melhor, sua capacidade de se transmutar em diferentes movimentos e partidos, que adotam variados nomes de fachada, e assim, na base da pura enrolação, continuar vivo e atuante como uma das principais forças políticas e culturais do mundo. Já dizia ele naquela época sobre o Brasil: “Nunca a prepotência comunista se impôs de maneira tão geral, avassaladora, irresistível e ao mesmo imperceptível aos olhos da multidão. O tempo de lutar contra ela já passou. Todos os meios de resistência — político-partidários, judiciários, midiáticos — foram dominados e neutralizados de antemão, e não há espaço para criar novos”. Vinte anos depois dessas palavras, eis que entramos pela terceira vez no segundo ano de um novo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva… Haja enrolação, camarada!
Confira a seguir um trecho do artigo “Lula planetário”, publicado em 3 de janeiro de 2004, em O Globo:
“Se Homero tinha razão ao dizer que os moinhos dos deuses moem lentamente, o cérebro nacional deve ser divino, pois é infinita a lentidão com que processa as mais óbvias informações. O filósofo Raymond Abellio, que nos conhecia bem, observava que nesta parte do universo a germinação das idéias não segue o ritmo histórico, mas o tempo geológico. Nada o ilustra melhor do que a renitente ignorância das elites brasileiras em torno da questão do governo mundial. Nossos líderes empresariais e políticos ainda vivem na época em que toda menção ao assunto podia ser tranquilamente rejeitada, com um sorriso de desdém, como ‘teoria da conspiração’. No entanto, há pelo menos dez anos a ONU já declarou oficialmente sua intenção de consolidar-se como administração planetária: ‘Os problemas da humanidade já não podem ser resolvidos pelos governos nacionais. O que é preciso é um Governo Mundial. A melhor maneira de realizá-lo é fortalecendo as Nações Unidas’ (Relatório sobre o Desenvolvimento Humano, 1994).”
Destaque também para um lançamento da Edições Livre: Frases feitas: estudo conjetural de locuções, ditados e provérbios, de João Ribeiro.
O volume é um tesouro para estudiosos da língua portuguesa, professores, escritores e qualquer pessoa que se interesse pela cultura e história do nosso idioma. A obra convida o leitor a um passeio inesquecível pela riqueza da linguagem popular, revelando a criatividade e a sabedoria do povo que a utiliza.
Embora apresente um vasto leque de frases feitas, o livro vai além de um simples dicionário. Ribeiro as organiza de forma temática, permitindo ao leitor explorar diferentes aspectos da vida social, cultural e psicológica. Essa organização facilita a compreensão e o uso das expressões em diversos contextos.
A obra representa um marco na análise da fraseologia portuguesa. Através da erudição e do talento literário de João Ribeiro, a obra desvenda os segredos das locuções, ditados e provérbios que enriquecem nossa língua.
Confira a seguir algumas considerações do professor Rodrigo Gurgel sobre a obra:
“Para João Ribeiro, importava não só a língua em si mesma, mas o modo como o vocabulário, o léxico e os estudos linguísticos em geral se relacionavam com as características culturais de cada sociedade. É por esse motivo que, além de dezenas de outros trabalhos, ele escreveu esta obra incrível.
Frases feitas trata da nossa fraseologia, das locuções que compõem nosso idioma. São expressões cujo sentido fixo, pré-determinado, geralmente não é o sentido literal das palavras. Quando dizemos, por exemplo, que uma pessoa está dando murro em ponta de faca, não queremos dizer que ela está ferindo a própria mão. Ao usarmos essa frase feita, o sentido literal das palavras desaparece, e a ideia transmitida é outra, completamente diferente. Nossa língua está recheada dessas expressões idiomáticas, que enriquecem nosso vocabulário e ampliam o sentido do que falamos e escrevemos.
João Ribeiro, contudo, não faz um dicionário delas, mas pesquisa sua origem histórica — inclusive de suas variantes em diferentes épocas, e de versões delas em outras línguas. Aqui descobrimos, por exemplo, a origem literária da expressão ‘burro como uma porta’, que aparece pela primeira vez num auto de Gil Vicente.
Em Frases feitas, ficamos conhecendo a evolução da nossa língua e a ligação dela com todos os aspectos da cultura — e começamos a entender como uma língua nasce de motivações também psicológicas, que abraçam a cultura no seu todo.”
Outros lançamentos
Pela Sétimo Selo, Pequeno mundo antigo, de Antonio Fogazzaro.
Título consagrado das letras italianas, o romance se passa na segunda metade do século XIX, enquanto os patriotas do Lombardo-Vêneto lutam contra o domínio austríaco, e floresce no “pequeno mundo” do Valsolda, uma cidadezinha no Lago de Lugano, norte da Itália, o amor entre Franco e Luísa: ele, poético e sonhador, nobre e religioso, mais apegado ao “mundo antigo”, porém com ideias liberais; ela, firme e decidida, dotada de um forte e altivo sentimento de justiça, de origem burguesa e filha de um intelectual com tendências iluministas, mais inclinada para o “mundo moderno”. Por causa da oposição da avó de Franco, os dois se casam secretamente e, apesar do forte sentimento que os une, diante de um acontecimento trágico serão obrigados a tomar uma atitude que dividirá os dois mundos.
Pequeno mundo antigo é, nas palavras do seu autor, “um romance íntimo, doméstico, cheio de fragrâncias da dor, do amor abençoado por Deus, do sentimento doméstico, da poesia da infância e da velhice”. Na tradução do consagrado romancista José Geraldo Vieira, acompanhada de ensaios de Benedetto Croce, Otto Maria Carpeaux e Fausto Zamboni, o leitor conhecerá um dos romances clássicos da literatura italiana.
Outro importante lançamento da Danúbio esta semana: Memória Lusa, de Miguel Bruno Duarte.
Neste livro, o autor demonstra como o problema da independência política e da autonomia de Portugal assenta no primado da filosofia pátria sobre as diretrizes ideológicas das Nações Unidas enquanto organização supranacional empenhada na implementação hegemónica de uma cultura unificada desde 1945.
Dando a medida exata do carácter subversivo da “cultura oficial”, o autor presta-se ainda, entre variegados tópicos da cultura nacional-humana, a indagar a silogística e o aristotelismo conimbricense no âmbito da filosofia escolástica e da dedução cronológica, bem como a dilucidar o problema maçónico herdeiro de um iluminismo tendencialmente afeito à política de expressão materialista e cientista, ou mesmo a revisitar a distinta fisionomia medieva de Silves enquanto cidade antiga e monumental do Al-Gharb.
De resto, o filósofo também memora a notabilíssima forma patriótica como António de Oliveira Salazar logrou salvaguardar os interesses vitais e a concreta e real independência do então Portugal uno e ultramarino perante os horrores provenientes da Segunda Guerra Mundial.
Memória Lusa é um livro voltado para todos os brasileiros que buscam entender e resgatar a própria matriz cultural.
Pela Cristo Rei, O segredo do Purgatório.
Este manuscrito anônimo de uma jovem vidente das regiões montanhosas suíça foi editado pela primeira vez em 1933, e traz em linguagem popular, simples e genuína, o que, pela Providência divina, na “Escola do Purgatório”, essa piedosa vidente testemunhou e relatou por obediência a seu diretor espiritual.
Leitura essencial para se conhecer uma realidade da Doutrina Católica um tanto esquecida e desprezada nos tempos atuais, o volume pode se revelar um importante instrumento para o fortalecimento da vida espiritual.