MURALHA DE LIVROS | O Direito contra o indivíduo

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Nesta edição, destaque para a oposição ao relativismo moderno

O Direito, que se desenvolveu ao longo dos séculos como uma ferramenta de ordenação dos costumes contra a barbárie, está impregnado cada vez mais, nestes tempos em que impera o relativismo, de influências ideológicas que o vão transformando num potente instrumento de controle e opressão contra os indivíduos e suas liberdades. Sobre isso debruça-se o autor do principal destaque desta Muralha.

Também em oposição aos relativismos e arbitrariedades modernos, destaca-se aqui uma bem-humorada e demolidoraobra  sobre a guerra cultural que enfrentamos.

Ainda, um clássico em defesa do catolicismo; uma importante obra sobre como resgatar as crianças das teorias educacionais fracassadas da modernidade; a reedição da mais completa obra já escrita sobre a literatura  dos Padres da Igreja; e uma curta mas contundente defesa da verdadeira essência da arte.

Confira a seguir as dicas da semana, e um excelente sábado!

Destaques

O primeiro destaque da semana vai para um lançamento da E.D.A., Direito e contracultura, de Bruno Dornelles. O Direito se tornou um poderoso instrumento de controle, muitas vezes em detrimento das liberdades individuais. Mesmo quando uma pessoa é inocente ou está exercendo suas liberdades garantidas por textos constitucionais ou costumes tradicionais, o sistema jurídico pode se tornar opressivo e criar confusão sobre o que é certo e errado, levando a uma sensação de caos e ameaçando a democracia em todo o mundo.

No entanto, nem sempre foi assim. Ao longo do tempo, diferentes correntes de pensamento têm influenciado o campo jurídico, afastando-o de fundamentos metafísicos e transformando-o em um instrumento para promover mudanças sociais significativas. E a obra de Dornelles justamente busca expressar essas ideias filosóficas e demonstrar como elas contribuíram para o estado atual das coisas. Espera-se, com isso, que futuros estudantes e acadêmicos possam refletir sobre melhores sistemas institucionais e métodos nos quais a cultura intelectual possa influenciar de forma positiva a criação de mecanismos e formas de aplicação mais eficazes.

Confira abaixo um trecho da apresentação escrita pelo jornalista e analista político José Carlos Sepúlveda sobre o livro:

“As sociedades modernas estão, cada vez mais, submersas numa torrente de normas legais, muitas delas ineficientes e contraditórias, que pouca conexão têm com uma ordem jurídica recta.

Por outro lado, correntes do Direito moderno passaram a legitimar o princípio do fato consumado, a validar uma ordem jurídica assentada na arbitrariedade, a apresentar como justo o que nada mais é que o resultado da imposição.

A contaminação ideológica das Faculdades de Direito, a bem dizer generalizou uma inversão na concepção da ordem jurídica. Os violadores dos bens jurídicos são crescentemente protegidos pelo legislador, bem como pelo juiz, e apresentados, até pela mídia, como vítimas de uma organização política e social injusta. Impregnado por uma perspectiva de dialética marxista, o Direito favorece uma legalidade espúria, de cunho socialista.

Toda esta revolução silenciosa no Direito, com diversas tendências e escolas, tem confundido a sociedade brasileira – assim como outras sociedades – a tensões fortíssimas. O cidadão comum vê-se desprotegido e descrente do sistema de Justiça, tornado arbitrário e opressor.”

Destaque também para uma lançamento da Vide, Como destruir a civilização ocidental e outras ideias do abismo cultural, de Peter Kreeft. Com seu olhar voltado para os fundamentos da civilização ocidental – cujos pilares se encontram cada vez mais abalados –, o autor examina, com senso de humor peculiar, todas as manifestações da crise cultura que têm posto em xeque a normalidade do mundo como o conhecemos: a liberdade sexual, o aborto, a redução das famílias, o pacifismo e a ausência de heróis, até as questões da liberdade humana, da pobreza e do agnosticismo. E, em suas análises, Kreeft põe abaixo e reduz a pós os chavões esquerdistas que sustentam tais manifestações.

Confira a seguir uma avaliação da obra, feita por nossa editora, Bruna Torlay:

“Sob o irônico – e socrático – título, reside um tributo fantástico ao que somos e sempre seremos, para além das mazelas do tempo. Kreeft é um filósofo claramente ligado ao que ele próprio nomeia TRADIÇÃO PLATÔNICA (título de outro importante livro de sua autoria), a via original da filosofia, nascida da síntese entre projeto socrático e descoberta da metafísica – o real invisível, que explica os problemas insuperáveis próprios ao real visível. E é também um filósofo cristão com enorme clareza quanto aos princípios fundamentais, sem os quais pensar se torna impossível e o anseio de transcendência vai na direção errada.
Ao explicar os ingredientes da civilização ocidental, para apontar suas fragilidades diante de assaltos destrutivos, ele nos franqueia a maravilhosa clareza com que os enxerga.”

Leia, ainda, um trecho de “O elefante no meio da sala”, um dos textos que compõe o livro, em que Kreeft discorre sobre o ataque às liberdades religiosas em nome das ditas “liberdades” sexuais:

“É o elefante no meio da sala. Sexo. A liberdade religiosa está sendo atacada em nome da liberdade sexual. A presente guerra cultural é quase fundamentalmente travada em torno do aborto, e aborto, no fim das contas, quer dizer sexo.
Abortar é o método contraceptivo de emergência, e a contracepção é a demanda de se fazer sexo sem produzir bebês. Se fossem as cegonhas a trazer os bebês, a ‘federação de paternidade planejada da América’ iria à falência.
Católicos, muçulmanos, judeus ortodoxos e protestantes evangélicos são os últimos grupos no Ocidente que se opõem à revolução sexual e defendem a moralidade sexual tradicional.
De resto, todos entendem, sem questionamentos ou controvérsias, que os anticoncepcionais finalmente ‘libertaram’ o sexo de sua servil relação com a fecundidade, transforman-do-o em uma questão puramente pessoal e ‘recreacional’.
A liberdade que nos pertence está sendo tolhida porque ameaça a deles. A liberdade religiosa ameaça a liberdade sexual.”

Outros lançamentos

Pela Ecclesiae, O poço e os charcos, de G.K. Chesterton. Trata-se de uma coleção de ensaios que, como sugere o próprio autor, poderia ser chamada de A coisa Parte 2. Afinal, assim como naquele volume (cujo subtítulo é “Por que me tornei católico), neste (cujo subtítulo é “Por que eu me tornaria católico se não o tivesse sido), Chesterton sustenta (com menos gracejos e um tom mais sombrio desta vez) sua defesa incondicional do catolicismo.

Pela Kírion, Por que o conhecimento importa, de E.D. Hirsch. Grande crítico da pedagogia contemporânea, Hirsch expõe, há décadas, a relação entre os princípios dessas pedagogias e o fracasso educativo de gerações de estudantes. Com base nas mais recentes descobertas da ciência cognitiva, o autor está convicto de que a solução para os problemas da educação não virá de mais dinheiro ou de mais infraestrutura, mas sim de uma mudança nas ideias fundamentais que nortearão a reforma. Para Hirsch, é uma questão de justiça social proporcionar igualdade de oportunidades a todos os cidadãos, o que só se faz por meio de um currículo básico de conhecimentos, que devem ser transmitidos para o bem de cada indivíduo — que assim se torna digno, autônomo e capaz de se comunicar.

Pelo Centro Dom Bosco, uma nova edição da coleção Patrologia, que reúne 6 tomos escritos por Johannes Quasten, em parceria com um grupo de estudiosos do Instituto Pontifício Patristicum, de Roma. A Patrologia refere-se aos estudos sobre as obras dos autores da Antiguidade Cristã, que ficaram conhecidos como Padres da Igreja.Trata-se de um mergulho na vida e nas obras daqueles que nos primeiros séculos dedicaram sua vida e sua inteligência ao combate pela fé contra os erros de seu tempo, contra as heresias e contra todo tipo de desvio, esclarecendo o dogma e edificando os fiéis. A coleção que o CDB ora reedita constitui o mais abrangente estudo que se tem notícia sobre o tema até hoje. 

Pelo IBESEC, Arte: educando pela Beleza, de Diogo Cruxen. Artista plástico, escritor e palestrante, Cruxen ministra cursos e treinamentos há mais de dez anos nas áreas de desenho e filosofia da arte. Neste volume, ele expõe o grande problema de nosso tempo relacionado à arte, furto do pensamento relativista moderno, que faz com que muitas pessoas sejam incapazes de reconhecer a verdadeira beleza nas artes não consigam distinguir uma obra de arte de um balde com água suja num canto de um hall da Bienal de Artes de São Paulo, por exemplo. Este livro busca remoer esta ferida e jamais deixá-la cicatrizar sem que, antes, tenhamos uma ideia clara do que é a arte e sua importância em nossas vidas.


 

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