No começo do mês, houve a terceira edição do evento “Brasil Profundo: a redescoberta de quem somos”, realizado pelo Instituto Conservador Liberal; desta vez, em parceria com o Movimento Brasil Conservador. Depois de Várzea Grande (MT) e Londrina (PR), o evento ocorreu em Camaquã (RS), onde tive a honra de ser um dos palestrantes.
Para mim, trata-se de uma das discussões mais relevantes a acontecer no Brasil em muito tempo. Todavia, infelizmente, essa não vem recebendo a devida importância.
Eu poderia falar sobre o evento como um todo, mas como fui participante ativo, publico agora a minha apresentação. Abaixo, deixo os vídeos cobrindo a integralidade do evento.
INTRODUÇÃO
Basicamente, busquei falar sobre 4 pontos:
1. O ‘Brasil Profundo’;
2. Os seus cinco pilares (“Deus, Pátria, Família, Segurança, e Liberdade”);
3. O ‘senso comum brasileiro’ que os fundamenta; e
4. A ‘brasilidade’ – a base da comunidade política brasileira.
1. RESUMO DA APRESENTAÇÃO
Em resumo, o que falei foi o seguinte:
I. O Brasil passa por uma séria crise constitucional.
II. A cada crise, a pergunta que fazemos é: “que Brasil queremos ser?”
III. Esta pergunta é a causa da crise, mas seguimos cometendo o mesmo erro.
IV. A pergunta certa é “quem somos?”, pois só podemos almejar sermos a melhor versão de nós mesmos.
V. Para sair da crise, é preciso auto-aceitação; maturidade.
VI. Para sair da crise, devemos tentar reencontrar quem somos; redescobrir o ‘Brasil Profundo’ – entendendo por ‘Brasil Profundo’ uma expressão simbólica.
VII. A redescoberta do ‘Brasil Profundo’ é um constante exercício de tentativa e erro; sendo o evento um exemplo disso.
VIII. O ‘Brasil Profundo’ é um símbolo da essência, da auto-compreensão, dos valores, e da história do Brasil.
IX. O caminho para encontrar o ‘Brasil Profundo’ passa pela experiência de ‘ser brasileiro’.
X. ‘Ser brasileiro’ é aquilo que todos nós no Brasil temos em comum.
XI. O ‘Brasil Profundo’ existe dentro de cada um de nós brasileiros – sendo símbolo do ‘ser brasileiro’; do ‘Brasil-em-Nós’.
XII. O ‘Brasil Profundo’ é um símbolo do ‘senso comum brasileiro’; da ‘brasilidade’; daquilo que faz do Brasil, Brasil.
XIII. O ‘senso comum brasileiro’ é [a] comunitarista, [b] anti-dogmático, [c] ecumênico, [d] tolerante, [e] conservador, e [f] liberal.
XIV. A ‘brasilidade’ a tudo abraça e une sem vergonha e sem formalidades.
XV. É preciso aceitar o ‘Brasil Profundo’ como ele é, sem medo; pois o ‘Brasil Profundo’ sempre se impõe a qualquer sonho.
XVI. O ‘Brasil Profundo’ não tem lado (não é de Direita); estando acima da política de disputa do poder.
XVII. Precisamos estabelecer instituições que representem e promovam positivamente o espírito da ‘brasilidade’; no auxílio a nós brasileiros na tarefa de fazermos do Brasil e de nós mesmos os melhores possíveis.
2. OS CINCO PILARES DO BRASIL PROFUNDO
a. DEUS: porque o Estado é laico, e há coisas mais importantes que a política;
b. PÁTRIA: porque política se faz entre iguais e para o bem comum;
c. FAMÍLIA: porque é quem nos faz indivíduos e nos ensina comunidade;
d. SEGURANÇA: porque não há justiça nem aprimoramento duradouro no caos;
e. LIBERDADE: porque é dever de cada um fazer o bem.
Todos esses pilares se encontram manifestos no ‘senso comum brasileiro’ e são a base da ‘brasilidade’.
3. O SENSO COMUM BRASILEIRO
Estudo da Fundação Perseu Abramo publicado em março de 2017 trouxe à tona o senso comum brasileiro. O trabalho revelou que tal senso comum brasileiro tem uma clara noção de hierarquia de bens e valores.
O estudo traz onze pontos que seriam partes essenciais do senso comum brasileiro:
(I) fé; [A salvação é individual; não é política; e é algo que compete a Deus. A política é importante; mas não, o mais importante. Política é suja e corrupta; é preciso que as pessoas sejam melhores para lidar com as tentações do poder. Religião é o que dá a direção para sermos pessoas melhores. Contudo, o estado deve ser laico para proteção da Igreja e dos fiéis.]
(II) território; [O lugar onde se nasce e se cresce é parte de quem somos. “De onde sou?” importa! Mesmo que a pessoa se mude, ela tem raízes.]
(III) bem comum; [A idéia de luta de classes é rejeitada. As classes sociais devem ser parceiras em torno dos interesses comuns.]
(IV) família; [Problemas sociais seriam decorrentes de problemas pessoais causados por lares desestruturados; um problema de formação. A pergunta fundamental é “quem sou?”. A família é onde aprendemos isso desde bebês. Se não há uma estrutura, as chances são de aprender errado; e corrigir depois é mais difícil.]
(V) pessoalidade; [A dignidade da pessoa humana é manifestada num “desejo de ser alguém”. Há uma rejeição ao identitarismo; à homogeneização, a ser tratado como “massa”. Porém, essas pessoas já são “alguém”; se desejam ser algo que já são, pode ser sinal de problema na nossa comunidade.]
(VI) ascensão social; [Há um desejo de melhora; de aprimoramento. Há um sentido de direção a paradigmas de excelência promovidos pelas elites sociais.]
(VII) perpetuação e moderação; [Por exemplo: educação e amizade (bens que ninguém tira) vêm antes de patrimônio (bem durável), que vem antes de consumo.]
(VIII) desconfiança de autoridade; [Só a posição de autoridade é insuficiente; é preciso demonstrar e convencer; portar-se como autoridade.]
(IX) tolerância; [Todo mundo tem defeitos; se algo faz bem, tudo bem; se torna a pessoa melhor e feliz, ninguém tem nada com isso. Há um dever de respeito mútuo. O que é secundário é irrelevante.]
(X) paz e ordem públicos. [Prefere-se a estabilidade ruim ao caos. Afinal, uma ascensão duradoura só é possível com segurança.]
4. BRASILIDADE
Quem tem senso comum, sabe; mas não sabe que sabe. Quem tem o senso comum brasileiro vive a brasilidade. Agora, não adianta apelar ao senso comum para quem não o tem. Estamos em crise! É preciso resgatá-lo. Para resgatá-lo, é preciso entendê-lo. Infelizmente, não tive tempo de entrar na questão da brasilidade. Contudo, publico aqui os pontos que gostaria de ter feito.
A cultura do Brasil é multicultural. É preciso olhar o Brasil sem medo da resposta; sem vergonha. O Brasil somos assim. No Brasil, o multiculturalismo funciona. Não é perfeito, obviamente, mas funciona melhor que em qualquer outro lugar. O Brasil é multicultural e liberal; mas também é conservador e cristão. Isso é fundamental.
Quando há direção, ser multicultural não é problema. É preciso ser um “e pluribus unum” (“de muitos, um”). Na Europa, o multiculturalismo não funciona, pois é um ‘múlti-cúlti de cada um no seu quadrado’; algo bem diferente do nosso. Trata-se de multiculturalismo sem o “unum”; que quer fazer ‘de muitos, muitos’. Esse é o problema.
Nos EUA, o multiculturalismo até funciona. Eles são, e se reconhecem como, um “e pluribus unum”. Lá, há integração. Contudo, essa é incompleta. Por exemplo, a ‘pluralidade una’ deles é comumente demarcada por hífens. Eles se referem a ítalo-americano; a cino-americano; a afro-americano; etc.
No Brasil, a diferença é que não há hífens. Aliás, sequer há alusão à brasilidade. Por aqui, nos referimos como ‘gringo’, ‘china’, ‘nêgo’, etc. No Brasil, o elemento comum não aparece, pois aqui não precisa. A ‘brasilidade’ abraça tudo sem hífens e sem formalidades. Se está aqui, é brasileiro. Apropriação cultural é parte do que somos.
A razão para essa característica nossa é a brasilidade ter como fundamento ‘abertura ao sexo’. Sexo é a base do nosso “e pluribus unum”. Sexo é o alicerce da nossa amizade política e a forma da nossa cultura comum.
Sexo é mais que mera relação física. Inclui relações intelectuais e espirituais. Sexo é cultura! Sexo é cultura, pois encontramos Deus no sexo – ato de pro-criação, de participação na Criação! Encontra-se Deus também nos inebriantes pequenos prazeres da carne. Afinal, Deus é Verdade e “in vino veritas” (“a verdade está no vinho”).
É por isso que nós brasileiro conseguimos transformar tudo em sexo. E, convenhamos, sexo é bom. Essa é chave. O senso comum brasileiro aponta para um ‘desapego’, de não se levar a vida tão a sério. Isso permite que a gente não se agarre a coisas, e se entregue o outro, e pegue do outro. Isso é sexo.
No sexo, despimo-nos de nossas coisas, apresentamo-nos substancialmente ao outro, e oferecemo-nos integralmente a ele. Sexo é um ato mútuo de entrega e geração; em que ‘dois’ se tornam ‘um’ e eventualmente formam um ‘terceiro’. A identidade dos dois agentes, porém, é preservada. É assim, através desse tipo de relação que o Brasil, de muitos, tornamo-nos ‘um’.
Historicamente culturas diversas interagem umas com as outras no Brasil como numa relação sexual. Por diversas razões, portugueses, índios, e africanos encontraram-se juntos no Brasil, e os dois principais elementos comuns entre eles eram o sexo e o Divino. A miscigenação e o multiculturalismo brasileiros começaram com os “acasalamentos” entre esses povos. Quem chegou depois entrou na festa.
O multiculturalismo falha onde ninguém quer se despir de nada. É multiculturalismo sem acasalamento: sem amor; sem amizade; sem paciência; sem um fim comum. É um multiculturalismo sem sexo nem Deus! Não há comunidade!
C.S. Lewis escreveu que o diabo pode até tirar proveito do prazer, mas nesse jogo é Deus quem está em casa! O multiculturalismo precisa ser entendido e vivido como ‘cultura’ – i.e., como culto a Deus ou, em linguagem secular, como um caminho ao Bem. Precisa ser entendido, como no Brasil – o ‘Império dos Pequenos Prazeres’ do mundo.
ENCERRAMENTO
Deixo este texto a cargo dos leitores. O vídeo do evento pode ser visto abaixo.
Aguardo os comentários a respeito. A busca pelo Brasil Profundo nunca acaba.
Vídeo 1:
https://www.youtube.com/watch?v=anmoTslDwwI
Vídeo 2:
https://www.youtube.com/watch?v=ywpzihtTsH8
Vídeo 3 (Minha apresentação):
https://www.youtube.com/watch?v=ywpzihtTsH8&t=11938s