ESMERIL ENTREVISTA | O Eurasianismo e a Nova Ordem Mundial

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Alexandre Costa e Daniel Ferraz falam sobre as relações do Eurasianismo com a Nova Ordem Mundial, o ocultismo e até mesmo a direita brasileira

Você conhece o Eurasianismo? Já ouviu falar em Alexandr Dugin? Sabe como a ideologia eurasiana se relaciona com o que se entende por Nova Ordem Mundial? Conhece as raízes ocultistas do Eurasianismo? E o Brasil, sabe como está relacionado com a onda eurasiana, e por que tantos de nossos intelectuais, à esquerda e à direita, têm se encantado tanto pelo canto da sereia russa?

Sobre essas questões conversei com dois importantes estudiosos do movimento revolucionário, história da filosofia, geopolítica e história dos movimentos esotéricos e ocultistas na formação da modernidade filosófica, cultural e política: Alexandre Costa e Daniel Ferraz.

Alexandre começou seus estudos após o 11 de Setembro de 2001, e desde então já publicou os livros Bem-vindo ao hospício, Introdução à Nova Ordem Mundial, O Brasil e a Nova Ordem Mundial, As várias faces da Nova Ordem Mundial, Um copo de redpill, O mínimo sobre ocultismo e O mínimo sobre Globalismo. Foi colaborador do canal Terça Livre e da Revista Terça Livre, e faz análises geopolíticas em seu canal no Youtube.

Daniel é autor do recém-publicado O ocultismo na política moderna e coautor de Línguas de Fogo. Possui inúmeros artigos publicados em portais como PHVox e Influência Jovem. Também foi colaborador no canal Terça Livre e tem mais de 600 horas de transmissão em seu canal no Youtube.

Confira a seguir a entrevista com esses dois eminentes alunos de Olavo de Carvalho.


Revista Esmeril: Esta entrevista será em torno dos fenômenos a que chamamos Eurasianismo e Nova Ordem Mundial. Em primeiro lugar, então, gostaria que explanassem brevemente o que são esses fenômenos e como eles se relacionam.

Alexandre Costa: Uso a expressão Nova Ordem Mundial como um processo de construção de uma nova sociedade, com novos parâmetros, novos princípios e um novo ordenamento social. Dentro desse processo vejo algumas correntes de pensamento que em determinados momentos são complementares e aliadas, e em outros parecem adversários inconciliáveis. Na essência dessa transformação social está a capacidade de assimilar contradições para fortalecer a corrosão das estruturas da sociedade que se pretende substituir. O objetivo é instrumentalizar qualquer rejeição aos valores essenciais do Ocidente, por isso todas as ideologias coletivistas de alguma forma promovem esse processo. O Eurasianismo é uma delas.

Daniel Ferraz: Tenho evidenciado a problemática das análises políticas em alguns níveis observáveis:

  1. A política do dia: votações, picuinhas internas e externas, opiniões midiáticas etc. Esse primeiro nível é o mais material e imediato. Podemos datar que, no Brasil, pelo menos desde 2013, o interesse das pessoas pela política aumentou. Tratamos deste aspecto quantitativo por conta de todos os problemas materiais que o povo brasileiro já estava sofrendo há muito tempo: roubalheira generalizada, bandidagem, sacanagens estupendas em Brasília, mentiras midiáticas, destruição da convivência humana mais basilar etc., etc. Muitas pessoas, partindo dessa motivação inicial, não repousaram o seu entendimento apenas nas suas percepções mais sensíveis, mas quiseram ir além desse primeiro espanto, passando para o próximo nível;
  2. A procura pelo entendimento: vídeos, artigos, livros etc. Ao procurarem melhores referências, acharam na internet muitas figuras extremamente importantes e populares, como foi o caso de muitos com o Professor Olavo de Carvalho, entre tantos outros indicados por ele. Nós tivemos uma cadeia gigantesca de indicações de autores e mais autores que nos ajudaram a compreender, com maior profundidade e exatidão, os problemas que estávamos (e estamos) passando. As pessoas começaram a procurar por outras causas além da mera materialidade inicial. Em termos aristotélicos, podemos dizer que conseguiram saltar da causa material (do que estas coisas são feitas) para a causa formal (o que são essas coisas?). Disto, temos a ascensão para um terceiro nível!
  3. Nível histórico-cultural e psicológico: neste nível, compreendendo do que a política é feita e o que ela é em maior profundidade. Muitas pessoas começaram a procurar pela causa eficiente (quais foram os agentes que desencadearam todos esses processos dos quais vivemos hoje?). Isto somente é possível através da compreensão histórico-cultural dos povos; ou seja, compreender ações políticas e geopolíticas à luz das evocações da formação histórica, cultural e psicológica. Entretanto, ainda é possível aprofundar-se mais!
  4. Nível espiritual: metafísica; origem da existência; Deus! Ainda em busca da verdade e do verdadeiro conhecimento, muitas pessoas chegam a este nível da análise em busca de contemplar as verdadeiras causas. Se vamos compreender as ações geopolíticas da Rússia, por exemplo., como faremos sem compreender a sua casta intelectual e o que eles realmente pensam acerca de questões fundamentais? Como o problema do mal, a origem da existência, a ontologia humana etc. Já neste nível de análise, todos os fenômenos da política do dia, o entendimento prévio e as curiosidades (curiositas), a história, a cultura e a psicologia das massas são objetos de estudos metafísicos profundos (studiositas). Portanto, não interessa mais esta ou aquela opinião (doxa) difusa e equívoca, mas o salto para uma compreensão razoável à luz dos primeiros princípios (episteme).

Diante disso, conseguindo conciliar os elementos complexos desses quatro níveis, podemos constatar que tanto o fenômeno da NOM como do Eurasianismo tratam da tentativa de o homem tomar o lugar de Deus e remodelar todo o mundo à sua própria imagem e semelhança. Durante a história, tivemos inúmeros fatos que poderiam ser expostos aqui, iniciando da formação dosprimeiros povos pagãos até à formação dos primeiros Impérios, a completa derrocada da Cristandade medieval ao advento do humanismo neopaganista, as revoluções protestantes, o racionalismo, o romantismo e idealismo do século XIX e a culminação nos totalitarismos do século XX, que comportam todo corpus ideologicum dos movimentos anteriores, a saber: comunismo, fascismo e nazismo. Após a Segunda Guerra, temos a ascensão dos poderes liberais-globalistas que, utilitaristas como ninguém, valeram-se dos Estados-nação burgueses como ponta de lança para destruir a Sã Tradição Católica e, posteriormente, superar os próprios Estados-nação para o advento de um Governo Global. Tanto o movimento ocidental que podemos intitular de Consórcio (centralismo socialista do Clube Bilderberg, CFR, Comissão Trilateral, fundações dinásticas como Rothschilds, Rockefellers etc.), como o Islam (Irmandade Muçulmana) e o Movimento Eurasiano (fruto da gnose eslavófila, do ocultismo perenialista e dos mitos imperiais ocultistas do Cesaropapismo russo) são como que cabeças de uma mesmíssima hidra revolucionária; ou, simbolicamente, a validação espaço-temporal (Leviatã e Behemot) do brado de Lúcifer: non serviam!

No fundamento desses três gigantescos blocos satânicos e globalistas, temos a suprema tentação gnóstica encontrada no Jardim do Éden: “e sereis como deuses” (Gn 3,5). Essa análise teológico-metafísica escapa aos diversos analistas geopolíticos, que, inebriados de análise histórico-crítica, ignoram os princípios ontológicos dos povos, a ordenação temporal à autoridade espiritual, e analisam apenas aspectos indiferentistas, burocráticos e sensíveis. Portanto, com efeito, a relação entre Eurasianismo ou Globalismo (melhor dizendo) se consuma numa Hidra revolucionária de várias cabeças que procura um fim alheio ao da Revelação: seduzir o homem (assim como a Serpente) e convencê-lo de que se é possível alcançar o Paraíso, mas no mundo que jaz no maligno.

Revista Esmeril: Falem um pouco sobre a figura de Alexandr Dugin, criador do Eurasianismo.

Alexandre Costa: Conheço pouco do trabalho dele. Apenas alguns artigos, entrevistas e o debate com Olavo de Carvalho. Deste material posso deduzir que ele é um homem inteligente e erudito, que consegue articular ideologias materialistas e pragmáticas com um pensamento místico que pode ser confundido com tradição religiosa. No meu entender ele é mais um ideólogo do que um filósofo.  

Daniel Ferraz: Alexandr Dugin nasceu em Moscou em 1962. Era (ou melhor, é!) um membro arquivista da KGB (atual FSB). Passou a se relacionar com movimentos da direita europeia, foi um dos fundadores do movimento Nacional Bolchevismo, escreveu diversos livros de estratégia de guerra geopolítica com verniz apocalíptico (Fundamentos da Geopolítica, Quarta Teoria Política, Noomakhia, entre outros). Desde a sua juventude, interessou-se por toda sorte de correntes mágicas, ocultistas, esotéricas e gnósticas, argumentando que representavam uma aproximação com o que ele próprio chama – seguindo a René Guénon, Julius Evola, Madame Blavatsky, Heidegger, Nietzsche etc. – de Tradição Primordial.

Essa tradição, como bem trabalhada pelo professor Orlando Fedeli, é a tradição da Serpente, dos apócrifos e de todo esoterismo antiquíssimo que se segue. Contudo, segundo as teses mais elaboradas de Dugin – diferindo acidentalmente de Guénon –, o homem deve alcançar essa Tradição que o libertaria do jugo do Demiurgo (Ocidente e Igreja Católica) através da Via da Mão Esquerda.

Esse conceito da Via da Mão Esquerdaé trabalhado incessantemente por ocultistas, mas, resumidamente, defende a tese de que o homem deve procurar uma destruição abrupta e revolucionária para surgir, através das cinzas, uma ordem a posteriori. Ou seja, a criação de Deus (que, para os gnósticos, incluindo Dugin, é fruto de uma prisão cósmica) deve ser superada através da revolta incessante e extrema.

A principal tese de Dugin,a Quarta Teoria Política, nada mais é que o despertar da gnose para que o adepto dessa quimera envenene sua alma de ódio ao Ser e, tomando o lugar de Deus, crie-o de acordo ao seu intento. É claro que, como ensinava Olavo de Carvalho, toda ideologia carrega um discurso pretextual. Isto é, proposições lógicas e fechadas que parecem belíssimas num primeiro momento, mas que, em verdade, a ação do revolucionário que a criou ou a segue, sempre a contradiz. Do mesmo modo, o demônio nunca cumpre aquilo que ele promete, não é mesmo? Trata-se do mundo da pura enganação!

Revista Esmeril: Falem um pouco sobre as raízes ocultistas do Eurasianismo. Como ele está, por exemplo, relacionado a crenças gnósticas?

Alexandre Costa: As ideologias coletivistas sempre carregam algum traço de misticismo em seu núcleo. Embora sempre se apresentem como racionais e materialistas, o próprio desejo de criar um paraíso terrestre já contamina qualquer plano realista. Cientes dessa impossibilidade, ideólogos astutos revestem as suas teorias com eufemismos ou analogias imperfeitas, criando simulacros e evitando a qualquer custo a exposição detalhada de suas ideias.

Com o Eurasianismo parece ocorrer a mesma coisa: para criar coesão em sua teoria, Dugin evoca a importância da tradição, mas oferece uma transformação revolucionária; e para fortalecer uma ideologia coletivista artificial, finge se preocupar com o direito natural dos indivíduos.

Daniel Ferraz: Para responder a esta pergunta, e me aprofundar no que já foi dito na resposta anterior, deixarei o próprio Alexandr Dugin falar em duas oportunidades:

“Se o ateísmo da Nova Era deixa de ser algo mandatório para a Quarta Teoria Política, então a teologia das religiões monoteístas, que uma vez substituiu outras culturas sagradas, não será também a verdade última (ou melhor, poderá ser ou não). Teoricamente, nada limita a profundidade da abordagem dos antigos valores arcaicos, a qual pode assumir um lugar específico na nova construção ideológica, após ser adequadamente reconhecida e compreendida. Eliminando a necessidade de ajustar a teologia ao racionalismo da modernidade, os portadores da Quarta Teoria Política estão livres para ignorar aqueles elementos teológicos e dogmáticos, que foram afetados pelo racionalismo nas sociedades monoteístas, principalmente nas ultimas fases. Estas levaram ao aparecimento do deísmo sobre as ruinas da cultura europeia crista, seguido do ateísmo e do materialismo, durante um desenvolvimento escalonado dos programas da era moderna.

Não apenas os mais altos símbolos supramentais da fé podem ser colocados a bordo novamente como um novo escudo, mas também podem aqueles aspectos irracionais dos cultos, ritos e lendas que tem deixados perplexos os teólogos das fases previas. Se nos rejeitamos a ideia de progresso inerente a modernidade (que como nos vimos, acabou), então tudo que e antigo ganha valor e credibilidade simplesmente por ser antigo. “Antigo” significa bom e quanto mais antigo – melhor. De todas as criações, o Paraíso e a mais antiga. Os portadores da Quarta Teoria Política devem lutar para descobri-lo novamente no futuro próximo.”

A Quarta Teoria Política, p. 38

E em dois outros trechos providenciais de um texto cujo título é bem sugestivo, “O Gnóstico”, diz Dugin:

A humanidade sempre teve dois tipos de espiritualidade, dois caminhos – o Caminho da Mão Direita e o Caminho da Mão Esquerda. O primeiro é caracterizado pela atitude positiva para com o mundo circundante, o mundo é visto como harmonia, paz, equilíbrio, bondade. Todo o mal é visto como um caso particular, um desvio da norma, algo dispensável, transitório, sem profundas razões transcendentais. O Caminho da Direita é também chamado de O Caminho do Leite. Não fere pessoa, a preserva da experiência radical, a retira da imersão em sofrimento, do pesadelo da vida. Este é um caminho falso. Ele leva a um sonho. Quem segue por ele, não chegará a lugar algum.

O segundo, o Caminho da Mão Esquerda, vê tudo em uma perspectiva invertida. Não a ‘tranquilidade láctea’, mas o sofrimento negro; não a calma silenciosa, mas o drama tortuoso e impetuoso de uma vida angustiante. Este é O Caminho do Vinho. Ele é destrutivo e terrível, a raiva e a violência reinam lá. Para quem está seguindo por este caminho, toda a realidade é percebida como o inferno, como o exílio ontológico, como tortura, como a imersão no coração de alguma catástrofe inconcebível originária das alturas do espaço. Se no primeiro caminho tudo parece tão bom, no segundo – muito mal. Este caminho é monstruosamente difícil, mas apenas este caminho é verdadeiro. É fácil tropeçar nele, e é ainda mais fácil de perecer. Ele não garante nada. Ele não tenta ninguém. Mas apenas este caminho é o único e verdadeiro. Quem o segue – vai encontrar a glória e a imortalidade. Quem resistir – vai conquistar, vai receber o prêmio, que é maior que a vida.

Aquele que segue pelo Caminho da Mão Esquerda sabe que um dia o aprisionamento terá terminado. A prisão de substância entrará em colapso, tendo se transformado em uma cidade celestial. A cadeia do iniciado passionalmente prepara um momento desejado, o momento do fim, o triunfo da libertação total. 

[…]

Mas os gnósticos se manterão firmes em seu trabalho de vida. Nunca, nem hoje, nem amanhã. Pelo contrário, há todas as razões para triunfar internamente. Não dissemos aos ingênuos otimistas do Caminho da Mão Direita onde sua confiança ontológica excessiva vai levá-los? Não previmos a degradação do seu instinto criativo se transformar na paródia grotesca que é representada pelos conservadores modernos que renunciaram a tudo, que horrorizaram os seus mais atraentes (mas não menos hipócritas) precursores de um par de milhares de anos atrás? Eles não nos ouviram… Agora deixe-os culparem apenas a si mesmos e ler livros New Age ou manuais de marketing.”

Como tenho insistido em meu livro Do Ocultismo na Política Moderna e nos diversos videocasts que fiz a respeito do Eurasianismo e do Gnosticismo, basta deixarmos Dugin falar. Ele não esconde o que é verdadeiramente: um revolucionário, ocultista e gnóstico!

Revista Esmeril: Como vocês preveem um cenário mundial em que prevaleça a ordem eurasiana? Como, mais ou menos, seria esse novo ordenamento geopolítico? E, mais importante, ele seria viável e exequível? 

Alexandre Costa: Difícil imaginar um ordenamento possível onde coexistam todas as correntes que Alexandr Dugin tenta reunir: ideologias coletivistas de vários matizes, além do papel institucional de China, Rússia, Índia, uma Pátria Grande na América Latina e remanescentes do Islã, da África, Ásia e Leste Europeu. Um arranjo forçado para abrigar todos esses desejos e ojerizas exigiria um sistema mirabolante, o que provavelmente resultaria em mais controle sobre a sociedade e menos direitos para os indivíduos.

Não acho que seja viável porque todo plano megalomaníaco tende ao fracasso. A ideia de construir um mundo perfeito por vias políticas sempre desemboca em desequilíbrio, injustiça, desordem e, por fim, no totalitarismo.  O problema é que, até dar errado por completo, esses planos sempre deixam um rastro de dor e sofrimento.

Daniel Ferraz: Como dito, toda ideologia possui uma tensão própria entre discurso pretextual e ação concreta. Não poderíamos presumirque haveriaum ordenamento geopolítico literal tal como apresentado pela Quarta Teoria Política de Dugin. O que sempre teremos, nas diversas tentativas de consumar o Império Satânico, é a tentativa ininterrupta de destruir a criação de Deus e a Sua Igreja.

Não deixa de ser engraçado que os blocos eurasianistas (concentrados no poderio russo-chinês disfarçado no BRICS e no Foro de São Paulo), dialeticamente, criticam e dizem combater o “liberalismo” ocidental quando, em verdade, veem com bons olhos à própria revolução transumanista financiada em demasia pelo lobby do Consórcio. Não deixa de ser tragicômico que, enquanto bradam aos quatro cantos a sua tal “Tradição”, historicamente, sabemos que o movimento comunista russo (entre tantos outros) foi diretamente financiado por grandes banqueiros ocidentais. Com efeito, a própria ascensão da China do século XX deu-se pela junção do lobby do CFR e dos neocon do Partido Republicano norte-americano.

Com isto, é evidente que um ordenamento mundial eurasiano, assim como qualquer tentativa de se estabelecer uma ordem global idealmente uniforme, não seria minimamente viável, pois ignoram-se, como dissemos, os princípios ontológicos e metafísicos da própria existência humana.

Revista Esmeril: Agora, falemos de Brasil. Qual seria o papel do nosso país teria dentro desse cenário geopolítico hipotético?

Alexandre Costa: No livro O Brasil e a Nova Ordem Mundial tentei mostrar que o nosso país tinha um papel fundamental nas transformações que ocorriam no panorama geopolítico mundial. Além de todos os recursos naturais, potencial produtivo, localização estratégica e enorme mercado consumidor, o Brasil também oferece uma posição deliderança regional e diplomáticaque pode ajudar a construir na América Latina um bloco aos moldes da União Europeia, ou seja, um conjunto de burocratas não eleitos esmagando soberanias nacionais e individuais.

Daniel Ferraz: O Brasil, de fato, sempre servirá como uma “teta gorda” para todos os lobbys internacionais. Simples assim!

Revista Esmeril: Ainda sobre o Brasil: temosvisto que a filosofia (ou, se preferirem, retórica) duginista, depois de ter se consolidado entre boa parte da esquerda brasileira, tem cooptado e conquistado muitos membros da direita, inclusive entre pessoas que foram alunos de Olavo de Carvalho, principal crítico e opositor de Dugin. Como avaliam essa tendência? Acreditam que a falta da presença de Olavo entre nós, da continuidade do COF, dos esporros do Professor etc., pode estar relacionado a isso?

Alexandre Costa: Como estamos assistindo a um processo sistemático de destruição dos valores constitutivos da nossa sociedade, e os principais executores desta agenda destrutiva são personagens facilmente identificáveis como membros de uma elite política, financeira e cultural do Ocidente, buscar a proteção, o apoio ou o conforto em um lado que pareça o oposto a estas pessoas e instituições é praticamente instintivo. E o nível acentuado da polarização catalisa e sedimenta essa falsa impressão de alternativa.

A presença de Olavo de Carvalho certamente eliminaria muitas dessas ilusões.

Daniel Ferraz: O Brasil é a terra perfeita para oportunistas e charlatães, isto é fato! O sentimentalismo e verbalismo brasileiros servem, única e exclusivamente, para inverter a ordem natural das coisas e privilegiar revolucionários e bandidos de que aqueles que são verdadeiramente bons. Ainda no âmbito do sentimentalismo e do verbalismo, recomendo a todos que releiam o excelente artigo do professor Olavo de Carvalho chamado A palavra-gatilho, e que assistam à minha transmissão intitulada O Poder do Discurso Revolucionário.

O brasileiro, carente de suas verdadeiras história e origem, apartado de todo valor objetivo da realidade, desarmado culturalmente, torna-se um alvo fácil dos psicopatas que estão no poder. Estamos vivenciando, em nosso país, a figura clara do anti-humano e da anticivilização. Somos o povo que confunde sincretismo religioso e espiritualidades fúteis com religião, sacanagem institucionalizada com política, polidez desmedida com erudição, roubalheira e “jeitinho brasileiro” com economia etc.

Bom, como diria o saudoso Olavo: o papel do Brasil nesse cenário seria, claramente, o de tomar no cu. Nesse contexto, podemos estender o palavrão científico aos oportunistas idiotas que se dizem alunos de Olavo, mas que seguem um paspalho esotérico como Dugin por puro sentimentalismo.

Revista Esmeril: Para finalizar: como podemos sobreviver, e mantendo-nos mental e espiritualmente sãos,diante dos avanços do Eurasianismo, e de um possível reordenamento geopolítico mundial?

Alexandre Costa: Estamos atravessando um momento crucial da nossa história, em que o povo se vê esmagado por várias forças contrárias aos seus princípios.

Diante desse bombardeio ideológico cotidiano epersistente, oprimeiro passo é fortalecer a personalidade e tornar a busca pelo conhecimento uma constante, com humildade suficiente para corrigir ou recuar quando necessário e justo.

Apenas uma mente coesa e madura pode se preparar para as turbulências que aparecem no horizonte.
Que Deus nos proteja.  

Daniel Ferraz: Não há nada melhor do que citarmos os bons e sempre atuais Evangelho. Temos em Mateus 16,18: “E também digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.”

As promessas de Cristo transpassarão todo o período histórico e toda a batalha entre Leviatã e Behemot. Não devemos nos furtar da batalha, é claro, mas direcioná-la ao que realmente importa: através da lapidação, da mortificação e do arrependimento de nossos pecados, entregarmo-nos à Imitação de Cristo e, através das virtudes, levemos o maior número possível de pessoas à Verdade. Temos 2023 anos de História da nossa Santa Igreja, um múnus teológico, miraculoso, metafísico, ontológico, filosófico, psicológico, político etc., etc., e que não raras vezes negligenciamos e procuramos soluções nas propostas da própria Serpente.

Dizer-se conservador e/ou direitista não nos aparta do mal, mas pode tornar-nos ainda mais soberbos e orgulhosos. Afinal, se acreditamos que participar de um movimento ideológico-subcultural, e que esse movimento representa literalmente o “lado bom” da História, podemos apostar tudo – absolutamente tudo – no processo terreno e imanentista, e procurar felicidade onde não acharemos. A decepção e desilusão dessas enganações, portanto, podem levar-nos à perdição completa.

Logo, somente na verdadeira Igreja de Cristo, nos Sacramentos, na verdadeira ascese e na verdadeira vida vocacional teremos chances reais de Salvação. Fora disso, apenas simulacros diabólicos e falsos.

Esmeril Editora e Cultura. Todos os direitos reservados. 2023

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Abertos

Últimos do Autor