MURALHA DE LIVROS | Adultescentes, crianças e santos

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Adultescentes, crianças e santos são as três palavras que resumem esta preciosa edição da Muralha de Livros. Isso porque seu principal destaque trata da maior crise comportamental, emocional, psicológica e espiritual da história do mundo: as frágeis e débeis gerações “leitinho com pera” e o atual fenômeno da “adultescência”.

Já para os adultos responsáveis e normais, preocupados com a boa formação de seus filhos e alunos, temos três obras mais que fundamentais para e sobre a alfabetização na primeira infância, desenvolvimento de habilidades leitoras e formação não apenas do imaginário, mas do espírito.

E com a espiritualidade cristã fechamos a seleção da semana, com um guia de leitura do livro com os poemas mais belos da Sagrada Escritura e a melhor biografia já escrita sobre um gigantesco santo brasileiro – aquele que, em condições normais de sanidade mental e espiritual da nação, seria o verdadeiro Patrono de nossa educação.

Confira os lançamentos a seguir, e um excelente final de semana!


Destaques

O grande destaque da semana é um lançamento da Auster, Vê se cresce: a vida não é segura, mas é boa, do Dr. Everett Piper, um livro escrito para as gerações criadas a “leite com pera”.

Todos sabemos — ou, ao menos, deveria saber – como crescer dói. E o que vemos acontecendo hoje em dia? Testemunhamos uma geração que, já criada, não quer sair da casa dos pais e assumir as responsabilidades da vida adulta. São aqueles que militam nas redes sociais, mas não sabem fritar um ovo ou pegar um ônibus; são cuidados, mas não querem cuidar; apontam o dedo para os outros, mas nunca assumem a culpa; preferem mesadas a um salário; exigem mudanças, mas não querer mudar. São aqueles que não aceitam “não” como resposta. É a chamada geração “mimimi” ou hipersensível que se recusa a crescer e se deixa facilmente guiar por filosofias passageiras e pela mídia. O resultado são adultos inseguros, infelizes e ingratos que enfraquecem uma nação. Mas, como chegamos a isso? A culpa é de seus pais superprotetores e de suas más escolhas?

Para compreender a situação, o Dr. Everett Piper descreve o fenômeno da “adultescência” e o impacto negativo para a atual geração, ressaltando que sua gênese é ideológica: essa mentalidade atual é consequência de uma agenda promovida e propagada pela cultura pop, pela educação e pela mídia. Incentivar o eterno adolescente pode ser um negócio lucrativo, mas, a longo prazo, todos nós pagaremos a conta. Vê se cresce! trata das responsabilidades e virtudes da vida adulta; ensina que “crescer” significa ver as circunstâncias da vida não como barreiras, mas como passos em direção à linha de chegada. Este é um livro fundamental diante de uma sociedade cada vez mais imatura.

Confira abaixo um trecho significativo da obra:

“Em 2015, na semana anterior ao Dia de Ação de Graças, uma experiência difícil me acordou para os tempos difíceis em que vivemos. Eu era reitor da Oklahoma Wesleyan University, uma faculdade cristã que ainda exigia que todos os alunos e professores frequentassem o culto religioso duas vezes por semana. Naquela manhã, recebi um telefonema do presidente do grêmio estudantil.

– Dr. Piper, eu gostaria de te avisar… – ele começou. – Fui orador na capela hoje. Depois que terminei o sermão, um dos alunos se aproximou de mim no púlpito. Ele apontou o dedo para o meu peito e disse: “Você me ofendeu quando chamou a minha atenção e a dos meus colegas. Você nos deixou desconfortáveis”.

– Qual foi o assunto do sermão – perguntei. – O que você disse que o ofendeu tanto?

A resposta foi simples e breve: “1 Coríntios 13”, disse ele – a paradigmática discussão sobre o amor na Bíblia. Eu pensava que o texto paulino estava entre as passagens menos ofensivas de toda a Escritura. É aquele que inúmeros cristão leram eu seus casamentos.

Pedi ao reitor uma cópia das anotações que fez como base para o sermão. Queria lê-las para ver se havia alguma explicação lógica para a indignação do aluno. Talvez houvesse alguma piada política ou algum tipo de sarcasmo incompreendido que acabou errando o alvo. Para minha surpresa, não encontrei absolutamente nada no sermão que pudesse ser considerado ofensivo. […] Seu sermão na capela não passou de uma bela homilia sobre o amor, o que São Paulo chamou de a maior de todas as virtudes.

Eu fiquei atordoado. Uma de meus professores havia pegado sobre a importância do amor sacrificial e abnegado e, em resposta, um aluno reclamou por se sentir vitimizado.”

O outro destaque da semana é da João e Maria: Zita, a mosquita erutida, de Juliana Amato.

O livro apresenta a história de Zita, uma mosquitinha que descobriu seu lugar no mundo através da música.

Ziguezagueando entre o palco e as coxias do Teatro Municipal, apaixonada pelo universo das óperas e recitais, Zita reconhece sua chance de fazer música quando um famoso Maestro Russo (de nome compridíssimo e dificilíssimo) vem à cidade reger um importante concerto. Será que a Zita vai conseguir realizar seu sonho?

As ilustrações de Juliana Iasi dão vida e movimento a essa história cheia de reviravoltas, que vai divertir e emocionar leitores de todas as idades.

Com texto em prosa rimada e letra bastão, o livro é ideal para leitura em voz alta na pré-alfabetização, assim como para o treino de fluência em leitura.

Confira a seguir o trecho da obra:

“Sonhadora, vivia voando no mundo da Lua, que às vezes era só a luz da rua. E, quando precisou encontrar uma casa, quis a mais monumental: Zita foi morar atrás das cortinas, dentro das coxias, no topo do palco do Teatro Municipal.
Não era uma simples mosquita. Era uma mosquita erudita. Amava a música — instrumental mesmo! —, as óperas, os recitais. Conhecia as canções do começo ao fim, do fim ao começo — cada harmonia, cada acorde, cada movimento.

Zita era especial, decerto. Tinha um único sonho: participar de um concerto.”

Outros lançamentos

E se o assunto é alfabetização na primeira infância, nesta semana a Mínimo lançou O mínimo sobre alfabetizar com música, de Rosângela Andrade.

A educação na primeira infância tem consequências para a vida toda. Por isso, é fundamental que as crianças pratiquem atividades chamas de “pré-alfabetização”, para adquirirem consciência fonológica, isto é, a compreensão da estrutura sonora da nossa língua – cuja importância para aquisição da leitura é um consenso entre os pesquisadores.

Consciente disso, a autora, depois de muitos anos atuando como professora de música, precisou desenvolver atividades e técnicas para sanar as dificuldades do seu próprio filho, Heitor, o que por fim acabou ajudando muitas outras famílias. Neste livro, ela com vocês um guia mínimo, que une o melhor do ensino da pré-alfabetização com o melhor do ensino da música para a primeira infância.

E no mesmo espírito dos lançamentos acima está o da Auster, A Magia da leitura: por que ler em voz alta para os nossos filhos vai mudar a vida deles para sempre, de Mem Fox.  

Este livro já encantou centenas de pais ao redor do mundo, e mudou a história de muitas famílias. Em poucas páginas, a maior autora de livros infantis da Austrália mostra o poder grandioso da leitura em voz alta, capaz de impactar, não somente a capacidade de leitura das crianças, mas toda a sua vida, e para sempre. Apaixonada e espirituosa, Mem Fox relata os verdadeiros milagres que presenciou ao longo de sua carreira, e ensina, com conselhos práticos e fáceis de seguir, quando, onde e como praticar a leitura em voz alta com os filhos, tirando o máximo proveito e desfrutando a máxima diversão. É por isso que este livro é, de longa data, o queridinho de pais e professores, uma obra imprescindível para qualquer um que queira transmitir aos seus filhos o amor pelos livros.

E para finalizar esta edição da Muralha, duas importantes obras de caráter religioso. A primeira é o mais novo volume que a Ecclesiae traz ao público dos Cadernos de Estudos Bíblicos, de Curtis Mitch, Dennis Walter e Scoth Hann: O livro dos Salmos.

Esta obra  conduz o leitor por um profundo estudo do livro dos Salmos, usando como guia o próprio texto bíblico e as diretrizes da Igreja Católica para sua interpretação. Cada página traz várias observações e oferece novos esclarecimentos e comentários dos renomados professores Scott Hahn e Curtis Mitch, especialistas em estudo bíblico, além de algumas interpretações feitas pelos Padres da Igreja, há muito consagradas. Essas notas de estudo ajudam a tornar explícito aquilo que o autor do livro frequentemente toma por pressuposto, além de fornecerem também preciosas informações históricas, culturais, geográficas e teológicas pertinentes ao Velho Testamento.

Neste estudo ainda se incluem quadros, ensaios sobre determinados tópicos e estudos específicos sobre determinadas palavras; há em cada página uma seção de referências facilmente utilizável e, para cada capítulo, são propostas algumas questões para aprofundar o entendimento pessoal da santa Palavra de Deus. Há ainda um ensaio introdutório que abarca questões de autenticidade, data, destinatários e temas do livro dos Salmos, além de um esquema de sua estrutura.

E, pelo Centro Dom Bosco, Anchieta: o Apóstolo do Brasil, de Simão de Vasconcelos, a primeira e talvez melhor biografia de São José de Anchieta.

Segundo Álvaro Mendes, Presidente do CDB,


“Nenhum homem poderia reivindicar com tanta autoriedade o título de pai fundador do Brasil como São José de Anchieta. Este Apóstolo do Novo Mundo tudo obrou por amor a Nosso Senhor e pela sede de almas a conquistar. Tornou os milagres um fato corriqueiro, fundou cidades, se expôs como refém de tribos canibais para trazer a paz entre portugueses e gentios, escreveu poemas belíssimos à Nossa Senhora e ao Governador Geral, cartas e até uma gramática da língua dos indígenas. A sua epístola a Santo Inácio, na qual comentou sobre a pobreza extrema em que vivia a fim de fundar a cidade de São Paulo, é um exemplo da nobreza do seu ser. Nesta missiva, Anchieta expôs ao santo fundador da Companhia de Jesus que a paz reinava em seu coração, pois “Nosso Senhor Jesus Cristo se colocou em mais estreito lugar, e dignou-se nascer em pobre manjedoura, entre dois brutos animais, e morrer em altíssima cruz por nós”. A partir da vida de São José de Anchieta, podemos compreender o tão grande amor de predileção que Deus possui pela Terra de Santa Cruz. Aos Estados Unidos foram enviados homens comuns com a tarefa de edificar uma nova nação. Ao Brasil, porém, Deus enviou um novo Adão.”

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