DOSE DE FÉ | Josefina Bakhita

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

De escrava a serva do Senhor, Santa Josefina Bakhita é exemplo de perdão e humildade

Hoje também é dia de Santa Josefina Bakhita, religiosa.

Nascida no Sudão, em 1869, foi raptada por comerciantes árabes de escravos aos 7 anos de idade. O trauma gerado por seu rapto foi tão intenso, que a fez esquecer sua cidade de origem, quem eram seus pais, sua história de vida e até mesmo seu próprio nome. Seus raptores a chamaram de Bakhita, que significa “afortunada”.

Na condição de escrava, passou pelas mãos de muitos donos, sofrendo mais uma série se traumas físicos e emocionais. Tais marcas a acompanhariam para o resto da vida, inclusive em sua pele, tatuada em sinal de escravidão quando foi raptada. Bakhita foi vendida diversas vezes, até que, aos 21 anos, foi comprada por Calixto Legnani, cônsul italiano no Sudão, que a entregou a um piedoso casal cristão de Veneza, para quem trabalhou como ama seca e babá de sua filha, que estava para nascer quando o casal a conheceu.

O casal com quem passou a viver e a pequena de quem ela cuidava tornaram-se sua família. Um dia, eles precisaram voltar ao continente africano, onde tinham seus negócios, e deixaram a filha, acompanhada por Bakhita, aos cuidados das irmãs da Congregação de Santa Madalena de Canossa, em Veneza. No convento, ela pôde se aprofundar no conhecimento e na vivência da fé cristã, tendo sido batizada em 1890. Em 1896, foi ordenada Irmã Josefina, nome que escolheu em homenagem a São José.

Foi viver no convento da congregação na cidade de Schio, perto de Veneza, servindo com humildade como porteira, bordadeira, sacristã, enfermeira e cozinheira. No anonimato e no silêncio, viveu uma vida de pura doação a Deus e ao próximo por mais de meio século.

Já idosa, próxima do fim de sua vida, foi novamente assaltada pelos terrores da escravidão em seu inconsciente. Segundo seu próprio testemunho, foi curada pela intercessão de Nossa Senhora, a quem recorreu. “Nossa Senhora!”, aliás, foram as últimas palavras que pronunciou antes de morrer, em 8 de fevereiro de 1948, aos 78 anos.

A Santa Irmã Morena, como ficou carinhosamente conhecida, perdoou todos os que a maltrataram no passado, em especial seus raptores, pela oportunidade que lhe deram de seguir em uma jornada rumo ao conhecimento de Jesus. Foi beatificada por São João Paulo II em 1992 e também por ele canonizada em 2000.

Santa Josefina Bakhita, rogai por nós!

 

A Santa Irmã Morena

 

Por bárbaros e cruéis maometanos

foi no Sudão raptada uma menina,

de casa desgarrada aos sete anos.

 

Marcaram como escrava a pequenina,

que foi, de feira em feira, negociada,

sofrendo triste e dolorosa sina.

 

A pobre tanto foi traumatizada,

que de seu próprio nome se esqueceu,

e foi por seus algozes batizada

 

“Bakhita, a que venturas recebeu”.

Pra lá e pra cá vendida e revendida,

dono a dono a servir ela viveu,

 

e um dia, a Mãe de Deus, compadecida

da “bem-aventurada”, colocou

um novo rumo em sua triste vida:

 

um caridoso cônsul a levou

à Itália, onde um casal veneziano

a recebeu e a ela confiou

 

sua filha, que nascia àquele ano.

Bakhita foi feliz no novo lar,

mas Deus lhe reservava um outro plano,

 

e assim, quando em um convento se hospedar

precisou, conheceu Nosso Senhor,

e a Ele quis sua vida consagrar,

 

e desta vez, sem lágrima ou terror,

da família soltou-se novamente,

pois lhe chamava extraordinário amor,

 

e aos vinte e sete, foi o seu presente

transformar-se na freira Josefina,

que humilde a Deus serviu piedosamente

 

por muito tempo, até que à Sua Campina

chamasse o Bom Pastor Sua cordeira,

e enfim, a triste história da menina

 

raptada, fez-se glória verdadeira

no Convento de Santa Madalena,

e hoje roga por nós a santa freira,

 

hoje roga por nós a Irmã Morena!

 

Bakhita no Céu

 

Bakhita, chegando ao Céu,

meio torta e atrapalhada,

duas malas ia levando,

e, por São Pedro saudada,

 

perguntou-lhe o ancião

o que vinha ali trazendo.

A freirinha então abriu

a mala da esquerda, havendo

 

ali, só umas bugigangas,

que eram todos seus pecados.

Já da mala da direita,

um a um foram tirados

 

os méritos infinitos

de Jesus em sua vida,

e eram tantos e tão belos

os talentos da querida

 

irmãzinha, que São Pedro,

bonachão, logo a chutar

a outra mala, foi deixando

Santa Josefina entrar.


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