BICENTENÁRIO丨Fragmentos da Independência: a viagem de D. Pedro a Minas Gerais

Amanda Peruchi
Amanda Peruchi
Doutora em história e pesquisadora da história do Brasil do século XIX

Após solucionar o entrave com o Comandante das Armas, o General Avilez, e acalmar os ânimos dos moradores da cidade do Rio de Janeiro, D. Pedro voltou a sua atenção à província mais populosa e rica do Brasil naquela época: a de Minas Gerais. Desde o retorno de seu pai, tornaram-se cada vez mais fortes os rumores de que os mineiros estavam se organizando politicamente e estabelecendo um corpo de exército, a fim de se separarem do Brasil. Como sabemos, visto os movimentos ilustrados ocorridos na província mineira durante a segunda metade do século XVIII, tal finalidade não era propriamente algo inédito. 

Um outro fator contribuía para a disposição dos mineiros a favor da separação: o Príncipe Regente era pouco conhecido nas demais províncias do Brasil, pois mal teria saído da corte desde a sua chegada em 1808. Na sua História da Independência do Brasil, Francisco Adolfo Varnhagen comentou que “a vida de 13 anos, apertado entre as montanhas do Rio de Janeiro, donde apenas saíra a espairecer, de quando em quando, até aos campos da fazenda de Santa Cruz, não podia ter impressionado bastante o seu espírito com a grandeza e vastidão do Império virgem, que a Providência lhe reservava”. Junto dessa falta de conhecimento, D. Pedro também era considerado muito novo – tinha apenas 23 anos – e com pouca experiência para comandar o Brasil.

De fato, até os primeiros três meses de 1822, podemos dizer que a “causa” do Brasil era mais um movimento dos moradores da antiga sede da coroa portuguesa, em parceria com alguns homens das letras da província de São Paulo, estando longe, pois, de ser algo uniforme em todo o território. A esse propósito, as diversas batalhas entre os adeptos e os contrários da emancipação política, ocorridas nas províncias da Bahia, do Pará e de Pernambuco, entre os anos de 1822 e 1823, demonstram o quanto tal movimento não era homogêneo.

Assim, alarmado com as notícias de rebeliões nas cidades mineiras e com o intuito de se fazer conhecido e conhecer o seu próprio povo, o Príncipe Regente saiu em uma expedição pela província de Minas Gerais no dia 25 de março de 1822. Ao todo, D. Pedro percorreu 160 localidades (fazendas, arrais, vilas e cidades) e, apesar das dificuldades do trajeto, ficava cada vez mais fascinado com o que encontrava. A cada localidade que adentrava, era recebido com grande festividade e acolhimento, o que lhe causava imensa comoção.

Com a viagem a Minas, o referido Varnhagen alegou que se havia “operado no ânimo do Príncipe uma transformação radical. Tinha-se completamente naturalizado brasileiro, e de tal começou a ufanar-se perante seu próprio pai”. Daí, não foi nenhuma surpresa quando D. Pedro aceitou o título de “Defensor Perpétuo do Brasil”, em 13 de maio de 1822, oferecido pelo Senado da cidade do Rio de Janeiro, e pôs-se à disposição dos “brasileiros”.

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