DOSE DE FÉ | Vicente de Saragoça

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Em um martírio que não parecia ter fim, São Vicente foi responsável pela conversão de um sem-número de seus próprios carrascos 

Hoje é dia de São Vicente de Saragoça, diácono e mártir.

Vicente viveu entre os séculos III e IV, no tempo das perseguições de Diocleciano e Maximiano. Ordenado diácono por São Valério, Bispo de Saragoça, foi seu braço direito e sua “voz”, pois o Bispo era gago e tinha muita dificuldade de se expressar oralmente. Assim, o diácono era seu responsável pela pregação do Evangelho.

Quando o governador Daciano, de Valência, mandou prender os líderes da Igreja hispânica, em 304, fez Valério e Vicente percorrerem a pé os quase 310 quilômetros entre Saragoça e Valência, onde foram julgados. Vicente, por ordem do governador, que se irava com sua “impertinência”, passou incólume por toda sorte de torturas: foi desconjuntado, espetado por ferros em brasa e queimado em uma grelha, sem que se abalasse. Quando Daciano mandou que fosse preso em uma cela forrada de cacos de vidro, os mesmos transformaram-se em plumas.

Vendo-se vencido, e com um número cada vez maior de seus soldados convertidos diante da coragem do santo diácono, Daciano resolveu dar-lhe um descanso, e foi então que Deus permitiu que ele morresse. Querendo se vingar sobre seu cadáver, o governador jogou-o para ser devorado pelos pássaros, mas as próprias aves puseram-se a guardar seu corpo. Daciano, então, ordenou que Vicente fosse amarrado e uma pedra e atirado ao fundo do mar, mas seu corpo foi encontrado na praia por um grupo de cristãos que o sepultou com a honra devida aos mártires, e sobre suas relíquias ergueram um templo.

São Vicente, que hoje ganha dois poemas, é modelo de servidor fiel de Cristo, corajoso e invencível diante dos piores tormentos.

São Vicente de Saragoça, rogai por nós!

 

O tranquilo martírio de Vicente de Saragoça

 

Quando era imperador Diocleciano,

viveu o santo diácono Vicente,

que, preso pelo odioso Daciano,

 

passou suplício sórdido e inclemente.

A pé até Saragoça o fez andar

milhas e milhas, sob sol ardente,

 

e como ele não quis renunciar

a Jesus, o deixou todo quebrado,

uma a uma as suas juntas e estalar,

 

e quando o diácono, desconjuntado,

fiel a sua fé continuou,

o cruel governador, obcecado,

 

por espetos ardentes ordenou

que lentamente fosse ele ferido,

e como este suplício não vingou,

 

que às brasas mesmo fosse então metido,

mas continuou Vicente bem tranquilo,

deixando ainda mais aborrecido

 

Daciano, e seus carrascos, vendo aquilo,

a Cristo, aos poucos, foram se rendendo,

e na última esperança de feri-lo,

 

tramou-lhe um último suplício horrendo,

e mandou que ele fosse trancafiado

em um cubículo em seu chão contendo

 

por toda parte vidro estilhaçado,

mas no instante em que o diácono adentrou

a cela, o vidro em plumas foi mudado,

 

e quando, exausto, enfim, capitulou

o alucinado atroz governador,

e em paz, então, Vicente viajou

 

pra junto de Jesus Nosso Senhor.

 

A derrota de Daciano

 

Quando Vicente morreu,

o governador Daciano,

maligno, concebeu

pro seu cadáver um plano:

 

exposto o mandou deixar

pra as aves o irem comendo,

mas um anjo as fez ficar

zelosas, o protegendo.

 

Daciano, furibundo,

mandou que fosse amarrado

a uma pedra, e bem ao fundo

do mar fosse arremessado.

 

No entanto, ele foi boiando

até a praia, onde o achou

de bons cristãos todo um bando,

que a um sepulcro o destinou,

 

e enquanto no Céu Vicente

foi por anjos festejado,

ao Inferno incandescente

foi Daciano, o derrotado.


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