MURALHA DE LIVROS | História, cultura, teologia, humor e literatura infantil

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Destaque para importante obra sobre a História do Brasil reabilitada pela Edições Kírion

O mais importante lançamento do ano para os professores de História no Brasil, e uma nova edição do primeiro documento produzido sobre nosso país. A obra-prima de uma célebre feminista odiada pelas feministas. Uma obra de peso – literalmente – sobre o papel dos leigos no Corpo Místico de Cristo, e um volume com importantes reflexões sobre as dores e vicissitudes da jornada dos cristãos neste mundo. Considerações sobre a teologia presente na obra de um dos maiores ficcionistas e ensaístas da primeira metade do século XX.  O tão aguardado 2º volume do criador do “Olavoverso” nos quadrinhos. Um conto alemão infantil clássico belamente recontado e ilustrado.

Entre História, cultura, teologia, humor e literatura infantil, estes são os tijolos da Muralha desta semana. Acompanhe a lista a seguir, e um excelente fim de semana!

Destaques

O principal destaque da semana é um lançamento da Kírion, História do Brasil, de Pedro Calmon.

Calmon (1902 – 1985) foi um renomado historiador e intelectual brasileiro. Sua contribuição para a historiografia do Brasil é inestimável. Além de historiador, Calmon foi professor, escritor e membro da Academia Brasileira de Letras. Como escritor, deixou uma obra notável, que se divide em três grandes áreas: literatura histórica, história e direito. Sua História do Brasil, estruturada em 5 volumes (Séc. XVI: as origens; Séc. XVII: a formação brasileira; Séc. XVIII: riquezas e vicissitudes; Séc. XIX: o Império e a ordem liberal; e Séc. XX: a República e o desenvolvimento), foi publicada entre 1939 e 1955, e é fruto de um intenso e sério trabalho de investigação e pesquisa. A atual edição da Kírion – que, segundo nossa editora, Bruna Torlay, é o lançamento mais importante deste ano para os professores de História – foi cuidadosamente revisada e organizada pelo historiador Thomas Giulliano, que assina o prefácio, do qual você pode conferir um trecho:

“A sociedade brasileira, como uma paisagem, é um sistema cuja estrutura e evolução são determinadas por múltiplos fatores. Considerá-los na indissociável coesão que os une é fundamental se quisermos compreender o funcionamento da história nacional. Historicamente, não somos órfãos de pais desconhecidos. A continuidade, que não significa indiferença aos dramas herdados, é uma consciência própria do homem.
Diante do passado, temos a percepção de nossa individualidade e com a história compreendemos o que os homens foram, fizeram, conseguiram. Se saíssemos da história, tombaríamos no nada. Pensá-la é vê-la no reino do possível. Desde a invenção da escrita, o registro de experiências humanas informa que recebemos do passado um conjunto de valores, necessidades e crises. Da luz elétrica aos livros de Graciliano Ramos, sem ignorar a falta de saneamento básico pleno e a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, o passado sempre deixa a sua herança.
A História sempre lida com eventos que aconteceram em um tempo. Não é uma manipulação, mas o descobrimento de realidades próprias do passado, enquanto a historiografia, constituída como o campo privilegiado de recolha de materiais humanos, é o estudo das variações dos comportamentos dos homens do passado. Descortinar o passado é exprimir um diálogo explicativo, por meio das fontes históricas, acerca de eventos singulares e não mais existentes.”

O outro destaque da semana é um lançamento da Vide, Personas Sexuais: Arte e decadência de Nefertiti a Emily Dickinson, de Camille Paglia. Resultado da tese de doutorado da Paglia, publicada pela primeira vez em 1990, o livro constitui uma análise provocativa e multifacetada da sexualidade e do papel das mulheres na história, na cultura e na arte. A autora, proeminente feminista, não realiza essa análise com vitimismo, como é próprio das manifestações do movimento feminista – por isso, inclusive, Paglia costuma ser desprezada pelas feministas.

O volume integra a colação Biblioteca Antifeminista, uma parceria da Vide Editorial com a deputada, escritora e professora Ana Carolina Campagnolo, que assina o prefácio, do qual você pode conferir um trecho:

Se as feministas não querem que você leia, então você deve ler. No mesmo ano em que sofreu os primeiros grandes ataques por parte da militância, a autora comemorou o lançamento de seu Personas sexuais, que foi ‘relativamente bem recebido pela maioria dos críticos’. Enquanto isso, a maioria das feministas, ao contrário, se enfureceu mesmo sem conhecer a obra, só de ouvir falar. Com primeira publicação datada de 10 de setembro de 1990, a tese demonstra a independência de pensamento que Camille usa para se autodefinir: ‘O meu feminismo libertário, que vai beber ao que há de melhor no liberalismo e no conservadorismo, … põe a liberdade de pensamento e a liberdade de expressão acima de qualquer ideologia. Sou, em primeiro lugar, intelectual e só em segundo feminista’. […] O leitor deve entender este livro como uma oportunidade raríssima de ler um trabalho acadêmico interessante escrito por uma feminista inteligente. Espero que essa leitura o ajude a compreender como uma escritora antifeminista como eu pode ter uma professora feminista entre seus autores contemporâneos preferidos. Quase tudo é possível quando você está disposto a aprender de verdade.”

Outros lançamentos

Pela Ecclesiae, A espiritualidade dos leigos: a santidade dos que vivem no mundo, de Antonio Royo Marín. Com sua habitual unção, solidez e precisão teológica, o célebre autor dominicano faz aqui uma exposição do vastíssimo plano da vida laical, inspirando-se principalmente nos documentos do Concílio Vaticano II — cuja doutrina ele reuniu de modo exaustivo — e no que os melhores autores haviam até então escrito sobre a espiritualidade própria dos fiéis leigos, tema de tanta atualidade e urgência.

Na primeira parte da obra, expõem-se os princípios fundamentais da espiritualidade cristã em geral, base para todo o conteúdo posterior. Na segunda, examina-se detalhadamente a vida eclesial do leigo como membro do Corpo Místico de Cristo; a terceira trata de sua vida sacramental; e a quarta discorre sobre a vida teologal — a fé, a esperança e a caridade — dos cristãos que vivem no mundo. A quinta estuda amplamente a vida familiar, que constitui um dos aspectos mais relevantes da espiritualidade do leigo; e na sexta e última parte da obra se acompanha a sua vida social.

Pela Super Prumo, True Outrstips 2, de Giorgio Cappelli. O volume constitui a 2ª reunião de tiras do renomado desenhista, quadrinista, roteirista e escritor paulista, famoso por ter criado o “Olavoverso” em quadrinhos, e que continua produzindo um grande trabalho mesmo após a morte de Olavo de Carvalho. Nas palavras de Bernardo Küster, que assina o texto da contracapa:

“Personagens verdadeiramente sérios são os únicos capazes da melhor comédia. Não é sem razão que nas melhores figuram santos, grandes filósofos e heróis da humanidade. Meu professor e amigo Olavo de Carvalho, além de ter feito renascer a alta cultura no Brasil, foi um dos homens mais sérios que conheci e, paradoxalmente, um dos mais engraçados. Sua vocação para encarar o peso da realidade era proporcional ao seu dom de contar piadas e histórias de sua vida capazes de fazer qualquer um tossir o riso. Giorgio Cappelli, neste trabalho, capta bem essas marcas da personalidade do professor, que via no alívio cômico uma maneira de levar a vida menos à sério em face da dor, do medo, da morte e da eternidade.”

Ao leitor que ainda não conhece o trabalho de Cappelli, recomendamos o Combo True Outstrips, que reúne os dois volumes já publicados com um desconto especial.

Pela Quadrante, A Cruz de Cristo e a nossa: a dor serena, de Pie Régamey.

Para um cristão, a dor e o sofrimento humanos só se compreendem e se aceitam quando se descobre o seu sentido último. E esse sentido, ultrapassando a “teologia da encarnação” e o seu oposto, a “teologia do fracasso”, retira o olhar da dor em si, pessoal e intransferível, para fixá-lo no “mistério da Cruz de Cristo”. Vê-se então que a Cruz de Cristo e a cruz do cristão são uma só, a mesma, o prolongamento do drama do Calvário.

Dá-se assim uma inversão do significado da dor na existência humana: o que era algo trágico e lúgubre transforma-se em bênção: encontrar a cruz é encontrar Cristo, fonte de ressurreição e horizonte aberto a uma alegria sem fim. Saboreia-se numa paz serena o que antes afligia e consumia. E o sofrimento, em vez de nos encerrar no seu poder de absorção, expande-se nas quatro direções da Cruz de Cristo: o seu comprimento, largura, altura e profundidade, para além do espaço e do tempo.

Este livro deve ser lido devagar, não só pela sua densidade, mas porque compele a dar uma reviravolta alegre no modo de encarar as sombras que acompanham qualquer existência.

Pela Santo Thomas More, A teologia de G.K. Chesterton, de Rafael de Freitas Sartori.  

Gilbert Keith Chesterton (1874 – 1936) possui um trabalho digno de ser estudado também na teologia. Isso se dá porque, ao deparar-se com as inquietações existenciais de sua juventude e as filosofias de sua época, encontrou na fé católica as respostas para ambas, já que ela também respondia às aporias que as filosofias de sua época ocasionaram à razão humana. Chesterton trabalhou em grande parte para responder a essas filosofias que ele considerava equivocadas, realizando ao mesmo tempo uma teologia particular. Num mundo em que os problemas intelectuais que encontramos são ainda consequência daqueles que viveu o autor em seu tempo, as respostas que ele ofereceu para as filosofias da primeira metade do século XX continuam válidas. Não só porque os problemas encontrados hoje são os mesmos, mas também porque, parecendo que essas respostas possuem um valor perene, resistiram ao tempo e são também uma resposta aos problemas intelectuais que encontramos no século XXI. Neste livro, o autor procura mostrar quais são as características dessas respostas e por que o seu pensamento também tem importância no campo da teologia.

Pela Ateliê Editorial, uma nova edição, especial, da Carta de Pero Vaz de Caminha. A edição apresenta duas versões da Carta, uma modernizada e outra semidiplomática. A versão modernizada permite conhecer o texto sem as dificuldades linguísticas do português da época, seja por atualizar a forma, seja por recorrer a notas explicativas. A versão semidiplomática permite ler, em tipo impresso, uma transcrição que reproduz muito de perto as características gráficas e linguísticas do manuscrito.

Pela João e Maria, a história infantil clássica que dá nome à editora, recontada por sua fundadora, Lorena Miranda Cutlak. Este conto alemão de importância universal ganha agora uma versão que é, ao mesmo tempo, fiel ao enredo original e instigante à sensibilidade das crianças de hoje.

As ilustrações são de autoria do grande mestre da aquarela, Walter Lara, um dos grandes nomes da ilustração nacional, que com um estilo muito particular consegue dar ao realismo um traço onírico – ou à realidade o seu quê necessário de sonho.

O livro foi lançado em uma data triplamente especial: 12 de outubro, data em que a editora comemora um ano de sua fundação, dia em que se celebra nossa Mãe, Rainha e Padroeira, Nossa Senhora Aparecida, e que também é nosso Dia das Crianças.

O volume, que é uma obra de arte para os pequenos, pode ser adquirido no site da João e Maria.


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