HOJE NA HISTÓRIA | Circum-navegação do globo

Vitor Marcolin
Vitor Marcolin
Ganhador do Prêmio de Incentivo à Publicação Literária -- Antologia 200 Anos de Independência (2022). Nesta coluna, caro leitor, você encontrará contos, crônicas, resenhas e ensaios sobre as minhas leituras da vida e de alguns livros. Escrevo sobre literatura, crítica literária, história e filosofia. Decidi, a fim de me diferenciar das outras colunas que pululam pelos rincões da Internet, ser sincero a ponto de escrever com o coração na mão. Acredito que a responsabilidade do Eu Substancial diante de Deus seja o norte do escritor sincero. Fiz desta realidade uma meta de vida. Convido-o a me acompanhar, sigamos juntos.

Entre os biógrafos mais destacados do explorador português Fernão de Magalhães está o escritor Stefan Zweig

Stefan Zweig, autor de Brasil — País do Futuro (1941), cometeu suicídio seis meses depois da publicação do livro, quando estava em Petrópolis, na serra fluminense, em companhia de sua mulher. Zweig fora autor de uma obra prolífica, escreveu ensaios, diários de viagens, romances e biografias. Deste gênero literário três, pelo menos, destacam-se: os ensaios biográficos de Maria Antonieta, a última rainha da França antes da Revolução; de Leon Tolstói, o monumento da Literatura Russa; e de Fernão de Magalhães, o explorador português que descobrira a passagem para o Oceano Pacífico em sua viagem pioneira ao redor do globo.

Zweig é um escritor de outra época, sua sensibilidade extrema o fez sofrer enormemente ao testemunhar os novos rumos do mundo. No entanto, o escritor soube celebrar as conquistas objetivas, positivas que a civilização do Ocidente conquistara. Em sua biografia de Fernão de Magalhães, Zweig, a partir de uma reflexão tomada na ocasião de uma viagem de navio, dá início a um laborioso trabalho de pesquisa; ele decide escrever sobre a força transformadora que nasce unicamente dos esforços da personalidade individual. Fernão de Magalhães (1938) é uma mostra perfeita — na acepção mesma de completa — da consciência do autor sobre o significado das conquistas da civilização.

Construir, conquistar, desbravar novas terras e mares é tarefa difícil, do tipo que exige aquela disposição heroica que só pode manifestar-se sob o senso do dever. Zweig observava isto nas personagens reais de suas biografias, mas não nos homens seus contemporâneos. Naquele longínquo 10 de agosto de 1519, uma armada de cinco navios guarnecidos com canhões deixou Sevilha partindo para Sanlúcar de Barrameda onde, algumas semanas depois, após abastecer as naves com víveres e toda sorte de instrumentos, ferramentas e objetos necessários, a frota partiu para a primeira viagem de circum-navegação do globo com 265 tripulantes. Destes, apenas 18 regressariam ao porto de Sanlúcar de Barrameda, na Espanha.

Magalhães, o líder da expedição, assim como seu ilustre biógrafo, sucumbiu sob o peso dos desafios. No entanto, diferentemente de Zweig, Magalhães não cometera suicídio; o explorador português fora envenenado por uma flecha no calor do combate contra os nativos que o recepcionaram quando de sua chegada ao fim do mundo.

Efígie de Fernão de Magalhães no Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa. Fonte: Domínio Público

Com informações do livro Zweig, Stefan, Fernão de Magalhães — História da Primeira Circum-Navegação, Editora Guanabara Waissman, Koogan LTDA, Rio de Janeiro, 1938.

“De modo, filha minha, que de jeito

Amostrarão esforço mais que humano,

Que nunca se verá tão forte peito,

Do Gangético mar ao Gaditano,

Nem das Boreais ondas ao Estreito,

Que mostrou o agravado Lusitano,

Posto que em todo o mundo, de afrontados,

Ressuscitassem todos os passados.”

 

Os Lusíadas, Canto II, estrofe 55
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