Em um martírio que não parecia ter fim, São Vicente foi responsável pela conversão de um sem-número de seus próprios carrascos
Hoje é dia de São Vicente de Saragoça, diácono e mártir.
Vicente viveu entre os séculos III e IV, no tempo das perseguições de Diocleciano e Maximiano. Ordenado diácono por São Valério, Bispo de Saragoça, foi seu braço direito e sua “voz”, pois o Bispo era gago e tinha muita dificuldade de se expressar oralmente. Assim, o diácono era seu responsável pela pregação do Evangelho.
Quando o governador Daciano, de Valência, mandou prender os líderes da Igreja hispânica, em 304, fez Valério e Vicente percorrerem a pé os quase 310 quilômetros entre Saragoça e Valência, onde foram julgados. Vicente, por ordem do governador, que se irava com sua “impertinência”, passou incólume por toda sorte de torturas: foi desconjuntado, espetado por ferros em brasa e queimado em uma grelha, sem que se abalasse. Quando Daciano mandou que fosse preso em uma cela forrada de cacos de vidro, os mesmos transformaram-se em plumas.
Vendo-se vencido, e com um número cada vez maior de seus soldados convertidos diante da coragem do santo diácono, Daciano resolveu dar-lhe um descanso, e foi então que Deus permitiu que ele morresse. Querendo se vingar sobre seu cadáver, o governador jogou-o para ser devorado pelos pássaros, mas as próprias aves puseram-se a guardar seu corpo. Daciano, então, ordenou que Vicente fosse amarrado e uma pedra e atirado ao fundo do mar, mas seu corpo foi encontrado na praia por um grupo de cristãos que o sepultou com a honra devida aos mártires, e sobre suas relíquias ergueram um templo.
São Vicente, que hoje ganha dois poemas, é modelo de servidor fiel de Cristo, corajoso e invencível diante dos piores tormentos.
São Vicente de Saragoça, rogai por nós!
O tranquilo martírio de Vicente de Saragoça
Quando era imperador Diocleciano,
viveu o santo diácono Vicente,
que, preso pelo odioso Daciano,
passou suplício sórdido e inclemente.
A pé até Saragoça o fez andar
milhas e milhas, sob sol ardente,
e como ele não quis renunciar
a Jesus, o deixou todo quebrado,
uma a uma as suas juntas e estalar,
e quando o diácono, desconjuntado,
fiel a sua fé continuou,
o cruel governador, obcecado,
por espetos ardentes ordenou
que lentamente fosse ele ferido,
e como este suplício não vingou,
que às brasas mesmo fosse então metido,
mas continuou Vicente bem tranquilo,
deixando ainda mais aborrecido
Daciano, e seus carrascos, vendo aquilo,
a Cristo, aos poucos, foram se rendendo,
e na última esperança de feri-lo,
tramou-lhe um último suplício horrendo,
e mandou que ele fosse trancafiado
em um cubículo em seu chão contendo
por toda parte vidro estilhaçado,
mas no instante em que o diácono adentrou
a cela, o vidro em plumas foi mudado,
e quando, exausto, enfim, capitulou
o alucinado atroz governador,
e em paz, então, Vicente viajou
pra junto de Jesus Nosso Senhor.
A derrota de Daciano
Quando Vicente morreu,
o governador Daciano,
maligno, concebeu
pro seu cadáver um plano:
exposto o mandou deixar
pra as aves o irem comendo,
mas um anjo as fez ficar
zelosas, o protegendo.
Daciano, furibundo,
mandou que fosse amarrado
a uma pedra, e bem ao fundo
do mar fosse arremessado.
No entanto, ele foi boiando
até a praia, onde o achou
de bons cristãos todo um bando,
que a um sepulcro o destinou,
e enquanto no Céu Vicente
foi por anjos festejado,
ao Inferno incandescente
foi Daciano, o derrotado.
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