MURALHA DE LIVROS | Cordel, semiótica e muito mais

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Destaque para lançamentos da João e Maria e da Vide

Esta edição da Muralha traz muitos e muito preciosos tijolos. Nos destaques, as vidas de dois dos mais importantes santos medievais em versos de cordel para encantar crianças e adultos, e a primeira edição brasileira de um dos mais importantes estudiosos da semiótica.

Ainda: três obras que bombardeiam diversas mazelas da modernidade; um opúsculo em defesa da educação domiciliar escrito por um advogado que vem atuando nas linhas de frente dessa guerra, em defesa dos pais educadores; uma compilação de documentos episcopais que revelam a perseguição do Estado contra a Igreja no Brasil há mais de um século; um clássico da espiritualidade católica; uma nova edição do Livro mais importante da história; e um clássico infantil recontado e ilustrado com inteligência e beleza.

Acompanhe os lançamentos a seguir, e um excelente final de semana!

Destaques

O principal destaque da semana é um lançamento da João e Maria: Cordel de Clara e Francisco, de Rebeca Traldi.

Nesta obra, a talentosa poetisa, autora de O nascido, nos conta as vidas de dois santos tão diferentes quanto unidos em perfeita fraternidade: Santa Clara e São Francisco de Assis.
Embaladas pelos versos leves da literatura de cordel, nossas crianças saberão de cor (isto é, terão bem pertinho do seu coração) a história e o legado deixado por estes dois santos cuja mensagem de amor e abnegação não poderia ser mais atual.
As ilustrações são da talentosa Juliana Iasi, que utilizou giz pastel oleoso para reproduzir os traços rústicos da xilogravura, técnica utilizada para ilustrar os cordéis tradicionais.

Confira abaixo duas das estrofes iniciais do poema:

“Num tempo já muito antigo

Foi que se deu essa história

Dum moço de fino trato

Cuja vida, tão notória,

Foi exemplo de virtude

Que levamos na memória.

                   
[…]

                   
Francisco cresceu mundano,

Afeiçoado à riqueza.

Assim como seus amigos

Levava vida burguesa,

Mas queria um algo a mais:

Buscou por fama e nobreza.”

Outro destaque é um lançamento da Vide: O que distingue o pensamento humano?, de John Deely.

Nesta obra, o autor mergulha na complexa questão da distinção entre a inteligência animal e a compreensão humana. Através de uma análise semiótica profunda da atividade cognitiva, ele tece uma narrativa que entrelaça filosofia, história e linguística para desvendar os mecanismos por trás da percepção, do senso e do intelecto.
Deely argumenta que a chave para essa distinção reside na intersemiose, a capacidade humana de interpretar e combinar signos de diferentes naturezas, desde a linguagem até os gestos e objetos do mundo físico. Essa habilidade única nos permite construir um rico universo de significados, transcender a mera manipulação de símbolos e alcançar uma compreensão profunda do mundo ao nosso redor.
O livro também aborda o debate filosófico entre realismo e idealismo, demonstrando como a intersemiose se insere nesse debate e oferece uma nova perspectiva sobre a relação entre signos e realidade. Deely resgata ainda as contribuições de pensadores como João Poinsot e Charles Sanders Peirce para o campo da semiótica, tecendo um rico panorama histórico e intelectual.

Esta edição, que é a primeira deste livro no Brasil, conta ainda com um ensaio introdutório de fôlego do Professor Robert Junqueira, do Instituto de Estudos Filosóficos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, a respeito das fontes latinas no trabalho de Deely.

Confira abaixo um trecho do prefácio escrito pelo próprio autor:

“Semiótica não é nada mais nada menos que o conhecimento que desenvolvemos ao estudar a ação dos signos, e ela receba suas várias divisões a partir dos vários modos e regiões em que essa ação se verifica. Esse estudo pressupõe fundamentalmente uma noção de signo como uma coisa representando ous numa relação de renovi, ou seja, numa relação irredutivelmente triádica, atual ou virtual, mas que no caso da vida cognitiva, pelo que parece, sempre atual. Uma tal noção geral de signo se verifica, no limite, em fenômenos que chamamos “naturais” e em fenômenos que chamamos “culturais”, bem como se verifica em fenômenos intermediários de interação social, os quais são estudados ela sociologia, por exemplo. Mas a proposta propriamente dita de uma tal noção geral de signo parece ter começado a surgir com Agostinho e com a criação da Idade especificamente Latina da história filosófica – e este é um dos frutos mais surpreendentes da pesquisa semiótica contemporânea.”

Outros lançamentos

Pela Kírion, Sem desculpas por ser homem: por que a civilização depende da força masculina, de Anthony Esolen.

Nesta obra, Esolen tece uma poderosa defesa do papel crucial do homem na construção e preservação da sociedade.
Uma geração inteira de jovens está sendo criada sob a falsa narrativa de que a masculinidade é algo a ser reprimido, quando na verdade é a base fundamental da civilização.
O autor nos convida a revisitar a história, desde a força bruta dos construtores anônimos até a energia vibrante dos exploradores, passando pela figura paterna como pilar da família e da justiça. Ele demonstra como a força masculina, em suas diversas formas, sempre foi essencial para o progresso da humanidade.
O livro é um chamado à ação. É preciso celebrarmos a masculinidade em suas virtudes: força, ambição, determinação e liderança. É hora de reconhecermos o papel insubstituível do homem na construção de um futuro melhor.

Pela Danúbio, o Livro negro do mundo moderno, de César Ranquetat Jr.

Nesta obra, Ranquetat expõe os pressupostos teóricos e morais que impulsionam as mudanças contemporâneas e estão desenhando um não tão admirável mundo novo, que têm feito o mundo parecer cada vez mais uma distopia tecnológica e social, com câmeras de reconhecimento facial, transhumanismo, experimentos genéticos, desmaterialização monetária, controle social, “realidade” virtual, fluidez de sexo, etc.

A partir da análise de algumas vacas sagradas do mundo acadêmico, nomes totêmicos como Michel Foucault e Judith Butler, entre outros, o autor aponta onde estão os erros intelectuais responsáveis pelo estado vigente, erros estes que podem provocar grandes tragédias num breve futuro. Trata-se de um livro corajoso e polêmico, uma obra que vai desagradar os doutrinários da direita e da esquerda.

Pela Avis Rara, Corrupção da linguagem, corrupção do caráter: como o ativsmo woke está corrompendo o ocidente, de Nine Borges e Patrícia Silva.

Nesta obra, as autoras expõem como a noção fabricada de empatia e de justiça cede lugar ao assalto à individualidade e aos valores democráticos, através da prática de diferentes formas de corrupção, como a intervenção linguística via criação e redefinição de vocábulos, o controle do que pode ser pronunciado ou pensado, ou mesmo com o desenvolvimento de ideias pseudocientíficas para elevar o status coletivo de opressão de certos grupos, num evidente ataque à lógica orquestrado por grupos identitários, sob a édiga de “diversidade” e da “inclusão”.

Pela E.D.A., Educação domiciliar: um direito fundamental, de Gustavo Carrieres Guiotto.

Advogado pela liberade, Carrieres não se contentou em ler e teorizar sobre educação domiciliar, mas foi estudar in loco, teve contato com as famílias que acreditam serem capazes de educar seus filhos melhor que os sistemas escolares convencionais, e serviu-as em seus processos jurídicos enquanto eram perseguidas.
Neste livro, o autor inicialmente explicita as premissas fundamentais da educação domiciliar, faz um breve histórico do homeschooling, sua opção, seu contexto no sistema educacional brasileiro, enveredando pelos tratados internacionais e a sua recepção no sistema constitucional brasileiro. Por fim, entra na discussão dos direitos humanos fundamentais aplicados à educação domiciliar.

Pelo Centro Dom Bosco, Condenamos o Estado Laico!, obra que reúne todas as cartas pastorais escritas pelos bispos brasileiros entre 1890 e 1900, a respeito do Estado laico, condenando e combatendo tal modelo de Estado, entendido por aqueles prelados como um movimento que é fruto de ideias maçônicas e de seu crescimento no Brasil desde a República.

O volume reúne escritos de importantes bispos que combateram fortemente os perseguidores da fé católica, como Dom Vital, Dom Antônio de Macedo Costa e outros, e resgata uma importante documentação das ações anticristãs por parte de agentes políticos já na última década do século XIX.

Pela Edições Livre, A vida espiritual: pequenos tratados de vida interior, de Elisabeth Leseur.

Neste grande clássico da espiritualidade católica, Leseur guia o leitor em uma jornada pela vida interior, encorajando o cultivo da fé, da esperança e do amor. Ela oferece conselhos práticos sobre como desenvolver a oração, a meditação e a busca pela santidade no dia a dia.
Os escritos de Leseur, publicados postumamente, tiveram um impacto significativo na literatura espiritual católica. Sua obra inspiradora atraiu leitores de todo o mundo, buscando orientação e consolo em sua fé profunda e sofrimento paciente.

Pela Ecclesiae, uma edição especial do Novo Testamento na tradução do Padre Manual Matos Soares.

Com uma linguagem fluente e fiel aos originais da Vulgata Latina, a edição apresenta uma narrativa cativante dos EvangelhosEpístolas e Apocalipse, revelando a mensagem redentora de Jesus Cristo e o caminho da salvação. O trabalho do Padre Matos Soares reflete sua profunda devoção à fé cristã e seu compromisso com a precisão e autenticidade das Escrituras.

Além da tradução cuidadosa, esta edição também oferece notas explicativas e contextualizações históricas, enriquecendo a compreensão dos leitores sobre os ensinamentos e eventos descritos no Novo Testamento.

Pela Texugo, o clássico infantil Cinderela recontado por Flávia Regina Theodoro.

O livro oferece uma perspectiva renovada sobre temas como superação, esperança e a importância de manter-se fiel a si mesmo diante das adversidades. E, para completar essa experiência única, a obra conta com belíssimas ilustrações de Mayara Nogueira, que se revelam como parte integral da narrativa, capturando a essência de cada cena com cores vibrantes e traços expressivos.


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