MURALHA DE LIVROS | Filosofia, Quaresma, literatura e mais

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Esta edição da Muralha traz em seus destaques três importantes obras de filósofos de diferentes tempos. Também trazemos uma importante obra para o Tempo da Quaresma, escrita por um dos maiores nomes da literatura em língua portuguesa.

Também nesta edição: a primeira aventura do maior detetive da história de todos os tempos na literatura; uma obra para incender o espírito patriótico entre as crianças, e uma interessante novidade para os pequeninos.

Confira os lançamentos abaixo, e um excelente final de semana!

Destaques

O principal destaque da semana é o Combo Introdução a Platão, da Vide Editorial, composto de duas obras. A primeira, o consagrado diálogo de Platão, O Banquete, que expõe uma reunião de amigos da qual participam Sócrates, Aristófanes e outros atenienses eminentes, em que se lança uma competição para ver quem fazia a melhor definição de eros (o amor, mas também o belo), um dos mais importantes conceitos da cultura clássica. Neste que é um dos principais diálogos de Platão, debatem-se noções de amizade, de decência, e fio condutor de toda a obra platônica também sobre o próprio ato de raciocinar.

A segunda obra do combo é o Comentário ao Banquete de Platão, de José Ortega y Gasset. O livro, na verdade, não constitui uma análise da obra platônica, como sugere o título, mas é composto de notas que Ortega y Gasset tomou para dar início ao curso que levaria o nome Comentário ao Banquete de Platão, e que não chegou a ocorrer de fato. No entanto, esses apontamentos autor servem como uma excelente introdução ao diálogo platônico e, na verdade, a qualquer um dos livros de Platão.

Neste breve livro, o grande filósofo espanhol versa sobre o mistério que é o simples ato humano de ler, e sobre a própria natureza da linguagem, mostrando como consiste em muito mais que meras palavras, mas num dizer, numa fala, completada pelas modulações da voz, do gesto e da face, pela gesticulação dos membros e, enfim, pela atitude somática total da pessoa, que é resposta a uma circunstância específica — e então Ortega explica o que entende, precisamente, por essa célebre palavra.

Agora, para quem quer se iniciar na leitura de Platão, fica também a sugestão do volume O Mínimo sobre Platão, em que Bruna Torlay se propõe a desvendar ao público geral o universo de Platão, que é considerado por muitos estudiosos como o ápice da filosofia ocidental –  ou, segundo a própria autora, um filósofo “cuja requintada obra constitui um mapa da filosofia ocidental”.

E se estamos falando de filosofia antiga, outro destaque da semana é da Auster, que lançou mais um volume de Sêneca, o principal representante do estoicismo romano, reunidos os textos Sobre a ira e Sobre a tranquilidade da alma.

O livro revela-se uma ferramenta para lidar com desafios emocionais, buscar uma vida mais equilibrada e encontrar estratégias para o autoaperfeiçoamento. Em suas páginas, o filósofo estoico romano defende a razão e a virtude como fundamentos para a paz interior, expõe os males dos vícios que perturbam a alma, provocando inquietação e tristeza, e oferece orientações filosóficas para superar esses estados de agitação mental. Esta é uma leitura enriquecedora e indispensável para quem deseja entender a complexidade da alma em busca de uma existência mais sábia e serena. A partir das reflexões presente no livro, conseguimos compreender o caráter da ira, iluminando o caminho para alcançarmos a tranquilidade da alma.

Confira a seguir um trecho de Sobre a tranquilidade da alma:

“Vícios nos chamam e nos cercam por todos os lados, não nos permitindo levantar ou elevar os olhos para a consideração da verdade, mas nos mantendo imersos e fixados nos desejos.
Aos que são possuídos pelos vícios, nunca lhes é permitido voltarem a si mesmos. Se alguma vez lhes ocorre por acaso um momento de tranquilidade, agitam-se, tal como o mar profundo, onde mesmo após terem cessado os ventos subsiste a turbulência. Seus desejos não lhes concedem repouso em momento algum. A partir dessas coisas, pensas que falo daqueles cujos males são incontestáveis?
Contempla aqueles que vivem na prosperidade: são sufocados por seus bens. Como são opressivas as riquezas para muitos! A quantos não lhes custam o sangue a eloquência e a cotidiana ocupação de ostentar seus talentos! Quantos empalidecem pelos contínuos prazeres! A quantos não deixou nenhuma liberdade a multidão de clientes!”

Outros lançamentos

Para uma boa Quaresma, a Ecclesiae lançou nesta semana os Sermões Quaresmais, do Padre Antônio Vieira, que reúne 18 textos com nos quais o grande religioso nos exorta a viver mais frutuosamente a Quaresma por meio da reflexão diária sobre as realidades eternas. Como material para meditação durante esse tempo favorável e para ajudar na vivência da liturgia, esta seleção reúne os sermões do grande pregador referentes aos cinco domingos quaresmais, além de três sermões da Quarta-Feira de Cinzas e três da Primeira Sexta-Feira da Quaresma.

Leia a seguir um trecho do “Sermão da Quarta-feira de Cinzas”, do ano de 1672:

“Comecemos de hoje em diante a viver como quereremos ter vivido na hora da morte. Vive assim como quiseras ter vivido quando morras. Oh! que consolação tão grande será então a nossa, se o fizermos assim! E pelo contrário, que esconsolação tão irremediável e tão desesperada, se nos deixarmos levar da corrente, quando nos acharmos onde ela nos leva! É possível que me condenei por minha culpa e por minha vontade, e conhecendo muito bem o que agora experimento sem nenhum remédio? É possível que por uma cegueira de que me não quis apartar, por um apetite que passou em um momento, hei de arder no inferno enquanto Deus for Deus? Cuidemos nisto, cristãos, cuidemos nisto. Em que cuidamos, e em que não cuidamos? Homens mortais, homens imortais, se todos os dias podemos morrer, se cada dia nos imos chegando mais à morte, e ela a nós, não se acabe com este dia a memória da morte. Resolução, resolução uma vez, que sem resolução nada se faz. E para que esta resolução dure e não seja como outras, tomemos cada dia uma hora em que cuidemos bem naquela hora. De vinte e quatro horas que tem o dia, por que se não dará uma hora à triste alma?”

Se você se interessou por este título, recomendamos também as obras Meditações para a Quaresma, de Santo Tomás de Aquino, as Meditações de santo Afonso de Ligório para a Quaresma e os Sermões para a Quaresma e a Páscoa, de São João de Maria Vianney. Todos os títulos estão disponíveis em nossa livraria.

E a Sétimo Selo nesta semana começou a publicação das obras do mais célebre detetive da literatura universal, criado por Sir Arthur Conan Doyle, com o livro que iniciou as aventuras de Sherlock Holmes, Um estudo em vermelho.

Nesta história publicada em 1887, Holmes e seu amigo e ajudante, o Dr. Watson, são chamados para desvendar os mistérios por trás de um crime aparentemente impossível: um homem é encontrado morto, sem ferimentos, mas cercado por manchas de sangue, e as únicas pistas são uma palavra escrita às pressas na parede e a aliança de uma mulher.

Pela Livros Vivos, A Pátria Brasileira, de Coelho Netto e Olavo Bilac. Preocupados com a formação moral, cívica e histórica das crianças, os autores lançaram este livro em 1909, com o objetivo de “despertar o amor à pátria nas almas jovens”. Ao longo de 73 capítulos, segue-se uma narrativa em ordem cronológica, desde Portugal ainda no século XV, e culminando na Proclamação da República do Brasil. Voltando para as crianças das escolas primárias, o livro busca enaltecer a grandiosidade do país e destacar as realizações de seus personagens históricos.

Por fim, para os pequeninos, a Texugo lançou esta semana Onde está Mimi?, de Ulisses Trevisan. Ilustrado por Felipe Gianni, o livro chama as crianças a ajudarem o pequeno Pedrinho a encontrar sua gata Mimi. A leitura compartilhada é recomendada para crianças a partir de 1 ano, a independente para as crianças a partir de 5 anos.


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