Paulo Henrique Araújo fala sobre seu novo livro, que revela as raízes do Foro de São Paulo e traz importantes atualizações sobre a marcha revolucionária latino-americana
Nesta semana tivemos o lançamento de mais uma importante obra sobre a organização revolucionária mais perigosa da América Latina: Foro de São Paulo e a Pátria Grande, de Paulo Henrique Araújo. Nesta obra, Paulo se aprofunda nas raízes histórico-ideológicas do Foro, que remontam ao bolivarianismo do século XIX, para reforçar o ideal último da organização, que é a construção da Pátria Grande – uma espécie de URRS latino-americana. Além disso, o autor também fornece atualizações das movimentações mais recentes do Foro, que, em meio ao atual cenário geopolítico em constantes mudanças, vive diferentes marchas e frequentes metamorfoses, sem perder sua essência e seu ideal revolucionário.
Acompanhe abaixo a entrevista com Paulo Henrique Araújo, e não deixe de se atualizar a respeito do Foro de São Paulo com a leitura dessa obra essencial pra se entender a marcha revolucionária da América Latina.
Revista Esmeril: Você acaba de lançar o seu segundo livro sobre o Foro de São Paulo, e uma coisa chama a atenção nas publicações sobre assunto: a constante necessidade de atualizações devido à frequente reconfiguração geopolítica da América Latina. Gostaria que falasse um pouco sobre esse desafio relacionado a escrever sobre o Foro.
Paulo Henrique Araújo: Sim, a necessidade de atualização é uma constante, não somente quanto ao Foro de São Paulo. No momento, após a pandemia, o mundo atravessa o processo de estabelecimento de uma nova Guerra Fria, tal qual Putin anunciou em seu discurso no Fórum Econômico Mundial de 2021. Neste processo, o Foro de São Paulo passou a atuar de maneira determinante como ponto de entrada para o polo sino-soviético (ou russo-chinês) de maneira mais efetiva no continente.
Além deste ponto, o próprio Foro de São Paulo está passando por uma zona de inflexão interna, e estamos assistindo a uma “disputa” entre seus líderes pelo modelo que deverá ser adotado nos países membros.
Outro desafio importante diz respeito ao real papel do Foro de São Paulo. Além do que já tivemos publicado até o momento, até 2016 vivenciamos um cenário mais doutrinal do Foro, porém após a sua pretensa queda no período de 2014 a 2016, ele assume um papel de interferência revolucionária importante, com diversas convulsões sociais planejadas e a implementação de estratégias de guerra híbrida, como o lawfare e o fortalecimento de novos grupos que passaram a atuar de maneira determinante, como CELAC, G77 + China, BRICS e o Sul Global.
Revista Esmeril: O título do seu novo livro traz uma novidade que talvez não seja conhecida por todos, o conceito da Pátria Grande, que você trabalha nesse volume. Fale um pouco sobre o que é a ideia da Pátria Grande, quais têm sido os mecanismos para implementá-la na América Latina, seus principais agentes, os desafios que esses planos têm diante de si etc.
Paulo Henrique Araújo: Dediquei os últimos dez anos acompanhando os movimentos dos integrantes e agentes ligados ao Foro de São Paulo, além do Bolivarianismo. Algo que me chamou a atenção em todo este processo foi a necessidade de uma integração e coordenação política, diplomática, partidária e de ideias que era trabalhada nos mais diversos meios. Existe um consenso errado, quando falamos do Foro de São Paulo, de que ele é um bloco comunista em essência. Obviamente o socialismo marxista tem um papel importante nas ideias de seus atores, todavia os direcionamentos ideológicos transpassam este ponto e estão ligados a mentalidade iluminista de Simón Bolívar e seus ideais de implementação de “unificação” da América Espanhola. Para compreender este cenário, foi necessário voltar ao início do século XIX, compreender a mentalidade e influências de Bolivar e quem ele influenciou. Na virada do século XIX e por todo o século XX este ideário de uma grande pátria e o antiamericanismo floresceu em todo o continente, e, para compreender isto, fiz questão de estudar as ideias de dois importantes intelectuais que defendiam estas ideias a partir de Bolivar: O argentino Manuel Ugarte, atuante na virada do século XIX para XX, e que chegou a participar como delegado enviado para reuniões das internacionais socialistas, tendo trocas de ideias como Vladimir Lênin em pessoa; e o brasileiro Darcy Ribeiro, que fora Ministro da Educação, Ministro-chefe da Casa Civil e fundador da Universidade de Brasília, e que possui um livro escrito sobre o tema, em que podemos entender muito dos propósitos envolvidos neste objetivo macro de integração regional.
O leitor poderá identificar que o Foro de São Paulo é, na verdade, um grande instrumento deste processo revolucionário que nasceu ainda no século XIX.
Revista Esmeril: Atualmente, existem colaborações de agentes estrangeiros junto aos operadores do Foro de São Paulo? Quem são eles, e em quais países eles têm atuado com mais força?
Paulo Henrique Araújo: Sim, podemos destacar três principais: Rússia, China e Irã. O Foro de São Paulo utiliza este eixo como a principal coluna de sustentação política, militar e financiamento para conquistar e/ou se manter no poder. Os meios de ação são variados e passam por segurança militar para manutenção do Estado ditatorial, apoio em fóruns de debates internacionais (ONU, entre outros), financiamento de obras públicas com contratos que aprisionam os Estados beneficiados, garimpo ilegal de ouro e outros metais preciosos, tráfico internacional de drogas, ações de guerra híbrida para desestabilização de países vizinhos, etc. Os principais vetores como agentes são: Cuba, Venezuela, Nicarágua e Brasil.
Revista Esmeril: Em seu livro, você descreve os ciclos de florescimento, ascensão, queda e renascimento do Foro de São Paulo, que sempre segue a toada da marcha revolucionária, com avanços, recuos, pausas, desaceleração etc. Como a eleição de Donald Trump já está interferindo e ainda pode vir a interferir nessa marcha revolucionária latino-americana? É possível, por exemplo, que o período 2025 – 2028 venha gerar materiais inéditos para novas publicações?
Paulo Henrique Araújo: Creio que ainda seja cedo para estabelecermos um cenário claro, baseado em fatos. Todavia, Donald Trump deu algumas sinalizações de que pretende olhar a América Latina com um cuidado especial ao se aproximar de Elon Musk, que possui interesses em apoiar a guerra comercial com a China para beneficiar suas empresas, sobretudo a Tesla. Mas mais importante que este fator foi a indicação do Senador Marco Rúbio como Secretário de Estado americano. Rúbio é de família refugiada cubana, tem uma presença forte junto ao eleitorado latino da Flórida e atua em diversas frentes e denúncias dentro do Congresso americano. Inclusive, ele tem sido um dos políticos mais vocais contra as ditaduras de Daniel Ortega, na Nicarágua, e Maduro, na Venezuela. Também ofereceu declarações contra os abusos de poderes no sistema jurídico brasileiro na figura do Ministro Alexandre de Morais.
Acredito que com Rúbio, os interesses do Irã, China e Rússia que passam necessariamente pela América Latina estarão agora sob um escrutínio maior por parte do EUA, e podemos aguardar ações neste sentido.
Revista Esmeril: Como você avalia a situação atual do Foro de São Paulo, levando-se em conta as circunstâncias em torno de seu principal operador, Lula da Silva?
Paulo Henrique Araújo: Como citei anteriormente, o Foro está passando por um momento de inflexão, um embate no topo da cadeia de comando, sobre qual a fórmula de atuação deverá prevalecer, mas após este processo, prevejo que a linha vencedora irá reunificar a cadeia de comando e os meios de ação para o futuro. Apesar dos desentendimentos entre os líderes, a parte executiva do Foro de São Paulo continua alinhada e com as diretrizes em pleno funcionamento.