A guerra entre EUA e China escalou. Esse duelo já é uma reedição da Guerra Fria, onde o bloco capitalista era quase totalmente desligado, diplomática e comercialmente, do bloco comunista soviético. E cada um tinha ao seu lado certo grupo de países bem delimitado.
Nesta semana e na passada, tentando navegar através da neblina das narrativas, buscamos suporte em especialistas sobre China, principalmente de fora das influências dos dois países. Eles nos mostram que China e EUA têm vantagens e desvantagens. Será como em um duelo, aquele que piscar primeiro perde. Se você quiser ler a primeira parte clique aqui CESAR LIMA – Tarifas americanas: o fator China – parte 1.
Após o lançamento do artigo anterior, a China retaliou os EUA com tarifas de 104% (cento e quatro por cento). Em resposta, Donald Trump subiu as tarifas, dos já inacreditáveis 125% (cento e vinte cinco por cento), para absurdos 145% (cento e quarenta e cinco por cento). A China retaliou novamente, subindo suas tarifas para 125% (cento e vinte cinco por cento). Tais tarifas inviabilizam qualquer comércio entre os dois países. Agora ambos buscam soluções para superar o adversário.
Quando essa guerra era aberta entre americanos e soviéticos, a ordem mundial era bilateral e todo mundo sabia como se portar. Com a queda da União Soviética isso mudou. Veio o investimento pesado dos americanos na industrialização da China, seguidos depois pelos outros países democráticos, na esperança de fazer bons negócios e diminuir o poder do Partido Comunista Chinês. Assim, o mundo tornou-se multilateral e foi possível haver a globalização; e todos voltaram a se acomodaram na nova ordem mundial.
O que Donald Trump percebeu é que o plano de enfraquecer o Partido Comunista Chinês falhou. A China, após enriquecer com suas indústrias e exportações, declarou uma nova Guerra Fria silenciosa contra os Estados Unidos. Os interesses econômicos dos países desenvolvidos haviam deixado seus líderes convenientemente cegos a isso. A economia chinesa crescia a índices altíssimos, jorrando dinheiro em todo mundo. Isso trouxe a maior vantagem chinesa – conseguir deixar os países ricos dependentes de seus produtos baratos; e, os países pobres, de seu investimento em projetos de desenvolvimento.
Diferentemente da situação em que se encontrava no seu primeiro mandato, agora Trump estava preparado apoio suficiente para expor a gravidade da situação e declarar guerra, também. Os Estados Unidos ainda são a maior potência mundial; tanto do ponto de vista econômico quanto militar. Ao contrário da China, onde o Partido Comunista comanda com mão de ferro os cidadãos e empresas, eles também são um parceiro confiável para investimentos. Os americanos estão usando isso a seu favor, conseguindo, inclusive, trazer à mesa de negociação velhos aliados que, em um primeiro momento, tinham ficado perplexos com a atitude radical do presidente americano.
Por outro lado, hoje a indústria exportadora chinesa supera a todos. Os EUA e os demais países ricos sofrerão um impacto se esses laços forem cortados bruscamente. Ademais, a China tem projetos de desenvolvimento de infraestrutura espalhados pelo mundo todo, essencialmente nos países do “sul global”. Essas seriam as vantagens chinesas. Contudo, a China também tem problemas. Um deles é a crise demográfica. Com a política do filho único, que durou décadas, hoje o país tem muitos velhos e poucos jovens em idade para trabalhar. Pressão na Previdência e falta na mão de obra não é fácil, ou rápido, de resolver.
Donald Trump e Xi Jinping estão movendo suas peças, países sob a influência de ambos estão sendo visitados; e negociações estão em andamento. A tendência de uma nova bilateralidade é cada vez mais forte. Até entre ambos já há sinais de uma negociação, mesmo que ainda pouco provável. Com as medidas tomadas por Trump, ao menos neste primeiro momento a China já sofreu um forte baque em sua indústria. O superávit em relação aos EUA era de 30% (trinta por cento), e isso proporcionava grande parte do crescimento chinês.
Em resumo, ambos têm vantagens e desvantagens. Aparentemente o americano tem mais vantagens, mas isso não é tão seguro assim. Como dito, muitos países subdesenvolvidos ou desenvolvimento precisam desesperadamente do dinheiro chinês. Por outro lado, os países mais ricos preferem a segurança americana. Para quem a China venderá seu grande excedente industrial? Esse jogo apenas começou e está longe de acabar.
O Brasil, pela pujança do agronegócio, está em um lugar especial. Apesar de ideologicamente estar pendendo mais para a China, mas nem isso é garantido para a nova potência. Ainda temos um fiapo de democracia. Com um novo governo eleito, talvez, a questão ideológica perca sua força. De qualquer maneira, trata-se de uma grande oportunidade que se abre ao Brasil. Resta ver se saberemos navegar nesse novo mundo que se abre.
P.S. Durante a escrita desses artigos, surgiram várias evidências de que Xi Jinping está sendo contestado em seu poder por uma divisão interna no Partido Comunista Chinês. Isso pode trazer consequências para esta Guerra Fria atual; consequências que ainda não podem ser medidas, mas que serão abordadas quando se consolidarem.