DOSE DE FÉ | Luís

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Pai de família, rei e cruzado, São Luís de França constitui modelo de homem santo a serviço e Nosso Senhor em toda a sua vida

Hoje é dia de São Luís, ou São Luís de França, rei.

Filho do rei Luís VIII e de Branca de Castela, São Luís nasceu no Castelo Real de Poissy, em 25 de abril de 1214. Recebeu educação muito piedosa. Com a morte prematura de seu pai, em 1226, Luís foi coroado rei com o título de Luís IX, mas ainda tutelado por sua mãe, por ser muito jovem. Branca de Castela passou a governar a França ao mesmo tempo em que o preparava para assumir de fato a coroa. Fez questão de mantê-lo longe das intrigas e do ambiente de depravação da Corte, formando-o no caminho da retidão, da justiça e da caridade. O esforço dos pais gerou bons frutos. Luís desenvolveu as virtudes que o elevaram à santidade e ao reconhecimento de modelo de rei católico.

Em 1234 Luís IX assumiu efetivamente o reino da França, mas ainda mantendo sua mãe em uma posição próxima, como sua conselheira. Naquele mesmo ano, casou-se com a Princesa Margarida de Provença, jovem piedosa como ele. O casal real promoveu um reinado de imensa justiça e caridade, tendo como principal marca o cuidado incansável para com os pobres. Fundaram igrejas, conventos, hospitais, abrigos para os pobres, órfãos, velhos e doentes. Tiveram 10 filhos, que se tornaram piedosos reis e rainhas de outras cortes.

A devoção de São Luís também fez adquirir e levar para seu país a Coroa de Espinhos de Nosso Senhor, comprada do imperador Balduíno II, de Constantinopla. Para abrigar a relíquia, mandou construir a capela gótica de Sainte-Chapelle, no coração de Paris. Às sextas-feiras, inclusive, o rei proibia que seus filhos ou quaisquer membros da Corte usassem ornamentos na cabeça, pois era o dia da Coroação de Nosso Senhor.

Interior da Sainte-Chapelle, em Paris, construída para abrigar a Coroa de Espinhos de Nosso Senhor

Em 1245, o monarca adoeceu e quase morreu. Por sua recuperação, prometeu e Nosso Senhor que moveria uma Cruzada contra os turcos na Terra Santa. Seu espírito de serviço a Cristo o movia a isso. Assim, em 1248, ele promoveu a Sexta Cruzada, cujo objetivo era a libertação do Santo Sepulcro. A empreitada do santo monarca, que a promoveu acompanhado de sua esposa e irmãos, contou com um dos exércitos mais fabulosos da Idade Média. No entanto, foram vencidos pela peste, o escorbuto, e disenteria e a traição de um dos nobres, que espalhou entre as tropas o boato de que o rei havia se rendido. Em meio a um grande confusão entre os militares, em 1250 o próprio Luís IX acabou sendo feito cativo dos muçulmanos no Egito, enquanto Margarida de Provença assumiu a Cruzada em seu lugar.

Em maio daquele ano, a Ordem do Templo pagou uma generosa quantia pelo resgate do monarca francês, que resolveu permanecer por mais algum tempo no Oriente, onde trabalhou para reforçar alianças com os Estados cristãos locais e estabelecer certa diplomacia com os poderes islâmicos da Síria e do Egito. Em 1253, após receber a notícia do falecimento da rainha mãe, voltou para a França.

Por uma década e meia o rei seguiu com suas políticas de caridade com os pobres, costurando alianças com outros Estados e financiando mestres arquitetos que espalharam o estilo gótico por todo o Velho Continente. Na final dos anos 1260, com a intensificação dos ataques muçulmanos aos Estados Cruzados no Oriente, Luís IX resolveu convocar a Sétima Cruzada, em 1270.

Em junho daquele ano, o santo rei partiu com seus exércitos rumo a Túnis. Seu objetivo era converter o sultão local para, juntos, atacarem o sultão do Egito. No entanto, os acontecimentos novamente não lhe foram favoráveis. Após a conquista de Cartago e diversas outras pequenas vitórias, os cruzados passaram a sofrer com a peste, que não poupou nem mouros, nem cristãos. Entre as vítimas estava um dos filhos de Luís IX, João Tristão. Pouco depois, o próprio rei também morreria, adoecido, em 25 de agosto.

Em sinal da humildade que marcou sua trajetória em vida, o corpo do monarca foi colocado sobre cinzas e levado de volta à França por seu filho e sucessor Filipe. Parte de suas entranhas foi enterrada em Túnis, e uma outra porção foi destinada, a pedido do rei Carlos I, da Sicília (irmão de Luís IX), à Abadia de Monreale, na ilha italiana. O restante do corpo passou por estadas na Bolonha e em Lyon, e depois foi sepultado na Necrópole Real da Abadia de Saint-Denis, em Paris – estas relíquias foram quase todas perdidas durante as guerras religiosas na França durante o século XVI, sobrando apenas um dedo em Saint-Denis. Já as relíquias da Sicília foram transportadas para a Tunísia, por ocasião de consagração da Basílica de São Luís de Cartago, e depois foram enviadas à França, onde permanecem na Sainte-Chapelle.

Basílica de Saint-Denis, necrópole dos reis da França
Catedral de São Luís, em Cartago, onde foi sepultada parte das entranhas do santo rei de França

Canonizado por Bonifácio VIII em 1297, São Luís constitui exemplo em vários sentidos: é modelo de pai de família, que, criando seus 10 filhos em conformidade com a caridade cristã, foi-lhes também um valioso conselheiro; nesse mesmo espírito, fez-se modelo de estadista cristão, pois regeu como um pai de toda uma nação, pois sua preocupação não era apenas com o bem-estar material de seus súditos, mas também com sua saúde espiritual – o monarca que espalhou igrejas e Mosteiros por todo o país também difundiu na França espiritualidade das Ordens mendicantes do século XIII, e recebeu em conselho Santos como São Tomás de Aquino e São Boaventura; e com todo o poder que detinha, fez-se humilde servo do verdadeiro Rei, Nosso Senhor Jesus Cristo.

São Luís, rogai por nós!

 

O primeiro milagre de São Luís

 

Quando em Paris chegou a comitiva

com o rei morto, e o novo rei à frente,

seguia o séquito copiosa gente,

a prantear em lástima aflitiva.

 

Chegou junto ao cortejo uma senhora

trazendo ao colo o filho adoentado,

de um nocivo tumor desenganado,

e ao pôr a mão no esquife, àquela hora

 

desceu do céu um benfazejo brilho,

que inundou todo o vulto de seu filho.

A afecção no corpo do menino

 

explodiu e desfez-se, e enquanto o sino

da Sainte-Chapelle fúnebre batia,

São Luís junto a Jesus no Céu sorria.


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