HOMENAGEM | José Anselmo Santos – Ao Mestre com carinho

Roberto Lacerda
Roberto Lacerda
Roberto Lacerda Barricelli é jornalista, assessor e historiador. Foi correspondente do Epoch Times e colaborador em diversos jornais, como Jornal da Cidade Online, O Fluminense, São Carlos Dia e Noite, Diário da Manhã, Folha de Angatuba e Jornal da Costa Norte

Despedimo-nos de um dos maiores brasileiros de todos os tempos

Nesta quarta-feira (16), ao som da chuva que sempre lhe inspirava momentos de reflexão, em seu casebre numa chácara humilde em Jundiaí, interior de São Paulo, faleceu um dos maiores brasileiros de todos os tempos, José Anselmo Santos, também conhecido por Cabo Anselmo.

Dotado de imensa coragem, elevado amor por Deus e sua Pátria e memória e inteligência de darem raiva aos menos abençoados, foi enterrado no Cemitério Municipal de Jundiaí, cidade onde viveu os últimos anos, sempre numa penúria aliviada pelos poucos, porém bons irmãos do peito.

Anselmo jamais cansou de defender os valores e princípios que resistem nesta Terra de Santa Cruz. Sua devoção à Nossa Senhora era comovente e sincera, como sua própria história a serviço de uma nação que não o merecia.

Perseguido, injustiçado e tolhido do mais básico direito do ser humano, o direito de existir – ao menos oficialmente -, sem documentos por anos, até que uma visita à sua terrinha natal, no sertão do Sergipe, lhe trouxe a felicidade de obter uma cópia de sua certidão de nascimento e, com a ajuda de um amigo cineasta, seu RG. Ainda sem CPF, já sorria e agradecia aos Céus e à sua Doce Virgem.

Raras vezes lhe ouvi reclamar com seriedade, pois camuflava sua angústia e tormentas com sorrisos e piadinhas inocentes; e quando ouvia alguma anedota de “duplo sentido”, ria com gosto, arrematava com “Que Horror” e pedia perdão, enquanto me dizia “Ah, menino. Não faz o velhinho rir dessas coisas, que ainda tenho a esperança de ir para o Céu, encontrar nosso Criador”.

Escrevia contos belíssimos, alguns dos quais podem ser lidos neste editorial da Revista Esmeril, e falava como poucos, se expressava como único (que era) e explicava desde a História Natural, até as obras clássicas, a história nacional e a geopolítica contemporânea. Que falta me fará as horas sentado na pequena e velha poltrona, cheirando a cinzas dos cigarros que degustava e tomando ora uma cerveja (que eu levava), ora uma cachacinha (que ele adorava), e ouvindo, bebendo de cada palavra que pronunciava, como um garoto frente ao Admirável Mestre.

Contraditoriamente – isso aos olhos de quem não o conhecia -, não economizava palavrões para se referir aos males de nossa época; chamava as coisas por seus nomes, mesmo que isso lhe custasse outro ataque de algum jornalistazinho de 30 anos, mas traumatizado com o Regime Militar dos anos 60 e 70… Ler um “desses bostas” chamar um HERÓI, homem integro e entre os três maiores intelectuais brasileiros deste século, de “conspiracionista”, ou “agente da ditadura”, ou o acusar de “traidor”, doía mais em mim do que nele, que sentia pena desses seres e até rezava por eles.

A única acusação que realmente lhe afetava era a de que teria entregue sua namorada supostamente grávida – algo negado pelo irmão da mesma em seus depoimentos – para ser assassinada. Anselmo registra isso em seu livro “Minha Verdade”, mas lhe afetava quando insistiam nessa estória. Seis guerrilheiros comunistas, ligados às organizações terroristas responsáveis por crimes de sequestro, assassinato, roubo a bancos etc., que defendiam a implantação do regime mais genocida da história humana – o comunismo – em solo brasileiro, não foram “massacrados”, mas mortos em decorrência de suas próprias ações, que nada haviam com “democracia”, mas somente trocar uma suposta ditadura por uma Ditadura de Fato.

Ainda assim, Anselmo pediu ao delegado Fleury que poupasse as vidas de seus ex-companheiros, mas não foi atendido. Era um daqueles momentos que só amigos íntimos tinham acesso, nos quais derramava suas lágrimas.

Traidor? Só quando ainda militava ao lado de figuras deploráveis como Marighella. Nessa época, antes de fugir para Cuba, ter acesso ao maldito regime daquela ilha e as mazelas mentais e sociais que causava ao pobre povo cubano e se reconverter ao cristianismo, foi sim um traidor, como o próprio disse: “Traí minha pátria”. Mas como todo HERÓI, toda alma elevada que repousa no abraço de Deus, teve a oportunidade da redenção.

Não fosse por José Anselmo Santos, que nunca foi Cabo e rejeitava esse falso personagem criado por seus detratores, e a guerrilha provavelmente duraria mais alguns anos, custando se sabe lá quantas vidas inocentes. A maior prova disso? O ódio que até hoje os apoiadores do terrorismo vermelho ainda lhe devotam, esfregando suas mãos pérfidas enquanto mais uma vez atacam o personagem que inventaram.

Bem, que lhes fique claro: podem atacar um fantasma, pois a memória de José Anselmo Santos sobreviverá. Anselmo venceu! E isso vocês jamais terão o gostinho de lhe tirar, não enquanto viverem aqueles que o conheceram, que partilharam de seus sofrimentos nestes últimos 15 anos, sem sua pensão, negada por uma Comissão Patife formada por canalhas ressentidos e seus paus mandados, sem sua existência legal reconhecida por governo algum, mas com muita FÉ e amor ao próximo, que lhe fazia sempre rezar pedindo pelos demais, jamais por si mesmo.

Enquanto estivermos aqui, sua memória viverá e, com ela, os fatos inegáveis da derrota que lhes impôs em vida e mesmo na morte. Anselmo foi amado por seus amigos, seus irmãos de cada hora, e partiu embalado pelo manto da Virgem Santíssima que tanto amou. Será esse o destino dos senhores detratores?

Vá em paz, Mestre! Ficamos neste Vale de Lágrimas, sentindo saudades, mas com o coração alegre, por termos a oportunidade de conviver contigo tanto tempo e a certeza de que o Céu está em festa.

E o Cristo derramou benditas lágrimas de alegria;
Ao ver passar pelos portões de Pedro filho tão querido;
Em vida, perseguido, maltratado e tão sofrido;
Que agora, embalado pelo manto de Sua mãe recebia.


No Brasil, a virtude, quando existe, é heroica, porque tem que lutar com a opinião e o governo

— José Bonifácio

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