ENTREVISTA | O wokeísmo e seus agentes

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

O entrevistado desta semana é Tom Sarti, estudioso que, junto com Ubijaraja Patrocínio, apresenta o podcast Saindo da Bolha. Tom e Bira, recentemente, tiveram seu livro O que é a cultura woke e como combatê-la publicado pela PHVox. A obra não é apenas mais um manual de combate ao wokeísmo, pois apresenta como diferencial, em seu conteúdo, os perfis dos mais diversos agentes (conscientes e não conscientes, incluindo uma famigerada IA) de disseminação da cultura woke, para então mostrar os caminhos de “cura” para aqueles que podem de fato ser libertos dessa enfermidade do nosso tempo.

Quer saber mais sobre o trabalho de Tom e Bira, assim como seus projetos para breve? Leia a entrevista abaixo, e não deixe de adquirir esse valioso livro, que está com desconto em nossa livraria!


Revista Esmeril: Como surgiu seu interesse por falar sobre a cultura woke?

Tom: Interessante você perguntar isso porque, pensando agora, foi um longo processo de construção. Quando eu e o Ubirajara começamos o nosso podcast, o Saindo da Bolha, em 1999, tínhamos a intenção de conversar com o público sobre política internacional, mas sempre de olho nos aspectos comportamentais de diferentes países. Rapidamente percebemos que seria impossível falar alguma coisa sobre os Estados Unidos ou a França, por exemplo, sem levar em conta qual é a percepção do que é “direita” em cada um desses países em termos práticos. A direita holandesa, já percebíamos, era mais “direita”, se comparada ao CDU alemão de Merkel, por exemplo.

Mas a cada incursão que fazíamos, víamos o ambiente sempre contaminado com o chamado politicamente correto, na época. Tanto é que assinamos, vocalmente, sermos um podcast que “abomina o politicamente correto”.

Mais para frente, com as eleições de Trump e, finalmente, com os distúrbios do “Summer of Love” de 2020, o wokeísmo explode e começa a crescer exponencialmente. A partir daí, poucos episódios nossos não tinham alguma menção direta ou indireta à “cultura” woke. Foi nesse momento que decidimos dar um passo para trás e escrever para o nosso público um pouco mais sobre o tema, para consolidar as informações e, principalmente, para buscar uma forma de transformar cada pessoa em um potencial agente no combate dessa aberração.

Revista Esmeril: Fale um pouco sobre seu livro O que é a cultura woke e como combatê-la, recentemente publicado pela PHVox. Como surgiu a ideia de escrevê-lo e como ele está estruturado? 

Tom: O livro está, basicamente, estruturado em três grandes grupos de informação. Na primeira parte, apresentamos nossa visão sobre como essa “cultura” foi criada e as adaptações de diferentes teorias que levaram a esse caldo meio disforme que é o wokeísmo, sem esquecer o papel do meio acadêmico e do “grande dinheiro” que o impulsionou.

A segunda parte do livro é totalmente dedicada a mostrar como se dá o fluxo de informações e interesses, de forma que o leitor entenda como uma ideia pseudo-científica pode ter saído de uma universidade da Califórnia e, hoje, possa estar sendo replicada em um perfil de uma comunidade de periferia de uma cidade do Nordeste do Brasil. 

Procuramos definir em detalhes quem são os criadores e os difusores, tanto profissionais como amadores. A partir daí, mostrar para o leitor quais pessoas são passíveis de serem desprogramadas e quem não merece tempo de atenção em um processo argumentativo.

Por fim, no último terço, falamos sobre as estratégias de combate, considerando que as pessoas não têm tempo para se tornar militantes em tempo integral. Como ações práticas, no dia a dia, podem ajudar a destruir essa teoria geral falaciosa.

Revista Esmeril: Seu livro tem uma peculiaridade interessante, que é o intertexto com respostas padrão do ChatGPT a respeito de conceitos fundamentais da cultura woke. Qual foi a intenção em se valer desse recurso?  

Tom: As ferramentas de Inteligência Artificial já são uma realidade não só para trabalhos complexos, mas para consultas simples do cidadão comum. Ainda que o usuário padrão de internet não utilize tanto o ChatGPT para suas atividades cotidianas, as buscas do Google já enxertaram respostas da sua IA no seu motor de busca. Isso significa que, em breve, muitas pessoas passarão a visitar o Google apenas para consultar a “verdade” exposta pela IA deles… e isso é preocupante.

Para entender como as ferramentas de IA pensam sobre o tema (apesar de já termos um bom histórico a respeito), decidimos criar uma nova conta no ChatGPT, do zero, sem memória prévia de uso, para conhecer o viés da ferramenta. A partir daí, sabendo da tendência woke dela, usamos o ChatGPT como se fosse um consultor na apresentação de alguns conceitos que discutimos durante o livro. O resultado foi muito interessante!

Conseguimos um assistente bastante woke para usar durante a estruturação do livro, porque se fizéssemos nossas buscas de referência de acordo com as palavras chaves que normalmente usamos, e usando ferramentas de busca já contaminadas com nosso viés, teríamos um assistente menos woke e mais “Saindo da Bolha”.  Com isso, foi muito mais interessante analisar a visão tantas vezes distorcida da realidade dessa “cultura”. 

Revista Esmeril: Seu livro deixa bem claro que muitas pessoas aderem à cultura woke sem nem perceberem, sem sequer se darem conta de que estão tendo suas falas e comportamentos manipulados. Como se pode ajudar esses incautos? 

Tom: É verdade! Muitos nem percebem mais as mensagens do wokeísmo embutidas no cotidiano, em função da profundidade com que ele está enraizado no contexto cultural. Trata-se de um comportamento já normalizado. 

Uma das ferramentas que usamos no livro foram filmes, séries e animações veiculadas nos últimos anos e mostrar como elas têm uma forte marcação de características do wokeísmo, que trabalha, via de regra, com uma série de chaves revisionistas. Um caso clássico citado é o da série Cleópatra, apresentada pela Netflix. Nela figurava uma rainha negra, com uma série de inconsistências históricas. Para o público geral, a percepção era de que a série representava, como em um documentário, a vida dela e, certamente, uma enorme porção da audiência terminou de assistir aos capítulos imaginando que sabia mais sobre História do que antes.

A única maneira de evitar que mais pessoas caiam nesses contos do vigário é sugerir a elas que assistam essas obras como forma de entretenimento apenas e, caso tenham interesse no tema, pesquisem um pouco mais sobre os personagens que chamaram mais atenção. Ou seja: entenda entretenimento como entretenimento e nada mais.

Uma pesquisa rápida no próprio Google vai mostrar o governo egipcio processando a Netflix em 2 bilhões de dólares, por ter transformado uma das suas maiores celebridades em um personagem diferente da verdadeira História. Portanto, o interessado na série, com uma busca simples, descobriria que os dados históricos apresentados não mereceriam credibilidade. 

Revista Esmeril: Vocês pretendem publicar mais obras envolvendo o universo do wokeísmo? Pode falar algo a respeito do que teria planejado? 

Tom: Temos dois passos pela frente.

Em primeiro lugar temos um livro pronto sobre ONGs e como elas são um componente fundamental na construção dessa “cultura”. Para isso, fizemos um extenso trabalho de pesquisa de financiamento dessas instituições, para provar o que muitos de nós apenas supúnhamos: o financiamento parte das grandes fortunas mundiais.

Foi um trabalho muito divertido, cheio de exclamações e algumas boas surpresas. Um dos exemplos que posso adiantar, presente no livro, é uma simulação de como uma pessoa que imagina estar apoiando uma causa pró-aborto na Califórnia pode, ao final, estar patrocinando a soltura de presos condenados em um estado da Costa Leste americana. Sendo assim, é possível afirmar que uma pessoa de bom coração, supondo estar financiando uma entidade benemerente no combate à fome na Africa, infelizmente terá o seu dinheiro aplicado para militância de movimentos a favor de processos clínicos de mudança de sexo em menores de idade no seu próprio país.

Enquanto estamos finalizando um livro sobre as eleições americanas deste ano, o pessoal aqui do Saindo da Bolha já está em fase de coleta de informações para a próxima etapa no tema wokeísmo. Ele envolverá os exemplos bem-sucedidos de ações de bloqueio, os quais já  começam a aparecer por todo o mundo. Estamos realmente esperançosos de que, em um futuro não muito distante, “woke” serão aquelas pessoas que acordaram do pesadelo em que estavam inseridos e souberam se contrapor ao desmonte programado dos nossos valores.  


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